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De tabuleiro a parceira com o Japão: a milionária aposta do Ceará em jogos

Setor conta com mais de 60 empresas, algumas em fases de maturação, outras já prontas para ir ao mercado

Arison Uchôa, responsável pelo desenvolvimento econômico da cultura do Ceará: "Temos um crescimento acima da média nacional, não só na quantidade de empresas, mas também em estruturação, governança e desenvolvimento econômico"

Arison Uchôa, responsável pelo desenvolvimento econômico da cultura do Ceará: "Temos um crescimento acima da média nacional, não só na quantidade de empresas, mas também em estruturação, governança e desenvolvimento econômico"

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de outubro de 2024 às 17h26.

FORTALEZA, CEARÁ — Assim que se entra no Siará Tech Summit, um evento de inovação para 18.000 pessoas em Fortaleza, capital do Ceará, o primeiro estande já traduz uma das apostas do estado em tecnologia. Logo na entrada, há uma área grande, que dobra a esquina, dedicada aos desenvolvedores de jogos — tanto eletrônicos quanto analógicos.

O setor de jogos digitais no Ceará cresceu exponencialmente nos últimos anos. O estado, que antes movimentava pouco mais de um milhão de reais, hoje fatura cerca de 12 milhões de reais no setor, com uma projeção de crescimento contínuo.

Um dos responsáveis por essa virada é Arison Uchôa, presidente da Câmara Setorial do Desenvolvimento Econômico da Cultura do Ceará. Ele foi um dos presidentes da Associação Cearense de Desenvolvedores de Jogos e vem trabalhando, nos últimos seis anos, no desenvolvimento do setor.

“O cenário de jogos no Ceará começou a se profissionalizar de fato na metade da década de 2010 e hoje se destaca como o maior hub de empresas atuantes no norte e nordeste do Brasil”, diz. "Em 2018, formalizamos a Ascend, a Associação Cearense de Desenvolvedores de Jogos, e desde então o setor passou por um amadurecimento incrível."

De lá para cá, o Ceará não apenas desenvolveu um ecossistema sólido, mas também se tornou referência para outros estados, ajudando na criação de políticas públicas e estruturando o setor de maneira organizada.

A estruturação do setor de jogos no Ceará

Para crescer no setor, o plano foi quase um game em si. O Ceará criou um plano bem estruturado de desenvolvimento. O documento inclui demandas para políticas públicas como a criação de hubs de inovação para atrair investimentos internacionais, a implementação de fundos de crédito e o fortalecimento da qualificação da mão de obra local.

"Temos um crescimento acima da média nacional, não só na quantidade de empresas, mas também em estruturação, governança e desenvolvimento econômico", afirma Uchôa. "Esse planejamento estratégico foi fundamental para impulsionar o desenvolvimento do setor e servir de exemplo para outras regiões, como o Rio de Janeiro."

Entre as conquistas recentes, destaca-se a criação de hubs de inovação e o fortalecimento de políticas públicas que estimulam a atração de investimentos internacionais e fomentam a produção local.

Outro personagem importante para o crescimento do setor, que no mundo tem um valor de mercado de 200 bilhões de dólares, foi o Sebrae Ceará. A instituição criou o Sebrae Developers, um programa para qualificar empreendedores e jovens talentos no setor de jogos.

Desde sua primeira edição, em 2019, o Sebrae Developers já impactou mais de 1.500 desenvolvedores e ajudou a criar estúdios que hoje são referência no estado. "Esse programa foi fundamental para identificar e formar novos talentos que, muitas vezes, não tinham acesso ao mercado de jogos", diz Uchôa.

O que está sendo desenvolvido no Ceará

Uma das histórias de maior sucesso vem do jogo Road Out, desenvolvido pela empresa cearense Rastrolabs. O jogo recebeu financiamento de uma publicadora japonesa chamada Dengen, após uma missão de negócios organizada pela Ascend e Sebrae.

"Levamos 16 empresas para a Gamescom Latam, em São Paulo, e conseguimos fechar 9 milhões de reais em negócios", diz Uchôa.

O Road Out está programado para ser lançado no Natal de 2024 e exemplifica o potencial internacional dos jogos cearenses.

Esse potencial internacional, aliás, é a chave para as empresas do setor. Normalmente, os jogos são desenvolvidos para mercados externos, mais estruturados no setor. "As exportações representam a maior parte dos nossos negócios", afirma Uchôa.

Outro exemplo de sucesso é o jogo MagiCards, desenvolvido pelo estúdio 85 Labs. A empresa foi a única representante brasileira na Gamescom Ásia, em Singapura, e conseguiu financiamento de uma das maiores aceleradoras de jogos do mundo, a GTR.

Mas não é só do universo digital que o setor de jogos se desenvolve no Ceará. Há também casos de tabuleiros tradicionais para desenvolver a educação em escolas e de projetos impressos em máquinas 3D para estimular a criatividade das crianças.

No futuro, os jovens liderando o setor

O desenvolvimento de novos talentos é essencial para a continuidade desse crescimento. Desde 2019, o programa Sebrae Developers já qualificou mais de 1.500 jovens desenvolvedores no Ceará, incentivando o crescimento de novos estúdios e o surgimento de startups locais.

O setor também atrai jovens por seu apelo cultural e tecnológico.

"Muitos jovens se interessam por trabalhar com jogos, seja pelo sonho de criar grandes projetos ou por verem nisso uma oportunidade de negócio. Trabalhamos para mostrar que o setor tem um potencial real e é muito mais que um hobby", diz Uchôa.

A expectativa é que o setor continue crescendo, impulsionado por projetos de internacionalização e pela criação de hubs tecnológicos que vão não apenas desenvolver jogos, mas também atrair investimentos para áreas como educação e saúde, onde a gamificação já está sendo aplicada com sucesso.

*A reportagem viajou a convite do Sebrae Nacional

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