Mundo

Eleições presidenciais do Uruguai devem ter segundo turno, apontam projeções

Eleitores também votaram em duas propostas de mudanças constitucionais, incluindo plano para a previdência que economistas veem como arriscado às finanças do país

O candidato à Presidência do Uruguai pelo Partido Nacional, Álvaro Delgado, e sua candidata presidencial, Valeria Ripoll, cumprimentam seus apoiadores, neste domingo em Montevidéu (Uruguai) (Gaston Britos/EFE)

O candidato à Presidência do Uruguai pelo Partido Nacional, Álvaro Delgado, e sua candidata presidencial, Valeria Ripoll, cumprimentam seus apoiadores, neste domingo em Montevidéu (Uruguai) (Gaston Britos/EFE)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 28 de outubro de 2024 às 07h42.

Última atualização em 28 de outubro de 2024 às 07h42.

Tudo sobreUruguai
Saiba mais

Os uruguaios foram às urnas neste domingo em eleições gerais que colocaram frente a frente a esquerda da Frente Ampla, hoje na oposição, e a centro-direita do governista Partido Nacional. Segundo projeções divulgadas cerca de uma hora após o fechamento das urnas, eles devem voltar a se enfrentar em um segundo turno, no dia 24, para definir quem será o presidente pelos próximos quatro anos. O comparecimento às urnas foi de 89%, de acordo com as autoridades eleitorais.

Os números da consultoria Cifra, apresentados pela rede Telemundo, mostram o candidato da Frente Ampla, de esquerda, Yamandú Orsi, com 44% dos votos, seguido por Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional e ligado ao atual presidente Luis Lacalle Pou, com 27% dos votos. Em terceiro surge Andrés Ojeda, do Partido Colorado, que tem foi comparado ao líder argentino Javier Milei, com 16%. Para que a eleição fosse definida neste domingo, um dos candidatos precisaria de mais de 50% dos votos. Os números oficiais devem ser divulgados ainda nesta noite.

Pela manhã, Orsi votou em Canelones, um departamento que governou por quase 10 anos, e antes de depositar seu voto saudou a “saúde democrática” do país.

"Durante 40 anos ininterruptos, o Uruguai teve a alegria de os cidadãos poderem eleger os nossos governantes; parece óbvio, mas no mundo de hoje é um privilégio", afirmou o político, que aparece com até 47% das intenções de votos nas pesquisas.

Seu provável rival, Alvaro Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou, votou na sede de um banco em Montevidéu, e ressaltou seu trabalho ao lado do atual chefe de Estado como diferencial em relação ao candidato da esquerda.

"A vantagem que tenho é que passei quatro anos na torre executiva como secretário da Presidência, governando. Portanto, não preciso fazer uma pré-temporada, basta começar a jogar. A primeira reunião que já disse várias vezes, às 9h00 da manhã, será com o ministro do Interior e com os chefes da Polícia", declarou aos jornalistas.

Correndo por fora, Andrés Ojeda, do Partido Colorado, votou em Montevidéu, demonstrando ter esperança de surpreender na reta final. Durante a campanha, o advogado de 40 anos apostou nas redes sociais, no discurso questionando a “política tradicional” e nas comparações com o ultraliberal Javier Milei, presidente da Argentina, com quem afirma ter “muitos pontos em comum”.

"É hora de voltar a acreditar na política e como disse antes, a nova política veio para ficar. Tenho a sensação de ter cumprido o meu dever. A minha responsabilidade era clara: faltava uma candidatura de renovação e talvez não desta dimensão, mas acabamos sendo fundamentais para o futuro da definição em novembro e isso me deixa muito feliz", disse Ojeda, em entrevista ao jornal El País.

Outrora um país que se orgulhava de sua relativa calmaria e segurança, o Uruguai se vê em meio a uma onda de violência ligada ao tráfico de drogas, que levou os índices de homicídios a índices jamais vistos, assim como as taxas de crimes violentos, especialmente em Montevidéu.

"Os uruguaios veem seu país como um lugar estável e pacífico", disse John Walsh, diretor de política de drogas do centro de estudos Washington Office on Latin America, em entrevista ao Guardian. "De modo geral, isso continua verdadeiro há muito tempo, e agora os uruguaios estão compreensivelmente alarmados. Eles têm a sensação de que sua segurança está diminuindo".

Além da votação que definirá o presidente, 30 senadores e 99 deputados, os eleitores deram sua opinião, em referendos, sobre duas propostas apresentadas pela oposição de esquerda e pelo governo. A primeira delas, defendida pelo presidente Lacalle Pou, quer autorizar operações policiais em residências durante a noite. Segundo as pesquisas, o plano é apoiado por 50% dos uruguaios.

Já a segunda, proposta pela central sindical única Pit-CNT com o apoio de setores da Frente Ampla, quer reduzir a idade mínima para a aposentadoria de 65 para 60 anos, eliminar reformas recentes no sistema de seguridade social, ligar as pensões ao valor do salário mínimo e vetar os planos de previdência privados. Os três principais candidatos à Presidência disseram ser contra a ideia, que contaria com até 47% de apoio dos eleitores.

Segundo seus defensores, o plano atuará na distribuição de renda e dará aos trabalhadores maior dignidade na hora em que se aposentarem.

"Temos pensões escassas no Uruguai. Os aposentados deste país são pobres", disse o educador Jose Luis Correa, de 68 anos, à Reuters. — Se eles puderem cortar os gestores de fundos de pensão privados, haverá mais para nós e para os futuros aposentados.

Mas economistas apontam que a proposta custaria o equivalente a quase R$ 5 bilhões anuais aos cofres públicos, abalando as finanças de um país que ainda tenta se recuperar dos impactos da pandemia da Covid-19 e de uma seca recorde no ano passado. Alguns economistas vão além, e dizem que se o projeto for aprovado, o país pode estar diante de seu próprio “efeito Brexit”, referência aos impactos econômicos da saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada em referendo em 2016

"Esta é uma eleição presidencial com um candidato não nomeado e o plebiscito sobre a reforma da previdência", disse Nicolás Saldías, analista sênior da Economist Intelligence Unit ao Guardian. "O Uruguai não tem cobre ou lítio, só tem sua palavra. Se o país não se apegar a isso, então estamos em maus lençois".

Segundo as projeções da consultoria Equipos, nenhuma das propostas recebeu mais de 50% dos votos, e por isso não serão aplicadas.

Apesar da polêmica em relação ao projeto da previdência, analistas apontam para a tranquilidade na disputa uruguaia: os candidatos têm ideias relativamente similares, não estão fazendo referências a conspirações ou questionamentos ao processo eleitoral e, mais importante, dizem que aceitarão os resultados, sejam eles quais forem.

"Em certo sentido, o Uruguai tem sido um país calmo e essa tranquilidade é algo muito positivo", disse Juan Cruz Díaz, analista político e diretor da consultoria Cefeidas em Buenos Aires, à agência Associated Press. "Vimos mudanças drásticas na Argentina, no Brasil, no Equador e na Colômbia, e agora enfrentamos eleições no Uruguai, onde o consenso e a estabilidade prevalecem".

Acompanhe tudo sobre:Uruguai

Mais de Mundo

Prejuízo de R$ 280 milhões: cidade argentina vê 30% da população cair em esquema de pirâmide

Por que Warren Buffett decidiu não apoiar nem Kamala, nem Trump, nas eleições?

Evo Morales acusa governo da Bolívia de querer “eliminá-lo” com ataque armado

Secretário-geral da ONU se diz 'chocado' com nível de morte e destruição no norte de Gaza