Presidente Lula, discura para chefes de Estado na Unasul (AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2010 às 22h53.
Georgetown, Guiana - "Vou embora satisfeito. Vou convencido de que conseguimos fazer nestes anos o que vários companheiros tentaram fazer durante décadas e não conseguiram: aprendemos a nos respeitar, a conviver democraticamente na diversidade", congratulou-se o presidente Lula, provocando aplausos de pé no auditório, na reunião de cúpula da Unasul, realizada em Georgetown.
Como exemplo, Lula lembrou que há seis meses teria sido impossível imaginar que a relação entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o colombiano, Juan Manuel Santos, fosse "tão harmoniosa" como é agora, apesar de suas diferenças. O comentário fez com que as duas autoridades dessem um aperto de mão caloroso perante o auditório.
Colômbia e Venezuela viveram em julho uma ruptura diplomática e, desde a chegada de Santos ao poder, em agosto, as relações estão se restabelecendo.
"Este é para mim o milagre da política (...) Se víssemos uma foto do que era a América do Sul em 2000 e do que é hoje, iríamos perceber o avanço, que houve gente eleita com o compromisso de fazer política social", estimou Lula.
O carismático presidente brasileiro garantiu que a América Latina hoje tem "mais soberania e autodeterminação" que há dez anos e pode entrar em cúpulas internacionais "com a cabeça erguida".
"Agora, o mundo sabe que andamos com a cabeça erguida e damos prioridade aos nossos países. Nossa América não era pobre apenas porque os estrangeiros nos tornaram pobres, mas porque, século após século, tivemos uma elite que só dava valor ao que vinha de fora", considerou o presidente.
Por fim, Lula pediu para que sejam trabalhados temas concretos, como a união energética, para conquistar a prosperidade de toda a Unasul, e disse aos outros presidentes que, apesar da dificuldade, não devem desistir de avançar na integração.
"Não fizemos tudo o que podíamos fazer, mas fizemos tudo o que nos foi possível fazer (...) Não vão se livrar de mim, vou seguir de alguma forma na política. Pelo carinho que sempre me deram, muito obrigado e boa sorte", se despediu.
Os chefes de Estado e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) participaram nesta sexta-feira na Guiana de uma reunião centrada em questões como a estabilidade democrática, a forma de aumentar a integração e a sucessão de seu secretário-geral, o falecido Néstor Kirchner.
A reunião, que contou com a presença de oito dos 12 presidentes do órgão regional, também marcou a despedida do presidente Lula, que concluirá o mandato no final do ano, dando lugar à presidente eleita Dilma Rousseff.
A cúpula, realizada em Georgetown, capital da Guiana, país que assumiu a presidência rotativa do bloco por um ano, foi aberta com um longo e emocionado aplauso em memória do ex-presidente argentino Kirchner, falecido há um mês.
"Desde que assumiu a secretaria da Unasul, trabalhou incansavelmente para a aprovação do seu Tratado Constitutivo (...) A melhor homenagem é que não exista volta neste processo e seguir construindo uma América Latina unida", pediu sua viúva, a presidente argentina Cristina Kirchner.
A Unasul não escolherá nesta sexta-feira um novo secretário-geral, e continuará avaliando candidatos que gerem o consenso dos países membros.
"Não será hoje (sexta-feira). Temos de sentar e conversar. Quando foi criado o cargo de secretário-geral, ficou claro que tinha que ser um ex-presidente da América do Sul, então nós temos que concordar com alguns nomes", declarou o presidente equatoriano, Rafael Correa, em uma entrevista à AFP.
Vários nomes estão sendo considerados para substituir o falecido ex-presidente da Argentina, como o do ex-presidente uruguaio Tabaré Vázquez e o do próprio presidente Lula.
Entre os temas da cúpula também está a aprovação da chamada cláusula democrática, um texto que pretende dissuadir qualquer tentativa de golpe na região e estabelece sanções para quem violar a ordem constitucional.
Entre as sanções, destacam-se o fechamento das fronteiras, as restrições ao comércio, além de punições diplomáticas e políticas.
O projeto do texto foi escrito pelo Equador, que foi palco de uma revolta policial contra o presidente Rafael Correa em setembro.
Além disso, os chefes de Estado ressaltaram a necessidade de acelerar mecanismos concretos de integração, como a união energética, obras de infraestrutura e maior harmonização das suas legislações.
"A integração da Unasul é a nossa, a do Sul (...), vai além do comum e seu principal objetivo é alcançar uma sociedade mais justa e desenvolvida. Queremos uma nação sul-americana", pediu Correa.
"Somos hoje, diferentes mas iguais, caminhamos muito, mas ainda há um longo caminho a percorrer", disse ele.
O Equador praticamente atingiu as nove ratificações do tratado constitutivo da Unasul, necessárias para dar existência jurídica ao bloco, o que aumentará a legitimidade do organismo multilateral e facilitará muitas tarefas. O Uruguai se tornará o nono país a aprovar sua adesão nos próximos dias.
"O fato de nós termos agora a presidência rotativa da Unasul mostra que o bloco não se baseia em alianças históricas, mas que trata de igual para igual países pequenos e grandes", afirmou Bharrat Jagdeo, presidente da Guiana.