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ONU cria base de dados com provas dos crimes da guerra na Síria

As provas foram mantidas por cidadãos sírios que arriscaram a vida, escondendo-as em caixotes de bananas ou debaixo de suas próprias roupas

Guerra na Síria: convictos de que a justiça chegará um dia, numerosos sírios arriscaram suas vidas (Omar Sanadiki/Reuters)

Guerra na Síria: convictos de que a justiça chegará um dia, numerosos sírios arriscaram suas vidas (Omar Sanadiki/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de março de 2017 às 16h07.

As provas dos crimes de guerra cometidos na Síria e mantidas por cidadãos que arriscaram a vida, escondendo-as em caixotes de bananas ou debaixo de suas próprias roupas, serão reunidas em uma base de dados da ONU.

Mais de 150 especialistas, diplomatas, representantes de ONGs e promotores nacionais, reuniram-se nesta quinta-feira (9) em Haia, Holanda, para discutir as condições de desenvolvimento dessa base de dados, uma primeira etapa antes de apresentar perante a justiça os responsáveis por essas atrocidades.

"Nesses seis últimos anos, a diplomacia internacional decepcionou a população síria", lamentou o ministro holandês de Relações Exteriores, Bert Koenders, organizador dessa reunião em Haia, sede de numerosas instâncias judiciais internacionais e uma série de especialistas jurídicos.

Porém, "se a justiça é o nosso objetivo, não podemos ficar sentados e esperar que a guerra tenha fim", acrescentou, denunciando uma "cultura de impunidade".

Convictos de que a justiça chegará um dia, numerosos sírios arriscaram suas vidas. É o caso de um oficial da polícia militar que fugiu do país com dispositivos de memória USB, escondidos nas meias e que continha 28.000 fotos de mortos pelo regime de Bashar Al Assad.

Também teve um funcionário que fixou ao corpo, com fita adesiva, mil páginas de documentos com ordens dadas desde a mais alta hierarquia para que fosse feito uso cego da violência ou investigadores que tiraram provas de guerra do país, por meio de numerosos pontos de controle e escondidas em caixas de bananas.

Por causa desses "heróis da resistência", milhões de páginas e de gigabytes de provas, assim como numerosos testemunhos obtidos por investigadores, poderão ser reunidos, analisados e compilados em pastas "que poderão ser utilizadas um dia para encontrar aos suspeitos e levá-los à justiça", explicou o ministro.

Destinado a acompanhar as investigações e os processos dos autores desses crimes, o Mecanismo Internacional, Imparcial e Independente para a Síria (MIII), com sede em Genebra, é patrocinado pelo Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, e necessita de um financiamento de 30 milhões de doláres para funcionar em seu primeiro ano.

"Se conseguimos fazer funcionar esse mecanismo, daremos um passo a mais até a justiça", ressaltou Koenders. "É o mínimo que podemos fazer", concluiu.

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