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Country Garden, gigante chinesa do setor imobiliário, tem queda de 96% no lucro

A crise da maior construtora chinesa mostra a crise que o setor imobiliário da segunda economia do mundo está enfrentando

Country Garden (Country Garden/Exame)

Country Garden (Country Garden/Exame)

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A crise do setor imobiliário continua se agravando na China. A maior empreiteira do país, a Country Garden, registrou um declínio de 96% nos lucros do primeiro semestre.

A empresa indicou a "grave depressão" no mercado imobiliário do país como causa dessa crise, na qual "somente os mais aptos conseguem sobreviver".

Entre janeiro e junho deste ano a Country Garden registrou um lucro líquido de 612 milhões de yuans (cerca de US$ 88 milhões), uma queda de 96% em comparação com o lucro de 15 bilhões de yuans (cerca de US$ 2 bilhões) obtido no mesmo período do ano passado.

No mês passado a empresa tinha alertado sobre a possibilidade de queda do lucro, mas em "apenas" 70%. A queda maior do que o esperado surpreendeu negativamente o mercado.

“Em 2022, o setor imobiliário enfrentou inúmeros desafios, incluindo o enfraquecimento das expectativas do mercado, demanda lenta e queda nos preços dos imóveis”, informou a empresa em comunicado.

“Tudo isso exerce uma pressão crescente sobre todos os participantes do mercado imobiliário, que deslizou rapidamente para uma depressão severa. O ambiente de negócios severo no qual apenas os mais aptos podem sobreviver significa requisitos ainda mais altos para a força competitiva das empresas", escreveu a Contry Garden.

A incorporadora possui milhares de projetos imobiliários em quase 300 cidades espalhadas em toda a China, e suas ações estão listadas na Bolsa de Valores de Hong Kong, onde registraram uma queda de quase 70% desde o começo do ano.

Entenda a crise do setor imobiliário na China

A crise do setor imobiliário chinês começou a dar seus primeiros sinais há quase um ano, quando a segunda maior incorporadora do país asiático, a Evergrande, informou que talvez não seria capaz de cumprir suas obrigações com dívidas offshore, denominada em dólares.

A incorporadora se tornou a empresa mais endividada do mundo, com passividades de cerca de US$ 300 bilhões.

Na época, analistas do mercado acreditavam que empresas como a Country Garden, que não possuíam um endividamento tão elevado, não seriam atingidas pelos mesmos.

Todavia, o problema não era apenas a dívida da Evergrande, mas o esgotamento do modelo de crescimento do mercado imobiliário chinês, que acabou espalhando uma crise de confiança em todo o setor, com uma queda de 40% nas vendas.

Os preços dos imóveis começaram a cair rapidamente, muitas casas e prédios acabaram não sendo completados, e muitos proprietários irritados começaram a não pagar mais as parcelas de suas hipotecas.

Uma derrocada extremamente preocupante, pois o setor imobiliário representa entre 30% e 40% do Produto Interno Bruto (PIB) da China, valendo cerca de US$ 60 trilhões.

A perspectiva do setor se tornou ainda mais grave por causa dos lockdowns impostos pelo governo chinês para tentar conter os novos surtos de Coronavírus (Covid-19), que paralisaram muitos canteiros de obras.

No primeiro semestre do ano já 30 empresas deram calote no primeiro semestre de 2022 em dívidas denominadas em dólares. Muitos analistas estão prevendo perdas de cerca de US$ 130 bilhões nos mais de US$ 200 bilhões de dívidas.

Cidades fantasmas, prédios inacabados e risco de insolvência

As causas da crise são muitas: a oferta supera a demanda há anos. O governo está forçando uma urbanização em tempo recorde há 20 anos, o que deu origem a bairros fantasmas, com apartamentos não vendidos ou - pior - inacabados devido à crise de liquidez das incorporadoras privadas. Por fim, o acesso fácil ao crédito criou uma bolha que cresceu descontroladamente.

Agora, muitas famílias se encontram com contrato que não será respeitado pelas incorporadoras, e não pagam as hipotecas inacabadas do apartamento. Essa "revolta das hipotecas" acaba sobrecarregando ainda mais os balanços dos bancos chineses, que poderiam enfrentar problemas de solvência.

O risco de uma crise econômica e de protestos populares em larga escala é exatamente aquilo que o Partido Comunista Chinês (PCC) não quer. Especialmente com o Congresso do Partido no dia 16 de outubro, que confirmará o atual líder chinês, Xi Jinping, para um terceiro mandato.

Para tentar conter a situação, o governo chinês vai liberar empréstimos de US$ 29 bilhões para que as incorporadoras consigam terminar os projetos não completados. Uma medida que dificilmente vai conseguir evitar que a crise imobiliária se alastre para o resto da economia.

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