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Preço do cacau desaba 27% em dois dias: o que está acontecendo?

No início de março, os preços mais que haviam dobrado num período de apenas um ano

As colheitas na África Ocidental foram prejudicadas por doenças agrícolas e condições climáticas adversas (Bean to Bar Vietnam/Divulgação)

As colheitas na África Ocidental foram prejudicadas por doenças agrícolas e condições climáticas adversas (Bean to Bar Vietnam/Divulgação)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 30 de abril de 2024 às 08h36.

A variação da cotação do cacau vem surpreendendo investidores. A commodity já caiu 27% em apenas dois dias, algo histórico para a matéria-prima do chocolate.

Segundo a Bloomberg, os preços futuros caíram até 13% em Nova York na terça-feira depois de terem registrado no dia anterior uma queda que remonta a 1960. O recuo marca uma reviravolta acentuada em relação ao início do mês, quando os preços dispararam para um recorde de mais de US$ 11.000 a tonelada devido a uma histórica crise de oferta.

Mesmo com a recente retração, o cacau quase dobrou de preço desde o início do ano. E isso tornou mais caro a manutenção de posições e levou os investidores a fecharem negociações, o que esgotou a liquidez e tornou o mercado mais vulnerável a grandes oscilações de preços.

A recuperação do cacau tornou-o mais caro do que o cobre, e a grande questão era até onde os preços poderiam chegar. Para Pierre Andurand, um gestor de fundos ouvido pela Bloomberg, que apostou na subida dos preços do cacau antes do enorme aumento recente, há espaço para as cotações futuras ultrapassarem US$ 20.000 neste ano.

E por que os preços estão oscilando tanto?

As colheitas na África Ocidental foram prejudicadas por doenças agrícolas e condições climáticas adversas, piorando as colheitas de Costa do Marfim e Gana (os dois maiores produtores do planeta) e forçando os dois países a prorrogarem os contratos de fornecimento. O montante pago aos agricultores também está muito abaixo dos preços do mercado global, tornando os produtores menos capazes de investir nas plantações e aumentar a produção.

Ainda assim, o fim do El Niño poderá ajudar a recuperar as colheitas no próximo ano, fazendo com que os preços, que dispararam nos últimos meses, encontrem um novo equilíbrio entre oferta e demanda.

Cacau Show investirá R$ 1 bilhão para a produção de cacau no Brasil

O preço do cacau atinge níveis recordes na bolsa de valores de Nova York. Os lotes da amêndoa para maio foram negociados, pela primeira vez na história, a 11.311 dólares a tonelada. A alta tem efeito direto nas margens das varejistas de chocolate e é refletida em movimentos inéditos, como da Cacau Show, que investirá 1 bilhão de reais para o desenvolvimento de 7.000 hectares de cacau no Brasil, em até 10 anos.

"O Brasil tem cerca de 600.000 hectares para a produção de cacau. Neste cenário, o anúncio de novos 7.000 hectares é um desafio hercúleo", diz Alexandre Costa, fundador e presidente da Cacau Show, em entrevista exclusiva à EXAME.

Há onze anos a Cacau Show investe na fazenda própria,  a Dedo de Deus, em Linhares, no Espirítio Santo. É de lá que sai o cacau para a produção do chocolate Bendito Cacao. Mas, atualmente, apenas 3% da matéria-prima utilizada nos produtos  são oriundos dessas fazendas.

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