Crédito Privado: esses produtos que vão auxiliar na redução da volatilidade dos portfólios, diversificação e melhora do perfil risco-retorno (Getty/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 08h35.
A numerosa população de fundos multimercados no Brasil ganhou uma nova cor nos últimos anos, depois que os juros no país tiveram substancial queda até 2021: a entrada de grandes assets no segmento de crédito privado. Como o nome já sugere, multimercados são produtos com liberdade para atuar com diversas classes de ativos, e as tradicionais gestoras desses fundos viram nos títulos de dívida corporativa uma janela de oportunidade para realizarem sua expansão corporativa e também diversificar as fontes de receita para o negócio.
O movimento é não apenas resultado de um ciclo de juros baixos e da saída do governo como grande financiador das empresas, como também um lembrete para os investidores: quem ainda não investe em dívida privada, deveria corrigir esse erro.
Algumas casas, como a ARX Investimentos e a JGP, já oferecem há mais de dois anos produtos de crédito para diferentes públicos, com diferentes perfis de risco e liquidez. Outras casas realizaram movimentos de 2019 em diante no segmento, caso da SPX, Legacy, Ibiuna, Occam Brasil e Absolute. Algumas assets, como Legacy e Ibiuna, optaram por incubar as estratégias de crédito dentro dos multimercados antes de lançarem os fundos como produtos independentes nas plataformas e distribuidores, mas houve quem preferisse estruturar uma área de crédito e ofertar fundos dedicados logo de saída, como acontecerá no caso da Absolute. Não existe resposta certa em como fazer – existe, isso sim, a relevante experiência e disciplina das gestoras no processo.
Menos compreendido e difundido do que o mercado de ações, o segmento de crédito privado não é importante apenas para as gestoras, mas também para nós, pessoas físicas. São esses produtos que vão auxiliar na redução da volatilidade dos portfólios, diversificação e melhora do perfil risco-retorno, já que são instrumentos dentro da renda fixa que pagam um prêmio sobre títulos públicos para arrecadar recursos para as empresas emissoras. Via fundos, o investidor ainda consegue ter acesso a uma carteira de títulos de dívida corporativa e bancária sem precisar se preocupar com quais nomes escolher, já que delega para o gestor essa tarefa.
Ao optar por um fundo de crédito privado, porém, o investidor deve, como em qualquer aplicação, considerar alguns aspectos essenciais. Se eu tiver que citar um, daria ênfase à liquidez, isto é, o prazo de resgate das cotas. Seduzidos pelos retornos consistentes e com resgates em prazos curtos, alguns de um dia ou no mesmo dia da solicitação, os investidores acabam investindo seus recursos em fundos de crédito subótimos, que precisam carregar um nível de caixa elevado para pagar esses resgates ou que acabam apresentando perdas mais demarcadas em períodos de crise, dado que o gestor precisa se desfazer das posições a qualquer preço.
Eu defendo que, idealmente, os recursos voltados para liquidez do investidor sejam destinados a produtos com risco de crédito soberano, ou seja, do governo – numa crise qualquer, esses produtos oferecem menor risco e menores perdas potenciais do que fundos de crédito privado, cujo risco adicional é o corporativo. A fatia destinada a lucrar com crédito deve ser destinada a produtos com prazos maiores, acima de 30 dias, pelo menos.
Essa e outras discussões sobre a entrada de gestoras no segmento de crédito você pode ler no relatório Funds Report, que é gratuito. Para acessá-lo, basta clicar aqui.
*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na Exame e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores.