Soldado turco vigia a fronteira com a Síria nos arredores da cidade turca de Suruc: o PKK ataca sobretudo delegacias, soldados e comboios militares em um novo ciclo de violência desencadeado com o atentado suicida atribuído ao grupo EI (Murad Sezer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2015 às 14h48.
A guerrilha curda da Turquia prosseguiu nesta sexta-feira, pelo 10º dia consecutivo, com seus ataques contra as forças de ordem, enquanto o poder intensificava sua ofensiva judicial contra os líderes políticos curdos, antes de prováveis eleições legislativas antecipadas.
Dois policiais morreram na manhã desta sexta-feira no ataque a uma delegacia da cidade de Pozanti, na província de Adana (sul), aumentando a 13 os mortos em dez dias atribuídos a ataques do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
O PKK ataca sobretudo delegacias, soldados e comboios militares em um novo ciclo de violência desencadeado com o atentado suicida atribuído ao grupo Estado Islâmico, ocorrido em Suruç, onde 32 jovens, em sua maioria pró-curdos, perderam a vida.
A guerrilha concentrou até agora seus ataques nas províncias do sudeste de Anatolia, perto da fronteira com o Iraque, em cujo norte se encontra o Estado-Maior do PKK. Mas o ataque desta sexta-feira ocorreu em uma zona frequentada por turistas.
Em represália, o exército turco realizou dezenas de bombardeios aéreos contra as bases rebeldes nas montanhas iraquianas, colocando em segundo plano a luta contra o terrorismo representada pelo EI.
Paralelamente, o poder islamita-conservador se lançou a uma ofensiva judicial contra os líderes do partido pró-curdo HDP, considerado o grande vencedor das eleições legislativas de 7 de junho.
A procuradoria turca abriu nesta quinta-feira uma investigação contra seu carismático líder Selahattin Demirtas, por sua suposta responsabilidade na violência durante os protestos de 2014. Demirtas se expõe a uma pena de até 24 anos de prisão, segundo a agência oficial Anatolia.
Poderes maléficos
Orador de talento, Demirtas se converteu em inimigo do presidente turco Recep Tayip Erdogan, que o acusa de apoiar os terroristas do PKK.
Nesta sexta-feira foi a vez da copresidente do partido, Figen Yuksekdag, que começou a ser investigada por "propaganda a favor de um grupo terrorista".
Yuksekdag foi criticada por suas declarações recentes a favor dos rebeldes curdos na Síria, considerados por Ancara aliados do PKK, embora estes mesmos combatentes curdos tenham se convertido no melhor e mais confiável apoio em terra da coalizão internacional liderada por Washington contra o EI.
Para os dirigentes do HDP, o único objetivo de Erdogan é se vingar de seu resultado eleitoral nas legislativas de 7 de junho. Com 80 deputados e 13% dos votos, o partido pró-curdo privou o poder islamita-conservador da maioria absoluta no Parlamento pela primeira vez desde 2002.
Demirtas acusa o presidente turco de desestabilizar o país com a esperança de favorecer o AKP em caso de eleições antecipadas.
Que parecem cada dia mais prováveis, depois que Erdogan mostrou nesta sexta-feira seu ceticismo sobre o êxito das discussões entre o AKP e os sociais-democratas do partido CHP para a formação de um novo governo.
"Caso contrário, será preciso voltar imediatamente ao povo para sair desta situação", afirmou segundo a imprensa turca que o acompanha em uma viagem oficial à Indonésia.
Durante sua visita a Jacarta, Erdogan rejeitou novamente as acusações de que seu governo atua em conivência com o EI.
"Poderes maléficos realizam uma campanha de desinformação contra a Turquia", afirmou em alusão aparente à rebelião curda. "Mas a Turquia jamais esteve envolvida em um cenário deste tipo".