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O que significa a promessa de Netanyahu de anexar partes da Cisjordânia?

Uma semana antes das eleições, o primeiro-ministro de Israel prometeu anexar partes da Cisjordânia ocupada caso seja reeleito

Nethanyahu: cerca de 400 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia ocupada (Amir Cohen/Reuters)

Nethanyahu: cerca de 400 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia ocupada (Amir Cohen/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 14h22.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu na terça-feira (10) anexar o Vale do Jordão, região estratégica da Cisjordânia ocupada, se for reeleito nas eleições legislativas de 17 de setembro.

O que essa promessa significa apenas uma semana antes das eleições?

O que disse Netanyahu?

Em entrevista coletiva na terça, ele anunciou sua intenção de anexar a Israel os assentamentos judaicos construídos no Vale do Jordão, um terreno fértil que se estende do sul do mar da Galileia ao norte do mar Morto.

"Há um lugar onde podemos aplicar a soberania de Israel imediatamente após as eleições", disse Netanyahu, apontando no mapa para o Vale do Jordão.

"Hoje anuncio minha intenção de aplicar, com o próximo governo, a soberania de Israel sobre o vale do Jordão e o norte do mar Morto", acrescentou.

Ele explicou que a anexação não incluiria cidades palestinas, como Jericó, que seriam cercadas.

De acordo com Netanyahu, o plano de paz que o governo americano de Donald Trump apresentará em breve oferece uma oportunidade "histórica e única" para esta anexação.

Ele já disse algo parecido?

Sim e não. Alguns dias antes das eleições de 9 de abril, Netanyahu havia prometido anexar assentamentos judeus construídos na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967. E, recentemente, declarou que queria implementar a "soberania israelense" sobre territórios palestinos.

Mas o primeiro-ministro não havia fornecido um cronograma, nem um plano de anexação concreto. Na terça-feira, porém, designou especificamente um lugar, o Vale do Jordão, e prometeu agir "imediatamente" após as eleições, se o seu partido, o Likud, administrar o governo.

Ao final das últimas eleições, o Likud obteve 35 assentos, de um total de 120 no Parlamento, tanto quanto a formação "Azul-Branco" do seu rival, Benny Gantz.

Incapaz de formar um governo de coalizão, Netanyahu convocou novas eleições para 17 de setembro.

O que é o Vale do Jordão?

O Vale do Jordão representa cerca de 30% da Cisjordânia ocupada e se estende ao leste deste território ao longo da fronteira com a Jordânia.

A maior parte deste vale faz parte da zona "C" da Cisjordânia ocupada, que representa cerca de 60% de toda Cisjordânia e é administrada, principalmente, por Israel.

Cerca de 10.000 dos 400.000 colonos israelenses estimados na Cisjordânia ocupada vivem atualmente no Vale do Jordão, de acordo com dados do governo e de ONGs israelenses. Esta área é altamente estratégica, porque é fronteiriça e é o coração de uma indústria agrícola.

Cerca de 65.000 palestinos vivem no Vale do Jordão, segundo a organização israelense Btselem.

Quais foram as reações?

Os palestinos criticaram a promessa de campanha de Benjamin Netanyahu.

"É uma violação flagrante do Direito Internacional. Trata-se de um roubo flagrante de terras, de limpeza étnica. Não apenas destrói a solução de dois Estados, mas qualquer chance de paz", disse à AFP Hanan Achraui, da Organização de Libertação da Palestina (OLP).

Turquia, Jordânia e Arábia Saudita também alertaram Israel contra uma medida que pode ter consequências regionais.

A ONU também advertiu contra uma anexação que "seria devastadora para a possibilidade de relançar negociações, a paz regional e a própria essência de uma solução de dois Estados", israelense e palestino coexistindo.

Para a União Europeia, o plano de Netanyahu "compromete" as perspectivas de paz.

O presidente americano ainda não reagiu ao projeto do primeiro-ministro israelense.

O que vai acontecer?

Para Ofer Zalzberg, analista do International Crisis Group, a proposta de Netanyahu visa acima de tudo a mobilizar seu eleitorado de direita, pró-colônias, a alguns dias de eleições cruciais para sua sobrevivência política.

As consequências desse projeto para os palestinos seriam mais simbólicas do que práticas, diz ele. O Vale do Jordão cai essencialmente na "Zona C" da Cisjordânia, já sob controle israelense.

Para os palestinos, no entanto, a anexação perpetuaria uma situação julgada temporária, à espera da criação de um Estado da Palestina, ressalta Zalzberg.

O presidente palestino, Mahmud Abbas, alertou que a anexação invalidaria todos os acordos entre israelenses e palestinos.

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