Investidor observa monitores com cotações de ações na BM&FBovespa: para Rogério Bastos, apesar das incertezas, a queda do mercado foi muito forte e deixou alguns papéis baratos (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2013 às 09h58.
São Paulo - A queda da bolsa para 53 mil pontos pode ser uma oportunidade para o investidor diversificar um pouco suas aplicações, afirma Rogério Bastos, gestor de patrimônio, integrante do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) e sócio da IRR Finance.
Para ele, apesar das incertezas com relação ao desempenho da economia brasileira no médio prazo, em meio às mudanças de regras do governo e os problemas com a inflação, a queda do mercado foi muito forte e deixou alguns papéis baratos. “Não digo que é um investimento de longo prazo, mas talvez até o índice voltar para 58 mil, 59 mil pontos.”
Bastos, que é sócio também de uma empresa que assessora investimentos imobiliários em Miami, a BiscayneBay, acha que a melhor opção no momento para o investidor é ficar com mais dinheiro em caixa, em aplicações indexadas ao CDI, esperando oportunidades que podem surgir com a alta dos juros e seu impacto nos demais mercados. Mas algumas coisas já começam a ser atrativas, como é o caso da bolsa.
Juros reais seguirão baixos
As perspectivas não são muito boas para os investidores no Brasil, afirma. Os juros reais, apesar da alta da taxa básica Selic esperada para hoje, não devem subir significativamente e a inflação tende a continuar elevada, anulando os ganhos das aplicações de renda fixa. Com isso, quem quiser manter o retorno de seus investimentos vai ter de procurar outras opções, alongar prazos e correr mais riscos. “Quem planejava aposentadoria só com renda fixa vai ter muito mais dificuldade em atingir seus objetivos”, afirma ele.
Para Bastos, não faz mais sentido um investidor em previdência se classificar como conservador. “Não tem jeito, se quiser juntar dinheiro suficiente, o investidor vai ter de correr risco, aplicar em bolsa, e é melhor que ele faça isso desde cedo para diluir o risco de perdas em 10, 15, 20, 30 anos”, diz.
Ele chama a atenção para o fato de que muita gente ainda não tomou consciência dessa mudança. “Vejo planos de previdência fazendo estimativas contando com um juro real de 6% ao ano, o que dará problemas no futuro quando a pessoa for se aposentar”, afirma Bastos.
NTN-B para longo prazo
Ele vê como uma alternativa de proteção para o investidor os papéis atrelados à inflação, como as Notas do Tesouro Nacional série (NTN-B), que pagam juros mais IPCA. Os juros desses papéis voltaram a subir nos últimos dois meses, superando 4% ao ano para os prazos mais longos, o que é um retorno acima da inflação bem razoável, afirma.
Mas Bastos observa que, mesmo nesses papéis, o investidor precisa estar preparado para oscilações à medida que os juros do mercado flutuem. Quando os juros sobem, os papéis com taxas prefixadas, corrigidos pela inflação ou não, perdem valor no mercado.
“Mas o juro que ele acertou na aplicação vai valer até o vencimento, só que, se ele ficar olhando todo dia para as oscilações do mercado, vai ficar desesperado achando que está perdendo dinheiro”, diz.
“Nos Estados Unidos, as pessoas compram papéis para daqui cinco, dez anos, não ficam olhando o preço do título todo dia no mercado”, afirma. “Ou mesmo quando se compra um CDB de um banco, o preço também oscila todo dia, mas ninguém fica comparando.”
Ele dá o exemplo dos investidores em fundos renda fixa índices, que tiveram perdas neste início de ano. “Não acho que as pessoas que perderam devam sacar desses fundos agora, pois eles tendem a render mais daqui para frente com os papéis ajustados aos juros mais altos”, diz.
Para Bastos, o investidor precisa escapar da armadilha de se assustar e sair da aplicação que perdeu. “Fazendo isso, normalmente o investidor perde a recuperação que viria em seguida e fica no prejuízo”, diz.
Foi assim na crise de 2008, quando o mercado acionário despencou e depois recuperou boa parte das perdas em 2009. O ideal para decidir é olhar as perspectivas para as aplicações, e não apenas o que elas perderam.
Fundos imobiliários sob pressão
Ainda no campo da diversificação, Bastos vê como opção os fundos imobiliários, mas alerta que os preços das cotas e dos imóveis já subiram bastante e reduziram o rendimento dos investidores nessas carteiras. Agora, com a alta dos juros, esses fundos tendem a sofrer com o impacto sobre as cotas negociadas em bolsa e sobre os preços dos imóveis que compõem suas carteiras. “Talvez essa alta dos juros faça o mercado se ajustar e os preços das cotas recuarem, abrindo oportunidades para compras”, afirma.
Estudo feito por uma corretora mostra perdas médias neste mês, até dia 12, de 1,6% nas cotas de fundos imobiliários corporativos, mas há casos de quedas maiores, como o Caixa Cedae, que cai 7,41%, e o SP Dowtown, que perde 8,27%.
Investimento no exterior
Outra opção de diversificação é o investimento no exterior, que deve crescer nos próximos anos com a manutenção dos juros reais baixos no Brasil, afirma Bastos. Isso dependerá ainda do desenvolvimento de mecanismos operacionais que facilitem as aplicações lá fora, acredita.
“Ainda precisamos de mais avanços da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central, mas esse deve ser o caminho nos próximos anos”, diz. Uma das alternativas é o mercado imobiliário americano, que teve fortes perdas desde a crise do subprime em 2008, e que ainda apresenta oportunidades para investidores.
Foi o que animou Bastos abrir a Biscaynebay. A empresa tem parcerias com imobiliárias e consultorias americanas que avaliam os imóveis, verificam sua situação legal, pendências tributárias e fazem a compra e depois cuidam da manutenção do imóvel. Já Bastos, no Brasil, orienta o investidor na operação.