Riscos de mercados emergentes estão em queda, aponta estudo (Brendan McDermid/Reuters)
Paula Barra
Publicado em 7 de março de 2021 às 12h00.
Última atualização em 7 de março de 2021 às 16h10.
Na última quinta-feira, 4, o Credit Suisse publicou seu relatório anual de retornos de investimentos globais de 2021, que é compilado há mais de duas décadas por um trio de historiadores financeiros da London Business School, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton.
O estudo, que oferece dados desde 1900, abrange 32 mercados individuais, sendo que nove foram incluídos neste ano, entre eles, o Brasil.
O relatório deste ano dá uma atenção especial aos mercados emergentes, que têm ganhado cada vez mais importância na alocação das carteiras de investimentos globais.
“Os emergentes são agora investimentos convencionais, com papel essencial nas carteiras globais. Eles já são importantes demais para serem ignorados”, escreveram Dimson, Marsh e Staunton, no relatório.
Hoje, os mercados emergentes representam 14% da capitalização do mercado de ações mundial e 43% do PIB (Produto Interno Bruto) global. Há 20 anos, correspondiam a menos de 3% do universo de ações do mundo e 24% do PIB.
Para os professores, essa fatia deve aumentar ainda mais. A relevância dos mercados emergentes “deve crescer de forma constante, à medida que essas economias continuem a avançar a passos mais rápidos do que o mundo desenvolvido, que os mercados domésticos se abram ainda mais para investidores globais e que a porcentagem do free float (das ações em circulação no mercado) aumente”, comentaram.
Além disso, eles ressaltaram que, com os mercados perto de novos recordes, esta é a hora dos investidores refletirem sobre o que esperar do futuro.
“A geração baby boomers se beneficiou de um desempenho excelente de ações, títulos e portfólios combinados com ambos os ativos. Seus netos da geração Z enfrentarão um futuro com uma expectativa muito mais reduzida de retornos sobre investimento”, pontuou Marshal.
Enquanto a geração baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) experimentou um retorno real anualizado de 7,1% para investimentos em ações e cerca de 6,4% de um portfólio combinado (com 70% de ações e 30% em títulos), a geração Z (nascidos de 1997 a 2012) deve ter que lidar com um retorno bem menor, mostra o estudo.
Nas projeções dos professores, as ações devem oferecer um retorno real anualizado de 3% enquanto um portfólio combinado (com ações e títulos), de cerca de 2% — ou praticamente um terço do desfrutado pelas três gerações anteriores.
"Muitos poupadores, investidores, fundos de pensão e instituições serão desafiados por um mundo de baixo retorno", disseram. Nesse sentido, o caminho mais atrativo para enfrentar isso, apontaram, deverá ser pela busca da diversificação.
Abaixo, cinco gráficos do relatório do Credit Suisse que mostram por que o mundo deve voltar os olhos para os emergentes:
Hoje, os emergentes correspondem a 14% da capitalização do mercado de ações global e 43% do PIB mundial, contra uma fatia de 3% e 24%, respectivamente, há 20 anos.
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A volatilidade anualizada de um portfólio diversificado em mercados emergentes — sendo representados pelo índice MSCI Emerging Markets — está em 17,6%, apenas um pouco acima de um portfólio diversificado em mercados desenvolvidos — representados pelo índice MSCI World —, em 15,1%, mostra o estudo.
Portanto, "os investidores não devem ser dissuadidos de investir em emergentes por causa do risco. O risco caiu drasticamente ao longo dos últimos 20 anos", comentaram os professores.
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Segundo o relatório, a correlação média entre os mercados emergentes e desenvolvidos cresceu nos últimos anos, mas ainda permanece bem abaixo de um, o que indica que esses ativos ainda oferecem uma boa alternativa de diversificação para o investidor, além do benefício com a redução do risco.
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Embora os mercados desenvolvidos tenham superado o retorno dos emergentes no acumulado de 1900 até 2020 (com ganhos, em dólares, de +16.714%, contra +2.943%), desde 1960, os emergentes têm superado a performance das ações de países desenvolvidos em 1,5% ao ano.
De acordo com o estudo, de 1960 até 2020, o retorno anualizado dos emergentes foi de 11,2%, versus 9,5% dos desenvolvidos. No entanto, considerando de 1900 até o ano passado, a rentabilidade anualizada é de 6,8%, contra 8,4%.
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Os professores apontaram ainda que, em termos de retornos sobre ações, o mundo emergente tem oferecido "uma perspectiva de um desempenho potencialmente fabuloso para os mercados individuais".
"Este foi o caso do Japão no pós-Segunda Guerra Mundial; posteriormente, ele se tornou um mercado desenvolvido. De forma semelhante, tem havido retornos excelentes em Hong Kong (hoje também considerado um mercado desenvolvido), na Coreia do Sul e em Taiwan", comentaram.
Da análise individualizada de 12 mercados, Taiwan é o que mostra o maior retorno real anualizado em dólares de 10,4%, enquanto o Brasil aparece na lanterna, com 5,5%. Em termos relativos, Taiwan também lidera, superando os mercados desenvolvidos em 4,4% ao ano. O pior desempenho relativo vem do Brasil, que, desde o início da série observada no estudo (em 1951), teve um desempenho inferior em 1,3% ao índice de mercados desenvolvidos.
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A China, hoje maior mercado emergente (com 39% de peso entre essa classe de ativos), teve um desempenho real anualizado de 6,3%, em linha com os mercados desenvolvidos. "Isso apesar de um crescimento sem precedentes do PIB real do país nos últimos 30 anos de 9,2% ao ano, contra 2,3% para os EUA. Isso é um lembrete da falta de relação entre o crescimento do PIB de longo prazo e o desempenho das ações", comentaram os professores.