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‘Confusão’ no consignado não detém Banco Mercantil, que vê lucro dobrar em um ano

Originação de empréstimos recua no segundo trimestre, mas banco vê oportunidade para voltar a acelerar o crescimento

Gustavo Araújo, CEO do Banco Mercantil, projeta retomada do crescimento nos próximos meses (Banco Mercantil/Divulgação)

Gustavo Araújo, CEO do Banco Mercantil, projeta retomada do crescimento nos próximos meses (Banco Mercantil/Divulgação)

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Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 9 de agosto de 2023 às 08h45.

Última atualização em 9 de agosto de 2023 às 09h36.

O Banco Mercantil atingiu um novo recorde no segundo trimestre, e pela primeira vez na história apresentou um lucro de nove dígitos. A companhia registrou um lucro líquido de R$ 100,2 milhões no período, uma alta de 108% frente aos R$ 48,2 milhões apurados no mesmo intervalo do ano passado.

O resultado foi alcançado em meio a um desafio: a confusão sobre o teto do consignado. O Banco Mercantil tem um público focado em clientes com mais de 50 anos e o consignado é uma das principais linhas de negócio da empresa. Mesmo com status de banco médio, o Mercantil tem 5% de participação nesse mercado.

O imbróglio começou em março, quando o ministro da Previdência, Carlos Lupi, aprovou no Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) uma redução do teto dos juros do consignado do INSS de 2,14% ao mês para 1,70%. A decisão foi tomada sem diálogo com os bancos, que reagiram bloqueando a concessão do crédito até que se chegasse a um consenso

Os dias de impasse sobre o acordo atrapalharam a originação de novas dívidas no crédito consignado, que caíram 5% no segundo trimestre no caso do Mercantil. Na comparação trimestral, o baque mostrou uma forte redução da velocidade de concessão: a queda foi de 26,7%. A indústria como um todo, por outro lado, teve baixa trimestral de 24% na originação do consignado.

Mesmo com o pé no freio, a carteira de crédito do Banco Mercantil cresceu 4% frente ao primeiro trimestre, para R$ 12,7 bilhões. O destaque foi para a modalidade saque aniversário do FGTS, que subiu 25% no período. Na variação anual, a carteira avançou 28%. Vale destacar que 75% da carteira do Mercantil é formada por consignado e FGTS.

Para Gustavo Araújo, CEO do banco, o que explica o bom desempenho mesmo em um cenário turbulento para uma de suas principais linhas de negócio foi a busca por um equilíbrio mais conservador.  

“Poderíamos ter crescido num ritmo maior se fosse mantido o compasso do primeiro trimestre. Mas temos preservado as linhas mais defensivas nesse momento de alta inadimplência e discussões de aspectos regulatórios. Isso, aliado ao crescimento em serviços, nos permitiu preservar o resultado e crescer”, afirmou Araújo em entrevista à EXAME Invest.

A mudança no consignado, no entanto, ainda não saiu do radar. Com o primeiro corte da taxa Selic em três anos, Lupi já voltou a falar em redução dos juros no INSS. Para Araújo, a queda da Selic ainda não é material o suficiente para dar margem a essa discussão. “Mas se a redução ocorrer no futuro, o corte nos juros terá contribuído do lado do passivo. Além disso, várias linhas vão melhorar, será um movimento bastante favorável aos bancos de varejo”, disse.

O Banco Mercantil não fornece ao mercado projeção de resultados para o restante do ano, mas o CEO adianta que a expectativa é de retomada da originação de crédito – ainda que isso signifique sacrificar parte da rentabilidade.

Mesmo com o viés de crescimento em primeiro plano, a expectativa é manter o retorno sobre patrimônio líquido (ROE), que indica a capacidade de rentabilizar seu capital, em um patamar alto, acima dos 20%. Neste trimestre, o ROE do Mercantil ficou em 21,2%, avanço de 5,4 pontos percentuais em um ano. O indicador ficou acima do registrado pelo Itaú, maior banco privado brasileiro.

Banco Mercantil em números

O Banco Mercantil alcançou 7,2 milhões de clientes no segundo trimestre, alta anual de 35%

A receita total do Mercantil atingiu R$ 940 milhões no período, crescimento de 32% na base anual. A receita de prestações de serviços subiu 39%, para R$ 140 milhões. Por sua vez, a margem financeira líquida ficou em 22,8% no trimestre, alta de 2,1 pontos percentuais (p.p.).

Na frente de crédito, a inadimplência longa, acima de 90 dias, segue controlada em 2,8%, abaixo do patamar do Sistema Financeiro Nacional que estima uma inadimplência média de 4,9%. O indicador caiu 0,7 pontos percentuais na comparação ano a ano.

Já as perdas para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 436 milhões, baixa de 8% frente à mesma janela do ano anterior.

O patrimônio líquido do banco é de R$ 1,425 bilhão.

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