Físico iraniano Shahram Amiri "não tenho nada a ver com Natanz e Fordo (instalações de enriquecimento de urânio)" (Atta Kenare/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Teerã - O físico iraniano Shahram Amiri, que, segundo Teerã, foi sequestrado há 14 meses pelos serviços secretos americanos, afirmou, pouco depois de chegar à capital iraniana nesta quinta-feira, que não trabalha para o setor nuclear.
"Não tenho nada a ver com Natanz e Fordo (duas instalações de enriquecimento de urânio). Foi uma manobra do governo americano para fazer pressão sobre o Irã", declarou Amiri no aeroporto de Teerã, onde foi recebido pela esposa e o vice-ministro das Relações Exteriores, Hassan Ghashghavi.
"Não fiz nenhuma pesquisa no campo nuclear. Sou um simples pesquisador que trabalha numa universidade aberta a todos e onde não há nenhum segredo", afirmou.
Shahram Amiri desapareceu em junho de 2009 na Arábia Saudita, para onde havia viajado para uma peregrinação muçulmana. Teerã afirma que ele foi sequestrado pelos Estados Unidos com a ajuda dos serviços de inteligência sauditas.
Na terça, Amiri se refugiou no escritório de interesses de seu país na embaixada do Paquistão, e disse ao canal de televisão iraniano Press TV que, durante os últimos 14 meses, foi "submetido a uma pressão psicológica grande e vigiado por homens armados".
Ao ser informado de que o Amiri havia se refugiado na representação iraniana, o departamento de Estado americano declarou que o cientista iraniano se encontra nos Estados Unidos por vontade própria e é livre para partir quando quiser.
"Estou realmente surpreso com as declarações da secretária de Estado americana (Hillary Clinton), que afirmou que eu estava livre e que fui livremente para lá. Não estava livre. Estava custodiado por homens armados dos serviços secretos", insistiu.
"Nos dois primeiros meses, fui submetido às piores torturas mentais. Também ameaçaram minha família".
O vice-ministro das Relações Exteriores iraniano, Hassan Ghashghavi, presente no aeroporto, declarou, por sua parte, que a libertação de Shahram Amiri não estava vinculada a qualquer troca com os três americanos detidos no Irã há mais de um ano.
O cientista, no entanto, não indicou o lugar de sua detenção nem como conseguiu chegar à embaixada do Paquistão, que abriga a seção de interesses iranianos desde a ruptura das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a República Islâmica há 30 anos.
No final de março, o canal americano ABC afirmou que Amiri, apresentado como um físico nuclear, havia desertado e estava colaborando com a CIA.
Segundo a imprensa iraniana, Amiri é um "pesquisador de radioisótopos médicos da Universidade Malek Ashtar", subordinada à Guarda da Revolução, o exército ideológico do regime islâmico.
Em 7 de junho, a televisão estatal iraniana difundiu um vídeo no qual um homem que diz se chamar Amiri afirmava ter sido sequestrado pelos serviços secretos americanos e estar detido perto de Tucson (Arizona, sudoeste dos Estados Unidos).
Depois o Irã solicitou, por vias legais, informações sobre ele.
Os Estados Unidos sempre desmentiram ter sequestrado o físico e até então se negavam a esclarecer se ele se encontrava ou não em seu território.
No final de junho, outro vídeo divulgado pelos meios de comunicação iranianos mostrava o mesmo homem que dizia ter fugido e que se encontrava em Virgínia (leste).
O Irã convocou em 7 de julho o adido de negócios da embaixada suíça, que representa os interesses americanos em Teerã, para protestar contra o sequestro de Amiri pela CIA.
A chancelaria iraniana afirma ter entregado à embaixada suíça as provas do sequestro de Amiri pela CIA.
"Esperamos que o governo americano anuncie o mais rápido possível os resultados de sua investigação sobre este cidadão iraniano", afirmou Teerã, acrescentando que os Estados Unidos são responsáveis pela sorte de Amiri.