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Debate Trump x Biden: o que esperar do embate político de hoje à noite?

Especialistas ouvidos por EXAME explicam por que o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden devem ter abordagens distintas no debate de hoje à noite

Joen Biden e Donald Trump: primeiro confronto da eleição americana em 2020 está marcado para a noite desta terça-feira, às 22h (horário de Brasília) (Montagem EXAME/Getty Images)

Joen Biden e Donald Trump: primeiro confronto da eleição americana em 2020 está marcado para a noite desta terça-feira, às 22h (horário de Brasília) (Montagem EXAME/Getty Images)

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Leo Branco

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 15h29.

Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 15h39.

O primeiro debate da eleição à Presidência dos Estados Unidos, previsto para esta noite, às 22h (horário de Brasília) deve ser marcado por estratégias distintas do candidato republicano Donald Trump e o concorrente democrata Joe Biden.

De um lado, Biden vai querer aproveitar a liderança nas pesquisas para arrancar de vez a campanha rumo à Casa Branca. Do outro, Trump vai falar com os eleitores de estados com muitos indecisos — os swing states, termo em inglês para os estados onde a corrida eleitoral costuma ser apertada.

Na visão de analistas brasileiros ouvidos por EXAME, contudo, o debate deve ter pouca influência sobre o resultado de uma das eleições mais polarizadas da história americana.

Para o cientista político Carlos Pereira, professor titular na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, debates como os de hoje à noite são janelas de oportunidades para candidatos azarões virarem o jogo. “Com uma margem relativamente segura de 7 a 8 pontos percentuais de Joe Biden liderando a corrida presidencial, Donald Trump pode ser considerado um azarão”, diz Pereira.

Nessas condições, Trump deverá falar abertamente aos eleitores dos estados com maior número de indecisos. Isso porque, de acordo com o site fivethirtyeight, de análises estatísticas, entre elas pesquisas eleitorais, as melhores chances de Trump de vencer as eleições se dão no colégio eleitoral e não por meio do voto popular. Trump teria uma chance em quatro de vencer no colégio eleitoral, mas apenas uma chance em dez de vencer no voto popular.

As chances de vitória no colégio eleitoral e derrota no voto popular têm origem no sistema majoritário do tipo winner takes all ("o vencedor leva tudo", numa tradução livre). O ganhador no estado escolhe todos os delegados da jurisdição: uma vitória por uma margem de 1% produz um ganho de 100% dos delegados.

Portanto, é no colégio eleitoral, especialmente nos estados que tendem a variar sua preferência partidária entre as eleições que Trump deposita suas chances de ser reeleito em 2020. “Isto porque os estados com maior probabilidade de decidir a disputa têm uma tendência um pouco mais republicana do que o país como um todo, que tende a ser democrata”, diz Pereira.

“Portanto o atual presidente vai ter de falar, particularmente para os eleitores de estados considerados chave, tais como Texas, Geórgia, Ohio, Carolina do Norte, Flórida, Arizona e Pensilvânia. No geral, um desses estados decide a eleição em 94% das vezes, sendo o ponto de inflexão podem vir a votar mais republicano do que o país como um todo.”

Desse modo, o cientista político vê uma grande chance de Trump falar hoje à noite para eleitores de estados críticos, ao passo que a expectativa sobre Biden é de assumir uma postura presidencial nacional, como potencial governante de todos os americanos.

Para Carlos Braga, professor de economia internacional na Fundação Dom Cabral, o debate desta noite tende a ser um dos mais interessantes desde o debate entre o republicano Richard Nixon e o democrata John Kennedy, que definiu a eleição em favor do democrata, há 60 anos. O motivo: os dois candidatos deverão ter posturas muito distintas frente ao eleitor. Trump, atrás nas pesquisas, deverá ir para o ataque para tentar reverter a desvantagem. Biden, por sua vez, sairá ganhando se conseguir manter o sangue frio.

“Se sabe que Biden não é um bom orador e gagueja as vezes, o que baixa as expectativas dos analistas sobre o desempenho dele num debate”, diz Braga. “Ao mesmo tempo, se ele não cometer nenhum erro grave hoje, ele poderá ser considerado vencedor do confronto apenas porque as expectativas sobre ele estavam baixas.”

Para o especialista, Biden deverá explorar a revelação recente do jornal New York Times de que Trump pagou apenas 750 dólares de imposto de renda em 2016, ano de sua eleição à Casa Branca. Trump, por sua vez, deverá tentar jogar sobre Biden as acusações de o filho do democrata, Hunter Biden, esteve envolvido em corrupção em negociações com empresas da Ucrânia — uma história levantada no ano passado e, até agora, sem evidências concretas.

O debate de hoje pode ter efeito sobre o rumo dos mercados financeiros amanhã? Dificilmente, diz o economista Arthur Mota, da EXAME Research, braço de análises financeiras da EXAME.

“Os efeitos do debate serão mais conhecidos na quarta-feira, mas a agenda econômica desta semana está muito carregada”, diz Mota, citando indicadores econômicos da China a ser divulgados nesta madrugada, além de dados sobre a inflação da zona do euro na quarta-feira de manhã. “Tudo isso pode ofuscar ou bagunçar as leituras de mercado em relação ao debate”, diz.

Nos próximos dias o mercado vai ficar de olho, principalmente, em como as pesquisas eleitorais vão se comportar nos estados com maior número de indecisos. E, com isso, pode haver alguma volatilidade a mais a depender disso. “Uma percepção de que Biden sairia favorecido pode reduzir a força do dólar perante ao euro, por exemplo, ao passo que uma percepção mais favorável ao Trump, mas sem um cenário positivo no Congresso, também deve manter a incerteza elevada”, diz Mota.

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