Navio da Vale, ações da empresa possuem múltiplos atrativos (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2011 às 18h36.
São Paulo – A queda da Bovespa nas últimas semanas tem assustado muitos investidores. Mas, segundo analistas e consultores financeiros, quem tem dinheiro, pode deixá-lo aplicado durante alguns anos, não se importa com eventuais quedas de curto prazo e só planeja colher os lucros proporcionais ao risco assumido no longo prazo não só deve continuar na bolsa como pode aproveitar para comprar mais ações a preços atrativos. Mas quais seriam os papéis mais baratos da bolsa neste momento? A verdade é que existem milhares de métodos para calcular o preço justo de uma ação. Abaixo, EXAME.com apresenta a lista de papéis que seriam considerados atraentes pelo método desenvolvido por Benjamin Graham, considerado o maior guru de Warren Buffett e também o pai da profissão de analista de investimentos.
Morto há mais de 35 anos, Graham costumava defender uma fórmula bastante simples – mas comprovadamente bem-sucedida - de negociar ações que lhe permitiu fazer fortuna na bolsa. O analista apostava que comprar uma cesta de ações de empresas negociadas por um valor inferior a 7 vezes o lucro líquido registrado nos últimos 12 meses era uma excelente forma de ganhar dinheiro no longo prazo. Com a Bovespa sendo negociada a um múltiplo de preço/lucro atualmente próximo a 9, a lógica é que qualquer ação negociada abaixo de 7 teria um valor que pode ser considerado atrativo.
EXAME.com consultou a base de dados da consultoria Economática e encontrou, somente dentro do universo de 61 ações do Ibovespa, 11 empresas que estão sendo negociadas por um valor equivalente a menos do que sete vezes o lucro anual:
Nome | Preço/lucro dos últimos 12 meses |
---|---|
Santander Brasil | 6,9 |
Sabesp | 6,8 |
Petrobras | 6,6 |
Braskem | 6,3 |
Vale | 6,1 |
Bradespar | 6,1 |
Banco do Brasil | 6 |
Klabin | 5,9 |
TAM | 5,7 |
Brasil Telecom | 4,4 |
Eletropaulo | 4,3 |
Outra forma de comprar ações baratas era, segundo Graham, escolher os papéis que estivessem cotados a cerca de dois terços do valor patrimonial e depois colocá-los à venda quando alcançassem um valor semelhante ao do patrimônio. Como o valor patrimonial indica qual seria o preço de uma empresa caso todos seus bens fossem vendidos pelo valor contábil, o racional por trás desse método é que os investidores estariam diante de uma chance de comprar ações de uma empresa com um desconto em relação ao que poderia ser considerado justo. Segundo a Economática, 13 empresas do Ibovespa atendem a esse quesito:
Nome | Preço/valor patrimonial |
---|---|
Gerdau Metalúrgica | 0,9 |
Copel | 0,9 |
BM&FBovespa | 0,9 |
Klabin | 0,9 |
Telemar | 0,8 |
Marfrig | 0,8 |
Gafisa | 0,8 |
Santander Brasil | 0,7 |
Brasil Telecom | 0,6 |
JBS | 0,6 |
Usiminas | 0,6 |
Fibria | 0,5 |
Eletrobras | 0,4 |
Segundos especialistas em finanças ouvidos por EXAME, considerar múltiplos como o preço/lucro e o preço/valor patrimonial continuam até hoje a ser duas das formas mais usadas para medir se o valor de uma ação é alto, baixo ou justo. O fato de uma ação estar barata não significa que ela vai subir mais que as outras e nem mesmo que ela vai subir. A decisão de compra ou venda deve ser tomada com uma análise bem mais complexa, que envolve dezenas de outros indicadores.
Segundo Andre Massaro, sócio da consultoria MoneyFit, o trabalho do analista de investimentos atualmente consiste em avaliar as condições da economia brasileira e mundial, as perspectivas de crescimento do setor em que uma empresa está inserida nos próximos anos e também os fundamentos da empresa em si (como o endividamento, a capacidade de geração de caixa, o tempo de maturação dos investimentos, o custo de capital, os contratos que estão sendo fechados, o impacto de eventuais mudanças de regras definidas pelo governo e muitos outros). “Um analista profissional conhece a fundo uma empresa, se relaciona com os executivos da companhia e se mantém muito bem informado sobre o que está acontecendo lá dentro”, afirma.
O professor Ricardo Almeida, do Insper, concorda que a avaliação de múltiplos em que uma ação está sendo negociada é muito importante, mas usa as ações da Vale para exemplificar como o trabalho do analista é mais complexo. “A Vale está sendo negociada por um preço equivalente a 6 vezes o lucro neste ano, o que pode ser considerado uma oportunidade. Mas cabe ao investidor refletir se a ação pode subir mesmo com uma maior interferência do governo sobre a empresa, mesmo se a mineradora levar a cabo projetos siderúrgicos menos rentáveis e mesmo se os problemas da economia global levarem a uma desaceleração da China ou a uma queda dos preços do minério de ferro”, afirma.
Um olhar técnico sobre os indicadores também pode ser imprescindível para o investidor obter a rentabilidade desejada. Andre Massaro afirma que o fato de uma ação estar sendo negociada por menos que seu valor patrimonial pode ser bom ou ruim. “Pode ser tanto uma ação barata quanto uma empresa prestes a quebrar”, afirma. Por esse motivo, na lista acima, EXAME.com considerou apenas as ações do Ibovespa, o principal índice da bolsa paulista e que costuma reunir empresas com boa liquidez e valor reconhecido no mercado.
Ricardo Almeida, do Insper, faz outra ressalva importante que vale para o múltiplo preço/valor patrimonial. O indicador serve para avaliar empresas do setor industrial, mas não tem muita relevância na análise de negócios pré-operacionais ou de empresas de serviços. As ações da Cielo e da Redecard, por exemplo, estão entre as maiores altas do Ibovespa neste ano apesar de também terem o segundo e o terceiro maiores múltiplos de preço/valor patrimonial (18 e 13,4, respectivamente). “Essas empresas não precisam investir pesadamente em máquinas, imóveis ou equipamentos e, por isso, têm um valor patrimonial baixo. O preço delas reflete o capital humano, que não tem valor contábil”, afirma.
Outro exemplo de preço/valor patrimonial que não quer dizer muito coisa é o da Petrobras, que está em 1. Após a oferta pública de ações em que captou quase 120 bilhões de reais no ano passado, a empresa inchou seu valor patrimonial. Boa parte do dinheiro captado foi usado na compra de direitos de exploração de 5 bilhões de barris de petróleo no pré-sal, numa operação que na época ficou conhecida como “cessão onerosa”. O problema é que ninguém sabe se realmente esse petróleo será retirado do fundo do mar e gerará ganhos futuros para o acionista. “Para fazer uma análise correta, eu acho que seria necessário subtrair isso do valor patrimonial”, afirma.
O conselho que o professor dá ao investidor pessoa física é procurar o analista de sua corretora e perguntar se não há fatores importantes que possam ter deixado o preço de uma ação artificialmente interessante nas listas acima.
Gilberto Braga, professor do Ibmec, faz uma última ressalva. Por mais que os múltiplos de várias empresas brasileiras pareçam atrativos neste momento, se a bolsa continuar a ser prejudicada pelo alto endividamento dos Estados Unidos e da Europa, o investidor precisará ter bastante sangue frio para suportar eventuais desvalorizações ainda maiores no preço das ações. “O próprio ministro Guido Mantega já falou que o problema europeu e americano deve levar três anos para ser resolvido. Então não é uma boa ideia comprar ações agora se o investidor tiver um horizonte de lucro de curto prazo e não puder deixar o dinheiro aplicado por ao menos três anos.”