Luis Lacalle Pou (Alan Santos/PR/Flickr)
Agência de Notícias
Publicado em 8 de julho de 2024 às 13h03.
Com os olhos voltados novamente para a China e buscando modernizar um bloco que o presidente Luis Lacalle Pou classificou como protecionista em mais de uma ocasião, o Uruguai assume nesta segunda-feira a presidência pro tempore do Mercosul.
Desde que assumiu o governo uruguaio, Lacalle Pou tem insistido que o bloco regional deve se abrir para o mundo.
Faltando pouco mais de um mês para a cúpula do bloco, o ministro das Relações Exteriores uruguaio, Omar Paganini, antecipou as intenções de seu país: "Nossa principal bandeira é a modernização do Mercosul".
Além disso, mencionou a importância de revitalizar o diálogo com a China, algo que enfatizou neste domingo durante seu discurso na 64ª Reunião do Conselho do Mercado Comum.
"No que diz respeito à relação entre Mercosul e China, e depois de seis anos desde a última reunião, o Uruguai buscará durante sua presidência pro tempore realizar a VII Reunião do Mecanismo de Diálogo", declarou Paganini.
O ministro também explicou a maneira como o Uruguai abordará seu trabalho e observou que, como um objetivo realista no nível de integração econômica, o bloco deve ser aperfeiçoado como uma região de livre comércio.
Paganini destacou que uma segunda questão estratégica é melhorar a infraestrutura de logística, transporte e conectividade, bem como aprofundar a agenda externa.
Em entrevista à Agência EFE, Ignacio Bartesaghi, doutor em Relações Internacionais, destacou que a reunião semestral para a entrega da presidência rotativa marcará o início de um semestre no qual o Uruguai buscará flexibilizar o Mercosul.
Nesse sentido, argumentou que o país buscará, por meio de suas propostas, permitir "negociações diferenciadas ou em ritmos diferentes".
No entanto, o também diretor do Instituto de Negócios Internacionais da Universidade Católica do Uruguai afirmou que o país terá de analisar a forma como levanta essa possibilidade, depois que o Brasil anunciou que estaria disposto a avançar com a China, desde que seja em conjunto.
"É um tema incômodo para o Uruguai, porque se o Brasil lhe diz para ir junto, por que você diria não? Mas o problema é se é possível ir junto", questionou Bartesaghi, que acredita que isso também pode ser uma estratégia para adiar as negociações.
Além do que acontece com a China, o especialista disse que o bloco também enfrentará desafios políticos.
"Um Mercosul sem diálogo entre Argentina e Brasil não é um Mercosul (...) Como você vai discutir questões importantes do Mercosul na ausência de diálogo entre os dois? O desafio mais importante para um bloco que já tem muitas dificuldades é ter um diálogo entre Argentina e Brasil", avaliou.
Bartesaghi afirmou que outros desafios incluem a entrada da Bolívia em um bloco marcado pela instabilidade e a possível reentrada da Venezuela.
"Aí temos realmente uma enorme complexidade de questões políticas", concluiu.
Em entrevista à EFE, o economista Nicolás Cichevski, gerente do setor de Análise Econômica da CPA Ferrere, afirmou que o Uruguai deve buscar uma alternativa para poder avançar unilateralmente com outros países.
"Deveria ser possível flexibilizar um pouco o acesso a novos acordos necessários para o Uruguai", disse o especialista, que também argumenta que o país sul-americano precisa se abrir para o mundo.
"O Uruguai precisa se abrir para o mundo, porque a escala do mercado uruguaio é muito pequena para a rede de negócios e para os trabalhadores. É muito difícil crescer apenas com o mercado interno. Talvez isso seja algo que Argentina ou Brasil possam fazer, mas o Uruguai, por razões de escala, obviamente não pode", declarou Cichevski.
Finalmente, quando perguntado sobre a situação econômica na região e particularmente no Uruguai no momento, o economista enfatizou que "nos últimos meses, talvez tenhamos visto algumas distorções nas economias da América do Sul, obviamente com muitas heterogeneidades".
Além disso, afirmou que "está claro que a economia uruguaia na região é uma economia muito mais estável e está em uma situação muito diferente de Argentina e Brasil".
Dessa forma, o Uruguai ocupará a presidência pro tempore do Mercosul em um semestre em que o país será marcado por eleições nacionais, que serão realizadas em outubro, e por um eventual segundo turno em novembro, onde os cidadãos elegerão o presidente que substituirá Lacalle Pou em março de 2025.