Javier Milei, presidente da Argentina (Tiziana Fabi/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de julho de 2024 às 15h15.
Última atualização em 8 de julho de 2024 às 15h28.
Mesmo ausente da cúpula do Mercosul, em Assunção, o presidente argentino, Javier Milei, esteve presente em quase todos os discursos de líderes do bloco, de todos os espectros políticos.
Desde Lula, que defendeu instituições e iniciativas que a Argentina vem buscando enfraquecer; passando por Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai, de direita, que lembrou que "não só a mensagem importa: o mensageiro é muito importante", até Luis Arce, da Bolívia, que acaba de resistir a uma tentativa fracassada de golpe em seu país e desde então vem trocando farpas com Milei. Nenhum deles, no entanto, citou diretamente o ultraliberal argentino.
Milei desistiu de participar do encontro em Assunção na semana passada e, em seu lugar, enviou a chanceler argentina para representá-lo. Mas, viajou para o Brasil no último fim de semana, para discursar em um fórum conservador em Balneário Camboriú, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Não importa somente a mensagem. É muito importante o mensageiro e, obviamente, não menosprezo ninguém. Mas, se o Mercosul é tão importante, aqui deveriam estar todos os presidentes", afirmou o presidente uruguaio, em uma indireta ao ultraliberal argentino. "Eu dou importância ao Mercosul. E se realmente acreditamos nesse bloco, deveríamos estar todos."
Lula, por sua vez, fez críticas a posturas de isolamento dentro do bloco. Em sua fala, defendeu o fortalecimento do Instituto Social e do Instituto de Políticas Públicas e Direitos Humanos, questionou tentativas de “apagar” a palavra gênero de acordos e iniciativas regionais, e de implementar um “pseudo aggiornamento” do Mercosul, entre outros pontos destacados do discurso. Estes e outros trechos do texto lido pelo presidente foram, segundo confirmaram fontes do governo brasileiro, mensagens diretas para a Casa Rosada.
"Não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista, tão pouco à justificativa para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram desigualdades na nossa região", declarou no discurso.
Após a fala do brasileiro, o presidente da Bolívia, Luís Arce, agradeceu o apoio recebido pela "maior parte" dos países da região e, também sem citar Milei, criticou falas sobre um "suposto autogolpe". Na semana passada, os dois líderes trocaram farpas após o argentino insistir na acusação de que o governo boliviano fez uma "falsa denúncia" da tentativa de golpe militar fracassada.
A versão circulou depois que o general Juan José Zúñiga, que liderou a tentativa de golpe, afirmou, ao ser preso, ter agido a pedido de Arce para aumentar sua popularidade, algo que foi negado pelo presidente boliviano.
"Lamentamos declarações infundadas e poucos sérias sobre um suposto autogolpe quando lamentavelmente se tratava de um clássico golpe de Estado", disse Arce.
No discurso, Lula citou "falsos democratas" que "tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários" e que "não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista".
"Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários. Enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado a lado [...] No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região."
"O Mercosul é resiliente e tem sobrevivido aos difíceis anos de desintegração. Pensar igual nunca foi critério para engajamento construtivo nas tarefas do bloco. A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda."