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Estes são os fatos em que o mundo precisa ficar de olho em 2017

A comunidade internacional observa com atenção aos desdobramentos dos episódios que estão no horizonte do próximo ano. Veja quais são eles

Coreia do Norte: país assustou o mundo com seus testes nucleares em 2016. Agora, resta saber como regime se comportará em 2017 (KCNA/Reuters)

Coreia do Norte: país assustou o mundo com seus testes nucleares em 2016. Agora, resta saber como regime se comportará em 2017 (KCNA/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 13 de dezembro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 13 de dezembro de 2016 às 10h29.

São Paulo – O ano de 2016 não foi exatamente tranquilo mundo afora.

Enquanto a guerra na Síria entrou em seu quinto ano e a crise de refugiados se agravou, os europeus observaram com atenção aos resultados de referendos que vão impactar as estruturas da União Europeia.

Nas Américas, a eleição do republicano Donald Trump surpreendeu, enquanto na Ásia, o impeachment da presidente da Coreia do Sul trouxe instabilidades e a Coreia do Norte voltou a causar medo com seus testes nucleares.

Às vésperas de 2017, a comunidade internacional está de olhos abertos para as consequências de tudo o que aconteceu nos últimos meses e aguarda os desdobramentos de novos episódios que estão no horizonte do próximo ano. Com isso em mente, EXAME.com lista abaixo alguns fatos que devem ser observados com atenção. Confira:

Governo Trump

Após uma vitória surpreendente ante a democrata Hillary Clinton, o republicano Donald Trump assume, em janeiro, a presidência dos Estados Unidos. Até pouco tempo, analistas temiam as incertezas do seu governo, enquanto um gabinete definitivo não fosse anunciado.

Há poucas semanas, no entanto, o polêmico empresário começou a anunciar quem quer no seu entorno pelos próximos anos. As nomeações, até o momento, vêm causando polêmica nos Estados Unidos e fora do país, uma vez que Trump escolheu nomes nada ortodoxos para a chefia de temas relevantes.

Na esfera ambiental, por exemplo, nomeou Scott Pruitt para liderar a agência de proteção ambiental. Pruitt, contudo, é do time dos negadores das mudanças climáticas. Como seu principal estrategista, chamou Stephen Bannon, conhecido por suas posições nacionalistas e acusado de racismo e anti-semitismo.

Ainda do ponto de vista da política interna, avalia-se até que ponto Trump e os republicanos terão estofo político para encerrar o Obamacare, uma reforma no sistema de saúde americano que beneficiou 20 milhões de pessoas e que o empresário prometeu revogar.

A expectativa acerca de como, afinal, será o seu governo tem sido motivo de preocupação para a comunidade internacional. Teme-se, por exemplo, se ele honrará compromissos na firmados pela gestão Obama, como o acordo nuclear com o Irã e a reaproximação com Cuba.  Sua postura frente à União Europeia (UE), China e Rússia também é incerta.

Eleições na Europa

Se 2016 foi o ano do Brexit no Reino Unido, da derrota de Matteo Renzi no referendo da Itália, do fortalecimento de líderes conservadores por toda a Europa, o próximo ano promete ainda mais emoções com a realização de eleições em países-chave para a União Europeia (UE).

Na França, por exemplo, o pleito presidencial segue indefinido, uma vez que o Partido Socialista do atual presidente François Hollande só nomeará o seu candidato em janeiro. Os três candidatos possíveis, no entanto, são Manuel Valls, pelo Partido Socialista, Marine Le Pen, pelo líder da Frente Nacional, e François Fillon, do partido Os Republicanos.

Com a pressão de uma economia estagnada, da crise de refugiados e o temor de ataques terroristas, a expectativa é que o segundo turno seja disputado entre Marine Le Pen, que é anti-imigração e a favor de um referendo sobre a saída da França da UE, e Fillon, que quer restringir programas sociais e é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A Alemanha também fará eleições no próximo ano. Embora reconhecida pela comunidade internacional como uma líder influente, Angela Merkel observou sua popularidade cair em razão de sua política de recepção de refugiados e imigrantes. O panorama promete ser desafiador: ela enfrentará a ascensão considerável do partido anti-islã e anti-imigração Alternativa para a Alemanha.

Mas não é só isso que acontecerá na Europa no ano que vem: além de pleitos nestes dois motores da UE, estão previstas eleições em diferentes partes do bloco, da Holanda à Romênia, passando ainda pela definição da situação da instável Itália. E isso em um ano em que o bloco comemora 60 anos da assinatura do Tratado de Roma, seu documento fundamental.

O 19º Congresso do Partido Comunista

Na visão de Ian Bremmer, fundador de uma das mais importantes consultorias políticas do mundo, a Eurasia, a maior transição que o mundo observará no ano que vem será na China, quando acontecerá o 19º Congresso do Partido Comunista. É quando serão escolhidos os seus líderes dos próximos cinco anos.

O tamanho da mudança prevista, no entanto, fez com que Bremmer aumentasse o período de influência que essa nova cúpula terá no país para 15 anos. Lembra, ainda, que o país vive um momento delicado com a iminência de uma reforma econômica que impactará o mundo inteiro. Especialmente se conduzida da forma errada.

Os movimentos da Rússia

Em 2016, o mundo viu a Rússia atuando em questões urgentes da comunidade internacional, como a guerra na Síria. Além disso, o país se tornou um dos focos dos debates em torno da eleição presidencial dos Estados Unidos, com direito a suspeitas de que teria influenciado, de alguma forma, o resultado do pleito que consagrou Donald Trump o vencedor.

A expectativa é que, em 2017, a Rússia siga nesse movimento. Segundo análise da consultoria International StrategicAnalysis sobre os maiores riscos globais do próximo ano, um deles é um possível “revanchismo” russo.

A avaliação parte da premissa de que o novo governo dos EUA poderá assumir uma postura isolacionista na esfera internacional. Com essa abertura e o enfraquecimento do bloco europeu, a Rússia se aproveitará para expandir a influência, especialmente em países vizinhos como Bielorrússia, Moldávia e Cazaquistão, sem deixar a Ucrânia e os Balcãs de lado.

A consultoria avalia, ainda, que o governo de Vladimir Putin poderá testar o comprometimento americano com seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Nos últimos anos, a tensão entre os russos e a aliança aumentou, especialmente por conta da crise no leste da Ucrânia.

Em 2016, a Otan começou a colocar em prática planos para lidar com o que chamaram de “desafio real e sério” de uma ameaça russa à países membros da aliança, aumentando a presença militar no Leste Europeu. A Rússia, por sua vez, vê esse movimento como ameaça à sua segurança.

Tensão no Mar do Sul da China

Foco de tensão entre países asiáticos há anos, o Mar do Sul da China esteve no centro das atenções em 2016 em razão da exasperação dos ânimos entre os envolvidos. Acredita-se que a região seja rica em recursos minerais, além de ser uma importante rota de navegação zona pesqueira.

Países como as Filipinas, Vietnã e a Malásia acusam a China de estar militarizando a região com a construção de um complexo militar e naval em ilhas artificiais. Pequim, por sua vez, alega ter direitos sobre a área que compreende dois arquipélagos, Paracel e Spralty.

Em julho, uma decisão do Tribunal de Arbitragem de Haia, em demanda movida pelas Filipinas, considerou que a China não tem base legal para reclamar “direitos históricos” na região. Os chineses, contudo, dizem não reconhecer a decisão como legítima.

Até o momento, o presidente dos EUA Barack Obama vem adotando um tom diplomático sobre a questão, pedindo que a China reconheça a determinação de Haia e pediu que os envolvidos agissem de forma pacífica. Em 2017, contudo, o cenário é de incertezas, uma vez que o presidente eleito Donald Trump já sinalizou não estar de acordo com a conduta chinesa.

Instabilidades na península da Coreia

Em 2016, a Coreia do Norte conseguiu deixar líderes mundiais arrepiados após uma série de ameaças e testes nucleares que tinham como objetivo demonstrar o poderio militar nas mãos de seu líder, Kim Jong-un.

Já na vizinha do Sul, a presidente Park Geun-hye foi afastada do cargo após seu envolvimento em um escândalo de corrupção de enredo bizarro, com direito a participação de uma mulher que ganhou o apelido de “Rasputina” por conta de sua misteriosa influência no alto escalão do governo, mesmo sem deter qualquer posição oficial.

No próximo ano, o cenário em ambos os países é de tensão, especialmente por conta da recusa dos norte-coreanos em cessar as hostilidades de cunho nuclear e pelas incertezas em torno da nova liderança sul-coreana.  Uma mudança que afetará ainda a frágil relação entre as Coreias. As eleições na Coreia do Sul estão marcadas para acontecer nos próximos meses.

Crise na Caxemira. De novo

A relação entre estes países vizinhos, Índia e Paquistão, nunca foi das mais amistosas, especialmente no que diz respeito às disputas territoriais na região da Caxemira que datam a independência de ambos da colonização britânica.

Índia e Paquistão já entraram em guerra duas vezes em razão disso: em 1947 e em 1965. Mas a frágil paz que se seguiu desde então corre o risco de ser perturbada no ano que vem, graças a novas tensões entre as forças armadas de ambos países.

Em meados de 2016, a violência eclodiu após com um ataque de insurgentes supostamente paquistaneses à uma base do exército da Índia. Semanas depois, o exército indiano retaliou com bombardeios ao que chamou de “acampamentos terroristas” na fronteira com o Paquistão.

O Paquistão tentou levar a Índia para a mesa de negociações, porém, nada de concreto foi estabelecido. Em outubro, o governo da Índia anunciou que fechará totalmente a sua fronteira com o país em 2018.

Índia e Paquistão são duas potências nucleares. De acordo com informações da ICAN, campanha internacional que busca a proibição de armas deste tipo, o governo indiano conta com um arsenal de 120 ogivas, enquanto o paquistanês controla cerca de 130. Com o agravamento da crise entre os vizinhos, cresce o temor de uma crise nuclear.

Guerra na Síria e a guerra contra o EI

No Oriente Médio, o mundo precisa manter os olhos abertos para os desdobramentos da guerra na Síria, que foi alçada pela ONU ao posto de maior fracasso da comunidade internacional e 2016. Sequer Estados Unidos e Rússia, ativamente envolvidos na situação, concordam acerca da melhor estratégia para estabilizar o país e restaurar a ordem.

Enquanto o presidente Bashar Al Assad, se recusa a deixar o cargo, grupos rebeldes travam violentas batalhas país afora contra as tropas de seu governo, em confrontos que vem impactando severamente a população civil. Tentativas de cessar fogo falharam e a cidade de Aleppo se tornou um ponto crucial em toda a guerra.

À esse panorama, soma-se um agravante que é a presença de militantes extremistas do Estado Islâmico, que busca estabelecer um califado na Síria e no Iraque, em diferentes áreas do país. No fim de 2016, notícias davam conta de que o grupo havia conseguido recuperar o controle da cidade de Palmira depois da retirada do exército sírio.

No Iraque, a situação tampouco é estável, uma vez que o exército do Iraque, apoiado pela coalizão internacional liderada pelos EUA, segue travando intensas batalhas pela retomada da segunda maior cidade do país, Mosul, nas mãos dos extremistas há quase dois anos.

Genocídio no Mianmar

No Mianmar da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, a situação do grupo étnico rohingya está se agravando e vem sendo enquadrada por entidades de proteção de direitos humanos como genocídio.

Ofensivas do exército do Mianmar em Rakain, alegam as entidades, estão atacando estas pessoas sob o pretexto de estarem buscando insurgentes. Há relatos de assassinatos em massa, estupros e saques em lares e estabelecimentos associados ao grupo. Mais de mil casas foram incendiadas nos últimos meses.

Em Rakain, estima-se que ao menos 1 milhão de pessoas sejam parte deste grupo que tem sua cidadania renegada pelo governo de Mianmar. No entanto, não se sabe, ao certo, quantas pessoas desta etnia vivam no país.

Como resultado dessa violência, a perseguição contra essa minoria étnica se tornou outro motor da já grave crise de refugiados no mundo. Segundo dados da Organização Mundial para Migrações, 21 mil pessoas dessa etnia buscaram refúgio em Bangladesh nos últimos dois meses.

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