Invest

Tirou Petrobras da carteira? Analistas dizem como realocar o dinheiro em Bolsa

Papéis da companhia afundaram 20% hoje após decisão de Bolsonaro de trocar presidente da estatal; movimento leva junto outras estatais da Bolsa: BB cai 11% e Eletrobras, entre 3% e 4%

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

PB

Paula Barra

Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 16h33.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2021 às 18h41.

Em meio ao aumento do risco político no mercado, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar na última sexta-feira à noite de troca do CEO da Petrobras (PETR3; PETR4), e diversos cortes de recomendação por bancos e corretoras, as ações da petroleira afundaram 21% hoje, indo para o seu pior pregão desde o começo de março, no estouro da crise do coronavírus. O movimento desta segunda-feira, 22, levou junto também os papéis de outra estatal, os do Banco do Brasil (BBAS3), que caíram 11,65%, enquanto os da Eletrobras (ELET3; ELET6), que chegaram a recuar quase 10%, amenizaram as perdas e fecharam em baixa entre 0,2% e 0,7%.

Quer investir nas melhores ações de dividendos da Bolsa? Tenha acesso às recomendações dos especialistas da Exame Invest Pro

Entre as casas que já revisaram sua avaliação para os papéis, estão: o Credit Suisse, que cortou recomendação dos ADRs (American Depositary Receipts) da Petrobras de outperform, equivalente a compra, para underperform, equivalente a venda. Eles também cortaram o preço-alvo dos ADRs PBR.N, que correspondem aos papéis ordinários da petroleira, de 16,00 dólares para 8,00 dólares, o que implica em um potencial de desvalorização de 20,4% frente ao fechamento da última sexta-feira.

O banco também revisou a recomendação da Eletrobras, de outperform para neutra, assim como do BB, que foi rebaixado para neutro, com preço-alvo passando de 46,00 reais para 38,00 reais. Para eles, o anúncio de Bolsonaro aumenta a percepção de risco relacionado à interferência política não apenas na Petrobras, mas em outras estatais, lembrando que recentemente o BB esteve no holofote da mídia diante de rumores sobre demissão do presidente da instituição, André Brandão, após iniciativas de reestruturação do banco.

Aumentando esse coro, no fim de semana, Bolsonaro afirmou que era preciso” trocar as peças, que porventura, não estejam dando certo” e disse que nesta semana “tem mais”. Segundo coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, está na lista das próximas trocas previstas por Bolsonaro.

No caso de Eletrobras, os analistas do Credit Suisse apontam ainda que o discurso de Bolsonaro também aumenta as incertezas sobre as elétricas, uma vez que o presidente estaria considerando mudanças nas tarifas de eletricidade e, portanto, elevando os riscos para o setor, especialmente para a estatal.

A equipe de análise da Exame Invest Pro também recomendou nesta data vender as ações da Petrobras e BB, citando o contágio que o aumento da ingerência política pode provocar nas demais estatais. Na mesma direção, o Bradesco BBI foi outro que optou por sugerir a venda dos papéis da petroleira, além de cortar o preço-alvo de 34,00 reais para 24,00 reais.

A reavaliação do cenário para a companhia ocorre em meio à forte alta dos preços do petróleo, que tem puxado ganhos robustos das petroleiras internacionais. Com isso, "a decisão de cortar a recomendação das ações da Petrobras em um momento de rali dos preços da commodity pode soar estranho, ainda mais porque o papel está barato em Bolsa", escreveram os analistas do BTG Pactual. No entanto, eles comentaram que acreditam que "o mercado não irá pagar o preço enquanto as incertezas não forem esclarecidas". O banco também cortou a classificação das ações da Petrobras de compra para neutra, com preço-alvo em 29,00 reais.

Com essa série de revisões, como realocar os investimentos em Bolsa? 

Para o analista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, os investidores devem evitar neste momento empresas estatais e de setores que são mais afetados por uma inclinação da curva de juros, dada por uma maior precificação do risco-país, como construção civil, varejo e setor elétrico -- que, apesar de ser considerado resiliente, pode ser impacto pelas falas do presidente de que também vai "meter o dedo na energia elétrica".

"Mesmo acreditando que esses ativos [do setor elétrico] estão com preços atrativos, os recentes comentários de Bolsonaro deixam um sinal de cautela, principalmente tendo em vista que existem outras alternativas de alocação em Bolsa também com preços convidativos", comentou.

Entre esses papéis que vê como interessantes, Villegas apontou ações ligadas a commodities e exportadoras, por terem receitas em dólares e dependerem mais do cenário externo.

"O efeito da decisão de Bolsonaro nas ações das estatais já era esperado, mas acredito que essa situação acaba piorando bastante a questão fiscal, uma vez que o governo concluiu que essa conta dos preços do petróleo mais alto e dólar não vai ser paga pelo consumidor, comentou Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch. "Como consequência, podemos ter um atraso na recuperação econômica e piora nas expectativas. O calendário eleitoral acabou sendo antecipado com Bolsonaro concluindo que a política de preços da Petrobras é inconsistente com a popularidade que ele precisa para se reeleger".

Nesse sentido, ele aponta que prefere alocação em papéis cíclicos globais, como Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4), do setor de papel e celulose e empresas de proteína animal, ao invés de papéis cíclicos domésticos e menos ainda a setores regulados, como petróleo e energia elétrica, que também teve ameaça de interferência.

Os analistas do BTG Pactual comentaram que, diante desse aumento do risco político, têm três "hedges" (proteções) como favoritos: as ações de Vale (VALE3), Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11).

"Essas três ações se beneficiam do nosso call de 'super ciclo' de commodities (reflation trade), além de oferecerem também proteção contra uma possível desvalorização do real", escreveram em relatório desta segunda.

Segundo eles, o cenário não poderia ser melhor para esses papéis. "Vemos uma desvalorização do real em meio a um ciclo de alta dos preços das commodities, o que é raro. Normalmente, os preços das commodities sobem com um dólar fraco, o que realmente não ocorreu no Brasil (em função das pressões fiscais e aumento dos riscos políticos). Portanto, seguimos recomendando aumento de exposição em Vale, Suzano e Klabin", comentaram.

Henrique Esteter, da Guide Investimentos, que revisou hoje recomendação de Petrobras e Eletrobras de compra para neutra, disse que ainda segue com visão bastante positiva para exportadoras, citando que vê com bons olhos os setores de mineração, siderurgia, papel e celulose e frigoríficos. Para BB, ele disse que já havia cortado a classificação para neutra quando começaram a pipocar os rumores sobre uma possível saída de Brandão, em meados de janeiro.

De olho no setor de frigoríficos, destaque para as ações da Minerva (BEEF3). Os papéis foram adicionados hoje na carteira de ações da Exame Invest Pro após a retirada dos ativos de Petrobras e BB. Os analistas também sugeriram elevar alocação em Vale (VALE3) e Lojas Americanas (LAME4).

 

 

Acompanhe tudo sobre:AçõesEletrobrasKlabinPetrobrassuzanoSUZB3ValeVALE3

Mais de Invest

Resultado da Mega-Sena concurso 2.792; prêmio é de R$ 105 milhões

O que é espólio do falecido?

Dólar a R$ 5,87. O que explica a disparada da moeda nesta sexta-feira?

Fim de uma era? TGI Fridays prepara recuperação judicial nos EUA