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Bolsa tem grande espaço para rali após as eleições, diz Franklin Templeton

Alta deve independer de resultado, segundo Sampaio; bolsa brasileira está "muito barata" e em "posição privilegiada" no mercado internacional, disse em entrevista à EXAME Invest

Frederico Sampaio, CIO da Franklin Templeton Investments: "Parece que a eleição está muito apertada. Não dá para ter convicção de nada" (Franklin Templeton/Divulgação)

Frederico Sampaio, CIO da Franklin Templeton Investments: "Parece que a eleição está muito apertada. Não dá para ter convicção de nada" (Franklin Templeton/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 29 de outubro de 2022 às 07h55.

Última atualização em 29 de outubro de 2022 às 08h59.

Os brasileiros definem neste domingo, 30, quem irá comandar o país pelos próximos quatro anos. Sem um grande favorito para o segundo turno das eleições, pesquisas apontam que a margem de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou do presidente Jair Bolsonaro deverá ser mínima. Mas, independentemente do resultado, Frederico Sampaio, CIO da Franklin Templeton Investments, acredita que há um grande espaço para um rali na bolsa brasileira após as eleições.

"A nossa bolsa já está aguentando muito desaforo em termos de valuation. Só precisa dessa definição de cenário", afirmou Sampaio em entrevista à EXAME Invest. "Acho que tem muita margem para ter um belo rali."

O CIO ressalta, no entanto, que, ao menos no curto prazo, a bolsa deve se beneficiar mais de uma vitória de Bolsonaro -- especialmente as ações de estatais. "Imagino que uma vitória do Bolsonaro pode provocar forte alta no mercado. Mas o beta mesmo vai ser nas estatais. Se o mercado subir 4%, as estatais sobem 10%. Se o mercado cair 3% na vitória do Lula, as estatais caem 7%. O jogo vai ser em cima delas."

A procupação do mercado, segundo Sampaio, é quanto ao "uso político" das estatais em um eventual governo Lula. "[O PT] tem o discurso de 'vamos ter responsabilidade fiscal', por mais que não tenha o detalhamento. Mas com as estatais nem essa preocupação existe. No último governo do PT, a Petrobras (PETR4) quase quebrou. Por isso, as estatais concentram mais essa diferenciação."

Apesar das incertezas de como será o plano econômico de um eventual governo Lula, Sampaio não vê a escolha de um nome político para o Ministério da Economia como necessariamente negativo.

"No primeiro mandato do Lula, entrou o Palocci, que era desconhecido do mercado, um médico. Pelo currículo, seria uma catástrofe. Mas ele surpreendeu positivamente, com pessoas muito competentes abaixo dele. As coisas andaram", disse. "Já no segundo mandato da Dilma [Rousseff], entrou o Joaquim Levy, que era um nome técnico, mas não tinha autonomia. É aquela história: 'uma andorinha não faz verão'."

Com passagens pela Petros, BBM e Rio Bravo, Frederico Sampaio está desde 2004 na Franklin Templeton. A gestora, com sede nos Estados Unidos, está entre as maiores do mundo, com mais de US$ 1,4 trilhão em investimentos. Confira a entrevista com Frederico Sampaio, CIO, Franklin Templeton Investments.

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A bolsa tem passado por grande voltailidade nos últimos dias atrelada às eleições? Como o mercado tem visto a disputa presidencial? 

O mercado ficou bem animado com o resultado do primeiro turno. As pesquisas haviam levado a uma crença de uma vitória bem fácil do Lula. Mas o resultado, principalmente no Senado, mostrou maior representatividade do espectro conservador e uma disputa muito mais apertada na corrida presidencial. O mercado se animou porque a margem de manobra para um programa petista ficou muito mais estreita do que se falava.

Ainda que não tivesse um programa de verdade, o discurso do Lula era de revisar a reforma trabalhista, acabar com o teto de gastos sem colocar nada no lugar e rediscutir a privatização da Eletrobras (ELET6). Era uma agenda bombástica. A eleição mais apertada levou Lula mais ao centro para angariar apoio. O problema é que ainda não veio nada muito concreto. Se fala muito de gasto, mas da parte do financiamento, da responsabilidade fiscal, não se fala nada detalhadamente.

Essa incerteza sobre como será tocada a política econômica é muito ruim para o mercado, né?

Na prática, é isso. O mercado não tem a torcida por um ou outro candidato, mas o mindset da parte econômica, hoje, é completamente desconhecido. 

Um nome político para assumir o Ministério da Economia em um eventual governo Lula seria necessariamente negativo? 

Não seria uma surpresa, é o que o mercado está esperando. Acho difícil o Lula não escolher um político, porque ele já disse isso várias vezes. Mas não sei se, necessariamente, vai ser ruim. Terá que ver quem vai estar embaixo. 

No primeiro mandato do Lula, entrou o Palocci, que era desconhecido do mercado, um médico. Pelo currículo, seria uma catástrofe. Mas ele surpreendeu positivamente, com pessoas muito competentes abaixo dele. As coisas andaram, foi um período bom o primeiro mandato. Já no segundo mandato da Dilma [Rousseff], entrou o Joaquim Levy, que era um nome técnico, mas não tinha autonomia. É aquela história: "uma andorinha não faz verão". Foi fogo amigo todo dia, desde o dia 1.

A vitória de nenhum dos dois candidatos foi precificada?

As pesquisas estão mostrando uma vantagem para o Lula. Algumas mostram resultado oposto, mas com a margem bem pequena. Parece que a eleição está muito apertada. Não dá para ter convicção de nada.

Quem na bolsa deve se beneficiar mais ou menos, dependendo do resultado? 

A grande diferença será nas estatais. Obviamente, [o vencedor] tem diferença para o mercado. Imagino que uma vitória do Bolsonaro pode provocar forte alta no mercado. Mas o beta mesmo vai ser nas estatais. Se o mercado subir 4%, a estatal sobe 10%. Se o mercado cair 3% na vitória do Lula, as estatais caem 7%. O jogo vai ser em cima delas.

A aposta do mercado no Bolsonaro deriva da expectativa de que ele seja fiscalmente mais responsável?

Acho que sim, mas também do fato de que não sabemos o que vem do outro lado. Conhece-se o que é a cabeça do PT, não necessariamente a do Lula. A gente sabe o que é que o PT pensa, de colocar nada no lugar [do teto de gastos]. Então, acho que o medo é muito mais do desconhecido.

Lula no poder é uma ameaça ainda maior para a política de preços da Petrobras?

Há o risco de acabarem com a política de preços e de passarem a olhar o custo de produção e não mais o preço internacional do petróleo. No caso dos bancos públicos, pode haver uma política parecida com o governo Dilma. Quem vai ser o presidente da Petrobras? Vai ser de novo um senador, como foi com o [José Eduardo] Dutra lá atrás, que era um membro do partido [PT]? É isso que assusta. O programa do PT prevê o uso de estatais como mecanismos de política pública. É o uso político das estatais.

[O PT] tem discurso de "vamos ter responsabilidade fiscal", por mais que não tenha não tenha o detalhamento. Mas com as estatais nem essa preocupação existe. No último governo do PT, a Petrobras quase quebrou. Por isso, as estatais concentram mais essa diferenciação.

Com o PT, os dividendos robustos da Petrobras se tornarão algo do passado?

Não dá para saber. Esse é o ponto. Pelo o que está sendo dito, há razões para acreditar que, no mínimo, vai diminuir bastante. Todas as declarações foram na linha populista. Se não há uma definição de política econômica e nem de ministro [da Economia], imagina para as estatais?

Apesar de todas as incertezas é consenso no mercado que a bolsa está muito barata. Esse "barato" independe do resultado da eleição?

Um critério firme é o preço/lucro projetado (P/L). Nossa bolsa está em 6,5x P/L. Só me lembro de ter atingido esse patamar em 2015, quando se pensava que o impeachment da Dilma não iria mais para frente. A média histórica da bolsa está muito mais próxima de um P/L de 11,5x. Indiscutivelmente, nossa bolsa está muito descontada.

Isso garante qua a bolsa vai subir?

Depende. O cenário externo não ajuda para um bom desempenho. Mas a bolsa brasileira já está num ponto de estresse completo e que não conversa nem mesmo com o cenário da incerteza associado ao Lula. Não parece que ele fará como a Dilma fez. Acho improvável. Então, a nossa bolsa está muito barata.

Se pensar que o país caminha para ser uma Argentina, uma Venezuela, a bolsa a 6x P/L parece no preço justo. Mas não parece ser o caso. A nossa bolsa já está aguentando muito desaforo em termos de valuation. Só precisa dessa definição de cenário. A coisa boa do resultado da eleição, independente de quem ganhe, vai ser a resolução das incertezas. Acho que esse será o grande ativo da eleição. Mesmo que seja ruim, pelo menos se saberá as regras do jogo. 

Poderá haver um rali, com grande entrada de estrangeiro nos últimos meses do ano?

Acho que tem muita margem para ter um belo rali. No cenário global, o Brasil está muito bem na foto. As bolsas estão sendo destroçadas nos Estados Unidos. O que está acontecendo lá é semalhante ao que houve no Brasil em 2021, com inflação alta e elevação da taxa de juros. Essa alta de juros fez um um estrago na nossa bolsa. Mas neste ano estamos numa posição privilegiada.

O Brasil já fez todo o ajuste de juros que está sendo feito só agora nos Estados Unidos, onde a inflação tem rodado na casa de 8% e 9%. No Brasil, a inflação está sendo revisada para baixo e o PIB esperado está perto de 3%. Até seis meses atrás a expectativa era de crescimento zero.

Só que o Brasil tem essa incerteza enorme da eleição e vai se ter esse desdobramento agora. Se essa incerteza for resovida e o anúncio [do vencedor] indique preservação do crescimento ou até aceleração, o Brasil tem toda a capacidade de abraçar um fluxo estrangeiro muito grande. Estamos começando a colher frutos de reformas, como a da previdência, que foram adiados com a chegada da pandemia. O que precisa para o investidor estrangeiro ganhar confiança são evidências de que não não vamos colocar tudo isso a perder.

A perspectiva também é positiva para o câmbio? O real deve se valorizar, apesar das altas de juros nos EUA?

O Brasil depende do Brasil. Se fizer as coisas certas, vai atrair fluxo, mesmo com juros mais altos lá fora. Há uma bela chance de vermos o real se apreciando.

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