Fabiane Heinisch: RI da Sanepar aposta em oferecer vários canais de atendimento | Foto: Divulgação (Sanepar/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 29 de setembro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 29 de setembro de 2021 às 10h07.
A Companhia de Saneamento do Paraná, a Sanepar (SAPR4), é atualmente uma das 10 empresas com maior base acionária de investidores pessoa física do Brasil. Até o final de agosto, a empresa contava com 433 mil acionistas, sendo que 431 mil deles eram pessoas físicas. Isso significa que 99,5% da base acionária da empresa é composta por CPFs.
Para a Sanepar, a presença esmagadora de investidores pessoa física pode ser explicada por uma atuação consciente de buscar mais liquidez para suas ações. Em 2016, a companhia tinha apenas 1.200 investidores e 90% dos papéis estavam nas mãos do controlador, o Estado do Paraná. Quando o governo reduziu sua participação para 60%, em 2019, a base de acionistas saltou para 65 mil.
Porém foi um desdobramento de ações em 2020 que fez a base de CPFs chegar às centenas de milhares. "A administração da companhia olhou para o crescimento de pessoas físicas na bolsa e viu uma oportunidade. Foi então que decidiu fazer o split de ações, um desdobramento de 3 para 1 que reduziu o preço dos papéis a um terço do que era antes”, explica Fabiane Heinisch, gerente de relações com investidores da Sanepar.
Atualmente os papéis preferenciais da companhia (SAPR4) são negociados em torno de 4 reais.
A estratégia deu certo. Enquanto o número de CPFs na bolsa avançou 220% entre maio de 2019 e o final de 2020, a porcentagem de investidores pessoa física na Sanepar saltou 516% no mesmo período.
Porém lidar com uma base tão grande de acionistas “não profissionais” pode ser um desafio para as equipes de relações com investidores das empresas. Isso porque as companhias estão mais habituadas a lidar com grandes investidores institucionais e analistas, que têm uma bagagem técnica muito mais robusta do que um investidor pessoa física.
Em entrevista à EXAME Invest, a gerente de RI da Sanepar falou sobre as estratégias e os desafios em gerir uma das maiores bases de acionistas pessoa física do Brasil.
Qual o principal desafio em lidar com uma base tão grande de acionistas que são pessoas físicas?
O principal desafio é adaptar a linguagem para prestar um atendimento de qualidade. Isso porque a pessoa física não é um analista de mercado ou uma pessoa jurídica que já está mais acostumado com a regulação e com os termos do mercado. O desafio é transmitir isso de forma transparente sem adentrar na estratégia da companhia, que de fato não pode ser divulgada.
É uma construção que estamos fazendo com eles, porque muitas vezes os pequenos investidores não fazem distinção entre aquilo que podemos de fato disponibilizar ou não. Também temos que nos preparar para explicar temas que afetam diretamente o setor, como questões tarifárias -- coisa que outros investidores não perguntam.
É um pouco mais difícil, mas é interessante porque eles são bastante próximos. São investidores que são muito participativos e querem entender cada passo da companhia.
Que tipo de estratégia a Sanepar utiliza para fornecer esse atendimento?
Antes de tudo é importante ter claro que todos os acionistas da base são importantes, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. Então precisamos apresentar as informações que o mercado julga necessárias e esclarecê-las da melhor forma possível para todos os públicos.
O que fizemos especificamente para os acionistas pessoa física foi diversificar a comunicação oferecendo vários canais de atendimento. Nós temos um mailing list com 10.000 cadastrados que recebem todas as comunicações que a Sanepar envia à B3 a à CVM, além de todas as nossas políticas e notícias internas.
Também deixamos disponíveis e-mail e telefone direto para contato e a procura é bem alta: 85% das ligações recebidas pelo RI são de pessoas físicas. Para lidar com esse volume, estabelecemos um limite de tempo máximo para as ligações -- mas é importante deixar esse canal aberto porque muitos investidores buscam esse contato mais próximo.
E, além das dúvidas, também colhemos sugestões dos investidores para realmente fazer a ponte entre o acionista e a alta administração da companhia.
Já houve alguma mudança por sugestão desses investidores pessoa física?
A própria renovação dos canais de comunicação é um exemplo. Até 2017, nós tínhamos uma seção dentro do site da companhia no qual eram reportados os dados para os investidores. No ano seguinte, por solicitação dos investidores pessoa física, desenvolvemos um site separado, com todos os temas de interesse do acionista.
Com a pandemia, algumas reuniões e até mesmo assembleias passaram a ser feitas virtualmente, facilitando o acesso do pequeno investidor a essas discussões. Como a Sanepar lidou com esse processo?
Achamos muito interessante o recurso virtual porque a nossa base é muito grande e está espalhada por todo o Brasil. Isso facilita porque muitas vezes o investidor não tem a oportunidade de estar fisicamente presente na assembleia realizada na sede da Sanepar no Paraná. Mas ainda não implementamos a assembleia virtual porque não tínhamos clareza da CVM sobre o que poderia ser feito ou não.
Agora que outras empresas já adotaram o modelo, estamos estudando a condição, conversando com alguns prestadores de serviço que já tiveram sucesso oferecendo a opção para outras companhias. É algo que está no nosso horizonte para implementar, talvez, já no próximo ano. As teleconferências de mercado e as reuniões de acionistas já estão sendo feitas também por vídeo porque percebemos um interesse grande do público interessado nesse formato.
Qual a importância de ter pessoas físicas na base? Quais são os pontos positivos?
É muito positivo que mais pessoas comentem sobre a companhia e conheçam, de fato, nossas atividades. É dar a oportunidade para que o investidor conheça não só o negócio, mas o que a companhia preza em termos de valores, porque nós trabalhamos com saneamento, que é um setor indispensável para a vida.
Esse pode ser, inclusive, um dos fatores de atração para a ação: as pessoas têm interesse em investir em algo que sabem como funciona, que vivenciam no dia-a-dia.