Pérsio Arida, do BTG Pactual: nível de conforto veio depois que o BTG Pactual acertou acesso a uma linha de até R$ 6 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) (Flavio Santana/Biofoto/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2015 às 16h53.
São Paulo - O BTG Pactual está confortável com sua liquidez, mas vai continuar a buscar novas vendas de ativos, afirmou o presidente do conselho do grupo financeiro, Pérsio Arida, em carta enviada a clientes do grupo nesta sexta-feira e obtida pela Reuters.
O nível de conforto veio depois que o BTG Pactual acertou acesso a uma linha de até 6 bilhões de reais do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que deu fôlego à instituição financeira que tem sofrido forte volume de resgates de clientes após a prisão de seu ex-presidente, André Esteves, na semana passada.
"Eu agora estou confortável com nossa posição de liquidez, mas vamos continuar olhando novas vendas de ativos nas próximas semanas", disse Arida no documento, acrescentando que a linha do FGC foi obtida como "medida de prudência".
A linha do FGC, que é financiada por uma porcentagem dos depósitos dos próprios bancos, dá ao BTG Pactual algum fôlego para atender os 15 bilhões de reais em compromissos até o final do ano, enquanto as receitas das vendas de ativos entram no caixa do banco. BTG Pactual tinha 40 bilhões de reais em recursos no fim de setembro.
O grupo dos sete principais sócios do BTG Pactual -- Marcelo Kalim, Roberto Sallouti, Pérsio Arida, Antonio Carlos "Totó" Porto, James de Oliveira, Renato dos Santos e Guilherme Paes -- que assumiu no lugar de Esteves, está negociando ceder carteiras de crédito a outros bancos do país, além de outros ativos, com participação em empresas, para levantar recursos e fortalecer a liquidez.
Com as dívidas de longo prazo e o patrimônio cobrindo apenas 23 por cento das necessidades de liquidez do BTG Pactual, os recursos do FGC lhe dão mais acesso a recursos de longo prazo.
"A lógica por trás dessa linha de crédito é ajudar o BTG Pactual a se estabilizar: isso não deve ser visto como um resgate", disse Caetano Vasconcellos, diretor jurídico do FGC.
Segundo duas fontes com conhecimento direto das negociações com o FGC, o BTG Pactual ofereceu em troca 8 bilhões de reais em ativos como garantia. O FGC é controlado pelos três maiores bancos privados do país: Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil.
Vasconcellos disse que o BTG Pactual procurou o FGC na terça-feira à noite. O objetivo do banco é pagar o empréstimo o mais rápido possível, embora as partes acordaram mantê-lo disponível pelo período equivalente ao prazo de vencimento das garantias envolvidas, disseram as fontes.
A unit do BTG Pactual caía cerxa de 4 por cento nesta sexta-feira. Os papéis caíram 34 por cento desde a prisão de Esteves. Os fundos de investimentos do BTG Pactual tiveram resgates líquidos de 9,15 bilhões de reais entre 25 e 27 de novembro, segundo dados do Sistema de Informações Anbima.
O anúncio da linha de crédito do FGC aconteceu após o BTG Pactual abrir negociações com três bancos globais para vender o banco suíço BSI, disseram duas fontes nesta sexta-feira. Um dos bancos, que as fontes se recusaram a detalhar, é italiano e outro, suíço.
A decisão de vender o BSI, cuja compra foi concluída há apenas três meses, faz parte da estratégia para reduzir o tamanho do banco, disse a fonte, que pediu anonimato já que o processo é privado. Porta-vozes do BSI e do BTG Pactual não quiseram comentar.
Dois bancos chineses não identificados também mostraram interesse no BSI, embora as autoridades reguladoras suíças não se sintam confortáveis com eles, disseram as fontes. O regulador do setor financeiro suíço não comentou de mediato.
As fontes não detalharam o tamanho da transação potencial, embora o BTG Pactual possa demandar pelo BSI o equivalente a entre 1,6 vez e 1,8 vez o patrimônio. O BTG Pactual pagou cerca de 1,3 bilhão de dólares à italiana Assicurazioni Generali pelo BSI.
Ray Soudah, presidente da consultoria suíça Millenium, disse que a falta de integração com o resto do BTG Pactual tornaria mais fácil a venda do BSI.
Esteves está em prisão preventiva após promotores o acusarem de trabalhar com o senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado, para obstruir investigações da Operação Lava Jato. Ambos negaram as acusações. O BTG Pactual também informou nesta sexta-feira que está consultando escritórios internacionais de advocacia para conduzir uma investigação em relação a vários temas no contexto da prisão de Esteves. Na carta, Arida afirmou que Mark Maletz, um dos diretores independentes do BTG Pactual, vai liderar a comissão de investigação do banco.
A instituição também informou que o Banco Central aprovou mudança de controle do BTG Pactual. O grupo de sete principais sócios assumiu o controle na segunda-feira.