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Por que a Pensilvânia pode definir a eleição nos Estados Unidos em 2024?

Na disputa acirrada entre Donald Trump e Kamala Harris, quem vencer no estado amplia em muito a chance de uma vitória nacional

Kamala Harris e Donald Trump, que disputam a Presidência dos EUA (Brandon Bell/Rebecca Noble/AFP/Getty Images)

Kamala Harris e Donald Trump, que disputam a Presidência dos EUA (Brandon Bell/Rebecca Noble/AFP/Getty Images)

Publicado em 3 de novembro de 2024 às 15h00.

Em uma disputa eleitoral acirrada entre Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata, a Pensilvânia é um dos estados mais importantes para que um dos candidatos conquiste a presidência dos Estados Unidos na terça-feira, 5 de novembro.

No sistema eleitoral americano, a votação é indireta. Assim, o voto popular não escolhe o novo presidente, mas sim o Colégio Eleitoral. O candidato que vence em um estado conquista todos os votos dos delegados daquele estado no Colégio Eleitoral (a regra vale em 48 dos 50 estados). Assim, a disputa presidencial é feita estado a estado. E a Pensilvânia é responsável por 19 das 538 cadeiras em jogo.

Na maioria dos 50 estados, as pesquisas já indicam um vencedor claro. No entanto, em sete deles, chamados de estados pêndulos (Swing States, em inglês) e que são decisivos para o resultado, a disputa está em aberto, e será preciso vencer ali para conquistar a Presidência. A Pensilvânia é um deles.

Pensilvânia: de democrata a swing state e o desânimo econômico

Esse estado americano, junto com Michigan e Wisconsin, faz parte do chamado Blue Wall, ou “paredão azul”, uma sequência de estados próximos geograficamente e dominados por democratas durante décadas, antes de se tornarem swing states.

Durante décadas, a Pensilvânia registrou crescimento econômico puxado por grandes indústrias. No entanto, a partir dos anos 1970, as unidades de trabalho desses setores começaram a ir embora, atraídas por salários e impostos mais baixos em outros estados e países. Com isso, empregos bem remunerados também foram diminuindo, deixando muitos americanos sem opção.

Como mostrou a EXAME, Erie, na Pensilvânia, que é um condado decisivo para a eleição, é um bom exemplo dessa situação. Nos anos 1950, metade dos empregos da cidade era no setor industrial. Hoje, esse índice caiu para 15%. Uma das maiores perdas para a região foi a de uma fábrica de locomotivas de trem da General Electric, que se mudou para o Texas em 2019, depois de reduzir a produção, e os empregos, aos poucos.

A mudança de processos industriais, que demandam cada vez menos ação humana, também reduziu a oferta de salários bem pagos, o que gera uma situação curiosa no mercado de trabalho: embora o desemprego esteja baixo e haja muita oferta para vagas mais básicas, como atendente de lanchonete, há um desânimo econômico. 

Em 2016, Trump adotou um discurso muito voltado para esse público. “Fazer a América Grande de Novo”, afinal, incluía trazer de volta as indústrias. O presidente acabou eleito em 2016 no estado, quebrando uma sequência de derrotas que os republicanos amargavam desde 1992 na Pensilvânia. 

Depois de tomar posse, porém, Trump iniciou uma guerra comercial contra a China para favorecer produtos americanos, mas estudos mostraram que a tática não serviu para recuperar empregos. Mudar fábricas de país, afinal, é um processo custoso e demorado, que empresários levam anos para aprovar. Assim, em 2020, o estado escolheu o atual presidente dos EUA, o democrata Joe Biden.

Neste eleição ele volta a ser um dos estados considerados decisivos, com pesquisas mostrando a Pensilvânia em situação de empate técnico.

Os dois partidos reconhecem que este é um dos estados mais importantes e estão dedicando grandes investimentos para conquistá-lo. Os democratas estão destinando US$ 109 milhões em campanhas, enquanto os republicanos separaram US$ 102 milhões para o estado, segundo levantamento do site Axios.

Minorias decidem

Em debate, em setembro, Kamal citou a Pensilvânia ao questionar o republicano sobre a Guerra da Ucrânia e o que ele diria aos 800 mil poloneses-americanos, que vivem no estado, de que ele desistiria da Polônia por uma questão de favores ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A menção não foi à toa. Segundo os democratas, a Pensilvânia tem 800 mil cidadãos americanos de origem polonesa, como filhos ou netos de imigrantes.

Como o estado tem 8,6 milhões de eleitores registrados, uma comunidade de 800 mil representa quase 10% dos votantes no estado, com poder para definir uma disputa apertada. Nas últimas duas eleições, a vitória teve margem apertada. Biden venceu em 2020 com 1,17% de vantagem, e Trump conquistou o estado em 2016 com 0,72% a mais do que a rival, Hillary Clinton.

No estado pêndulo, há ainda a busca pelo eleitorado dos latinos, principalmente os porto-riquenhos. A estimativa é que cerca de 600 mil pessoas com origem na ilha vivam na Pensilvânia.

Nesta semana, a comunidade de descendentes de Porto Rico protestaram após o comediante Tony Hinchcliffe zombar da ilha, que faz parte dos EUA, durante um comício de Trump no último domingo, 27, em Nova York. Hinchcliffe falou: “Não sei se vocês sabem disso, mas neste momento existe literalmente uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano. Acho que se chama Porto Rico”.

Artistas como a estrela da música latina Bad Bunny criticaram a fala e tornaram público seu apoio a Kamala Harris. Outros músicos de origem porto-riquenha, como Residente, Don Omar, Jennifer Lopez, Ricky Martin e Luis Fonsi condenaram as "piadas" de Hinchcliffe e Trump por permiti-las. O que tensiona ainda mais a disputa acirrada.

Como funciona a eleição nos EUA?

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