Mercados

Veterano vê Watergate no Brasil e recomenda compra de ações

Especulação sobre a queda de Dilma e ascensão de um governo que estabilize a economia já fez com que o Ibovespa tivesse melhor desempenho entre Bolsas no mundo


	Parte do complexo de Watergate: escândalo que derrubou Nixon tem paralelos com a crise brasileira, segundo investidor veterano dos EUA.
 (Jim Watson/AFP)

Parte do complexo de Watergate: escândalo que derrubou Nixon tem paralelos com a crise brasileira, segundo investidor veterano dos EUA. (Jim Watson/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de março de 2016 às 13h36.

O escândalo de corrupção que está abalando o Brasil tem levado os observadores a fazer uma série de comparações históricas que, argumentam, dão uma ideia do que vem por aí.

Uma das comparações tem como alvo o esquema de tráfico de influência que forçou a renúncia do presidente Fernando Collor de Mello, duas décadas atrás. Essa é uma das favoritas.

Outra é sobre a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002; não se trata de um escândalo, é verdade, mas mergulhou os mercados brasileiros em uma crise similar.

E há quem se agarre à investigação de corrupção Mãos Limpas (Mani Pulite), que sacudiu a Itália no início dos anos 1990.

Para um investidor veterano, porém, nenhum desses acontecimentos oferece o ponto de referência correto.

Monty Guild Jr. diz que o verdadeiro precedente -- do ponto de vista de um stock picker, pelo menos -- está bem para trás na história: o escândalo Watergate, no início dos anos 1970.

A firma de investimento estava nascendo na época e a crise, que derrubou o presidente dos EUA, Richard Nixon, foi educativa para ele. O principal aprendizado? Compre ações enquanto elas estão baratas.

Após cair em meio à turbulência política, o S&P 500 subiu nos meses seguintes à renúncia de Nixon, em 1974, ganhando 28 por cento ao longo de dois anos, quando a estabilidade política retornou a Washington.

“Nós tentamos comprar quando o sangue está rolando na rua”, disse Guild, que como chefe de investimento administra cerca de US$ 190 milhões em fundos de ações globais.

“Isso é muito parecido com o Watergate e depois do Watergate o que aconteceu? Onde há uma crise de confiança, os custos diminuem e há uma enorme oportunidade”.

Apesar dos 40 anos de diferença, parece haver diversas semelhanças entre os episódios.

Assim como a investigação sobre a invasão ao hotel Watergate, a investigação brasileira sobre a corrupção na Petrobras aumentou ao longo de dois anos de piora da turbulência econômica, eventualmente implicando a presidente Dilma Rousseff.

E assim como as famosas fitas que levaram à renúncia de Nixon, a gravação de uma conversa entre Dilma e seu antecessor acaba de deixá-la um passo mais perto do impeachment.

Os críticos dizem que a gravação, obtida por meio de um grampo feito pela polícia, sugere que Dilma nomeou Lula ministro para protegê-lo da investigação.

Guild atualmente prevê que o Ibovespa subirá até 20 por cento nos próximos dois anos, enquanto o real pode se valorizar até 50 por cento em relação ao dólar. (Essa projeção para o câmbio, em particular, é uma opinião bastante minoritária; o consenso entre os analistas é que o real se desvalorize 13 por cento até 2018).

Guild começou a montar posições em fevereiro, comprando ações de bancos como BTG Pactual e Bradesco. Seu maior fundo atualmente mantém 12 por cento de seu patrimônio investido no Brasil, empatado com o Canadá entre os países com maiores participações.

Esses investimentos pagaram dividendos rapidamente. A crescente especulação de que Dilma será removida do cargo, abrindo caminho para um governo capaz de restaurar as finanças do Brasil, já provocou uma alta de 29 por cento em dólares neste ano, transformando o Ibovespa no índice acionário de melhor desempenho do mundo.

Durante a recente fase difícil para as ações internacionais, o fundo de referência de Guild se saiu melhor que os demais. No período de 12 meses até janeiro, perdeu 5,2 por cento. O índice acionário global MSCI, referência para fundos como o de Guild, caiu 8,6 por cento no período.

“Todo mundo tolera um certo nível de corrupção, desde que haja algum benefício para a sociedade em geral”, disse Guild. “Mas quando o crescimento nacional para e se transforma em encolhimento do PIB, as pessoas se irritam e ficam mais dispostas a expulsar os políticos”.

Walter “Bucky” Hellwig, vice-presidente sênior da BB&T Wealth Management, compreende a tentação de se comparar o caso brasileiro ao Watergate, mas avalia que o paralelo deve ser feito com ressalvas.

O futuro dos preços das exportações de commodities brasileiras vai desempenhar um papel fundamental em determinar se o recente rali de ações é sustentável.

“Eu vejo uma tendência de alta intermediária no Brasil”, disse Hellwig, que ajuda a administrar US$ 17 bi do seu escritório em Birmingham, Alabama.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoCrise políticaEscândalosFraudesImpeachmentMercado financeiro

Mais de Mercados

Dólar a R$ 5,87. O que explica a disparada da moeda nesta sexta-feira?

Fim de uma era? TGI Fridays prepara recuperação judicial nos EUA

Eztec salta na bolsa com lucro 240% maior e short squeeze: até onde vai a ação?

Mercado de carros elétricos na China não é sustentável, diz CEO da GM