Benjamin Netanyahu: a campanha eleitoral se tornou mais dura na semana passada (Ariel Schalit/Reuters)
AFP
Publicado em 15 de setembro de 2019 às 14h42.
Israel realizará na próxima terça-feira a segunda eleição legislativa em cinco meses, com um tom de referendo a favor ou contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em que a influência dos religiosos pode ser fundamental.
Netanyahu, 69, quem ocupou por mais tempo o cargo de premier do Estado hebreu, sofreu um revés recente em abril, quando seu partido, Likud, empatou com a Kahol Lavan, nova aliança de centro liderada pelo general Benny Gantz.
Diante da impossibilidade de formar uma coalizão majoritária, Netanyahu preferiu dissolver o parlamento e realizar novas eleições, antes de deixar o presidente Reuven Rivlin solicitar a um de seus adversários a formação de um governo.
A eleição de terça-feira também acontecerá a um mês do comparecimento de Netanyahu à Justiça por "corrupção, abuso de confiança e malversação", acusações pelas quais ainda não foi indiciado. Uma vitória eleitoral poderia permitir a seus aliados que votassem por sua imunidade.
No total, mais de 6 milhões de pessoas estão convocadas a ir às urnas nestas eleições, disputadas por 31 listas ou partidos. Frente a "Bibi", como Netanyahu é chamado pelos israelenses, está o general Benny Gantz, ex-comandante do estado-maior de Israel, que se apresenta como uma proposta mais liberal em matéria social, mas com uma imagem de falcão diante das questões de segurança.
A disputa entre os dois candidatos se anuncia acirrada. Segundo o canal de TV Channel 13, Likud e Kahol Lavan teriam, cada um, 32 das 120 cadeiras do parlamento israelense, o que tornaria necessário formar uma coalizão, cenário em que o ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, do partido Israel Beitenu, poderia ser decisivo.
Lieberman se opõe a qualquer coalizão com os religiosos, aliados de Netanyahu, e acusa os judeus ultraortodoxos de quererem impor sua visão da religião ao Estado.
A campanha eleitoral se tornou mais dura na semana passada, quando Netanyahu prometeu que, em caso de vitória, irá anexar um setor estratégico da Cisjordânia ocupada, uma promessa criticada pelos palestinos, que a consideram o fim do processo de paz.
A proposta também foi criticada por países árabes, ONU e Rússia, algo especialmente significativo, já que Netanyahu aparece em vários cartazes apertando a mão do presidente russo, Vladimir Putin, e do americano Donald Trump.
Benny Gantz se mostra convencido de sua vitória: "Vamos derrotá-lo. Estou aqui para mudar o país e, para consegui-lo, é necessária a saída de Bibi", repetiu neste fim de semana.
Embora o ex-comandante do estado-maior tenha sido criticado por sua campanha morna e alguns foras durante discursos públicos, ele continua sendo a figura que une os votos contra Netanyahu.
Ao contrário do que ocorreu em abril, quando se apresentaram de forma separada, os partidos árabe-israelenses, hostis a Netanyahu, disputarão estas eleições em coalizão. Um bom resultado, como o de 2015, quando ficaram em terceiro, poderia reforçar uma potencial coalizão contra Bibi.
"O fator decisivo será o índice de participação", aponta Gayil Talshir, professora de ciência política na Universidade Hebraica de Jerusalém, que não descarta uma coalizão Gantz-Netanyahu ou algum tipo de manobra do premier para se agarrar ao cargo: "A única coisa que interessa a Netanyahu é continuar sendo premier. Não acho que deixará o cargo sem fazer barulho."