Cambojanos entram no crematório do corpo do ex-rei Norodom Sihanouk em Phnom Pehn: ele governou durante toda a segunda metade do século XX (Nicolas Asfouri/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2013 às 11h37.
Phnom Penh - O corpo do ex-rei do Camboja, Norodom Sihanouk, deve ser cremado na tarde desta segunda-feira em Phnom Penh em uma cerimônia de despedida acompanhada por vários partidários estrangeiros.
"Este é o último dia para todos nós prestarmos homenagem ao grande rei e herói e para enviá-lo para o céu", declarou à AFP o príncipe Sisowath Thomico, o assessor do ex-monarca que morreu em Pequim, no dia 15 de outubro, aos 89 anos.
"Este é o dia para toda a Nação dizer adeus a sua majestade. Ele é o herói do Camboja", acrescentou.
Como durante todo o fim de semana, milhares de cambojanos se reuniram desde a madrugada, vestidos de preto e branco, em frente ao crematório para saudar aquele que era chamado de "senhor papai" e que governou durante toda a segunda metade do século XX.
Primeiro-ministro, chefe de Estado e rei, Sihanouk acompanhou todos os tumultuosos acontecimentos em seu país, desde a independência à guerra civil, passando pela "idade de ouro" dos anos 1950 e 1960 e o terror dos Khmer Vermelhos.
Nunca hesitou em reprimir seus adversários e não recuou diante de nenhum cálculo político, como quando fez um pacto com o regime de Pol Pot (1975-1979), responsável pela morte de dois milhões de pessoas.
Mas os seus admiradores querem conservar apenas o lado positivo de seu trabalho. "Ele conquistou a independência, a paz e prosperidade para o país. Agora ele se foi, eu tenho medo de que a paz nos deixe no futuro", explicou Sum Seun, de 60 anos.
No início da tarde, os arredores do palácio foram evacuados e tudo foi limpo para a chegada das limusines dos oficiais convidados a participar da cremação, prevista para as 18h00 (09h00 no horário de Brasília).
Além da família real e o primeiro-ministro Hun Sen, são esperados chefes asiáticos de Governo, o príncipe Akishino do Japão e o primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault.
A presença da ex-potência colonial é "o símbolo da forte vontade política de manter ligações estreitas e de confiança" com o Camboja, comentou o Ayrault no domingo em sua chegada a Phnom Penh. Sihanouk foi "alguém que falava a nossa língua muito bem", acrescentou, elogiando a "relação forte e amorosa" entre a França e ele.
Sexta-feira, o caixão foi levado em passeata por toda a cidade de Phnom Penh, diante de uma multidão menos densa do que a esperada, provavelmente um sinal da distância que, apesar de tudo, surgiu entre o ex-monarca e o Camboja moderno.
As autoridades afirmaram que um milhão de pessoas foram às ruas. Mas a realidade era claramente muito abaixo, mostrando que o país virou a página após um século turbulento.
"O mito é passado", observa o historiador Hugh Tertrais. Desde sua abdicação em 2004, "Sihanouk não esteve tão presente, nem foi tão espetacular".
"Estou muito ocupado para ir ao funeral", confirmou Sna, um homem de 25 anos. "É importante, mas eu não tenho tempo".
O rei Norodom Sihamoni, filho de Sihanouk favorecido pela abdicação do pai, e sua viúva, a rainha Monique, devem simbolicamente acender uma pira no final do dia, mesmo se técnicas mais "modernas" devem ser usadas para a cremação, explicou Thomico.
Uma parte das cinzas serão espalhadas na confluência do Mekong, do Tonle Sap e do Bassac Tonle. O resto ficará em uma urna guardada no palácio.