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Juro em alta lá fora e no Brasil também: as melhores ações no novo cenário

Com alta dos juros futuros nos EUA e risco fiscal no Brasil, especialistas apontam que a volatilidade deve continuar ditando o mercado e a bolsa; mercado já precifica alta de 0,50 ponto do Copom

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

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Paula Barra

Publicado em 3 de março de 2021 às 08h05.

Última atualização em 3 de março de 2021 às 12h00.

(Germano Lüders/Exame)

O sentimento de maior aversão ao risco — que levou o Ibovespa para seu segundo mês seguido de perdas em fevereiro — ainda deve perdurar entre os investidores em março, pelo menos nas primeiras duas semanas. Para especialistas do mercado, o índice de ações da Bolsa ainda deve passar por um ajuste antes de retomar sua tendência de alta de médio e longo prazo. 

A leitura, em geral, é que o cenário segue construtivo para Bolsa, mas a acentuada subida dos juros futuros nos Estados Unidos nos últimos dias do mês passado assustou, levantando preocupações sobre pressões inflacionárias por lá. Além disso, por aqui, a tumultuada destituição do CEO da Petrobras pelo presidente Jair Bolsonaro também não ajudou. 

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Em dólares, o Ibovespa acumula no ano o pior desempenho entre as bolsas de valores da América Latina, com queda de cerca de 14%. Em real, o recuo é de 6,3%, sendo que em fevereiro a desvalorização foi de 4,4%.

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"A alta expressiva da curva de juros dos EUA acabou pressionando o mercado no fim do mês passado. Os juros dos títulos americanos com vencimento em 10 anos chegaram a bater em 1,6% nos últimos dias do mês, sendo que essa taxa estava perto de 0,85% no fim do ano passado", disse Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.  

"Acreditamos que, no começo de março, o mercado ainda deve ter que digerir esse movimento, esse novo patamar para a curva de juros americana". 

Na prática, a curva de juros teve essa rápida inclinação nos EUA em meio a expectativas de que uma aceleração mais forte da economia do país possa levar a uma maior inflação no curto prazo. O medo é que justamente essa inflação faça eventualmente o Federal Reserve antecipar a retirada de estímulos monetários no país (que têm sido um dos grandes motores para a alta dos ativos de risco por lá ao longo dos últimos anos).

"Os mercados passaram a operar em um modo de risk-off (fuga do risco) e a bolsa brasileira claramente navegou em cima disso também”, comentou Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez

Para ele, a volatilidade ainda deve seguir pelo mês de março, apontando ainda que as questões internas não ajudam. “Tivemos a interferência do Executivo na Petrobras, que não foi bem digerida pelo investidor estrangeiro e também não contribui para o humor local". As ações da Petrobras (PETR4) caem 22,4% no ano. 

A piora do ambiente externo e as preocupações com a situação fiscal e de governança no Brasil levou os investidores estrangeiros a sacarem 6,8 bilhões de reais da B3 em fevereiro, interrompendo três meses seguidos de entrada líquida de recursos. 

Mas não foi apenas a Bolsa que foi afetada. O ambiente de incerteza doméstica e acomodação dos juros americanos levou também investidores a pedirem mais prêmio, isto é, juros em troca da aplicação nos títulos da dívida do governo brasileiro, enquanto o dólar escalou para a casa dos 5,66 reais, acumulando do fim de janeiro para cá alta de 3,5%.

O copo meio cheio

Dando um alento ao cenário, apesar do movimento de baixa recente do mercado, o analista sênior de mercados emergentes da Gavekal Research, Udith Sikand, e o analista de desenvolvimento macroeconômico e estratégias de investimentos da Ásia, Vincent Tsui, comentaram que o aumento dos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos não deve, necessariamente, representar uma ameaça aos mercados emergentes.

Em relatório da EXAME Gavekal Research, a parceria da Gavekal com a EXAME Invest Pro, Sikand e Tsui afirmam que o que incomoda os investidores é o temor de um ciclo de destruição caso o aumento dos juros nos EUA desencadeie uma fuga de capital dos emergentes, pressionando para baixo as moedas e gerando queda nos preços dos ativos locais, o que provocaria ainda mais saídas de capital.

No entanto, olhando para uma janela mais ampla, apontam que, desde o início de agosto de 2020, quando o juro de 10 anos dos EUA atingiu o fundo do poço um pouco acima dos 0,5% e começou sua escalada para o nível atual de cerca de 1,40%, as ações dos mercados emergentes subiram quase 30%.

Além disso, eles mencionam que os emergentes, incluindo o Brasil, desfrutam de posições externas mais fortes do que em qualquer momento dos últimos anos, o que pode contribuir para que esses mercados resistam a prováveis aumentos nos juros desses títulos em relação ao patamar atual.

Adicionalmente, o resultado de uma recuperação contínua dos EUA deve impulsionar o crescimento das exportações dos emergentes, assim como deve ajudar a apoiar uma recuperação na demanda doméstica desses países. E isso favorece os ativos locais.

O que fazer nesse cenário?

O risco aumentou, mas o "reflation trade" — busca por papéis que se beneficiam de uma retomada econômica global aliada com alta da inflação — deve continuar, segundo os especialistas. Nesse sentido, ações ligadas a commodities, principalmente minério, seguem praticamente como unanimidade entre as preferidas de gestores e analistas.

Na carteira da gestora Helius Capital, as principais posições atualmente vêm das ações da Vale (VALE3), de siderúrgicas e da Suzano (SUZB3).

"Além do cenário favorável para commodities, esses papéis funcionam também como uma certa proteção, por serem ligados a empresas exportadoras", comentou William Leite, sócio-fundador da Helius Capital.

Para ele, o cenário é muito bom para commodities, diante de perspectivas positivas para o crescimento global e uma percepção de que a inflação nos EUA não vai subir a um nível tão relevante que faça o Fed retirar os estímulos.

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Carregamento de minério de ferro em Duisburg, na Alemanha: preço da commodity sustenta as cotações de mineradoras como a Vale (Krisztian Bocsi/Bloomberg)

Além disso, a situação doméstica requer um pouco mais de atenção, mas "não dá para esquecer que a Bolsa brasileira é muito pesada em commodities e bancos, que querendo ou não ganham com esse cenário (de reflation trade)", ressaltou Leite.

Do lado oposto, ele disse que tem evitado papéis de empresas que dependam muito de juros, como de energia elétrica e infraestrutura, por conta do risco fiscal no Brasil e o movimento dos juros longos nos EUA.

Em relatório com dez ações recomendadas para março, os analistas do BTG Pactual comentaram, que, embora o risco tenha aumentado no Brasil, ainda seguem com visão positiva para economia global, mantendo exposição em ativos que se beneficiam desse cenário. Na carteira, a principal alocação é em Vale (VALE3), com participação de 15% do portfólio.

Além disso, na visão deles, com o recente sell-off do mercado, o Ibovespa (excluindo as ações da Petrobras e Vale) voltou a ser negociado a um valuation mais atrativo, com um múltiplo preço sobre o lucro (P/L) para os próximos 12 meses no patamar de 13,7 vezes, o que o deixa apenas um pouco acima da sua média histórica (em 12,8 vezes).

Já a gestora Occam disse, em carta aos cotistas referente à performance de fevereiro, que aumentou um pouco mais o "hedge" (proteção) da carteira este mês, mas que segue vendo oportunidades na bolsa brasileira em setores de commodities, tecnologia e saúde, embora tenha apontado que o risco macroeconômico do país aumentou com a deterioração fiscal.

De olho nos juros 

A carta da Occam chama atenção ainda para um evento importante neste mês: a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 16 e 17 de março.  

Para a gestora, essa piora nas perspectivas fiscais do país deve motivar o Copom a iniciar um processo começar de ajuste da política monetária já este mês

Pelo movimento da curva de juros, as apostas majoritárias do mercado são as de uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic agora.

Segundo Zanini, caso essa expectativa seja confirmada, será "importante para começar a ancorar novamente o real". Só neste ano, a dólar tem uma valorização de 9,2%, tendo fechado ontem cotado em 5,66 reais.  

Vale lembrar ainda que a próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 16 e 17 de março, nas mesmas datas em que acontecerá também a reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), do banco central americano, o Fed.

Embora o mercado não trabalhe com uma expectativa de alta da taxa de juros nos EUA agora, o evento será acompanhado de perto, uma vez que o Fed divulgará também suas projeções atualizadas para a economia, enquanto os investidores buscarão sinalizações sobre possíveis mudanças futuras na sua política monetária.  

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