Fábrica da BRF: x (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 06h20.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2019 às 11h23.
A semana termina com a fabricante de alimentos BRF precisando lidar com mais uma frente de desafios. Cerca de 165 toneladas de frango in natura que corriam risco de contaminação pela bactéria salmonela foram recolhidos pela companhia, conforme anúncio feito na quarta-feira. A decisão voluntária mostra que a BRF aprendeu a gerenciar crises fez com que o mercado parasse de punir as ações da companhia, um dia após a divulgação do recall.
Ontem, os papéis fecharam em alta de 1,19%, depois de cair 3,20% no pregão de quarta-feira, 13, em função da notícia. “Estamos falando do recolhimento de apenas 0,1% da produção, o que não é algo muito relevante. No entanto, o fato chamou a atenção, porque a empresa tem enfrentado uma trajetória de dificuldades”, afirma Betina Roxo, analista de alimentos e bebidas da XP Investimentos.
A principal delas é a conquista de novos mercados no exterior para compensar a perda de demanda de parceiros tradicionais. É o caso da Arábia Saudita que tem planos de se tornar autossuficiente no futuro – a expectativa é que até 2030 seja responsável por 60% do abastecimento doméstico, sendo que atualmente não passa de 40%. Aproveitando-se de seu poder de barganha, o país anunciou no ano passado que vai comprar frango somente de fábricas que não aplicam choque em animais antes do abate (a prática é usada para facilitar o processo). As plantas da BRF prontamente mudaram a sua técnica e abandonaram o procedimento.
As incertezas vêm de outras frentes. “A Europa se mantém relativamente fechada para alguns produtos do agronegócio brasileiro”, diz Betina. Esse movimento começou com a Operação Carne Fraca no ano passado. Mais recentemente, a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (chamado Brexit) tornou a venda de ativos da BRF no continente mais difícil, segundo o presidente do conselho da BRF, Pedro Parente, durante uma call com analistas. Mesmo assim, a companhia conseguiu vender por cerca de 1,25 bilhão de reais plantas na Europa e na Tailândia. Além dessas unidades, fazem parte do plano de desinvestimento da BRF negócios na Argentina e uma fábrica de hambúrguer no Brasil que, ao todo, somam cerca de 4,1 bilhões de reais. O valor, apesar de expressivo, representa um revés para a controladora da Sadia e Perdigão que previa embolsar 5 bilhões de reais.
Mesmo assim, a razão entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado deve passar de algo em torno de 5 vezes no quarto trimestre de 2018 para 3,65 vezes no mesmo período de 2019, de acordo com relatório da Suno. A BRF reiterou em fato relevante que tenta alongar seu endividamento, principalmente graças ao caixa robusto que detém. A liquidez da gigante das carnes é estimada em aproximadamente 7 bilhões de reais em dezembro de 2018.
Se a economia brasileira se recuperar, há expectativa de que aumente o consumo de produtos processados que, em geral, têm margem maior. “Temos posição neutra sobre as ações. Vemos que os papéis negociam a 10 vezes o valor da empresa (EV) / Ebitda e, para nós, o valor justo seria de 8 vezes. Ou seja, está bem precificado”, diz Betina. O balanço da BRF será divulgado no dia 28 de fevereiro.