Americanas: ações caíram 96% desde o início da crise (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 27 de junho de 2024 às 16h49.
Última atualização em 28 de junho de 2024 às 11h07.
Já faz quase um ano e meio desde que os esquemas de fraude na Americanas se tornaram públicos, mas a companhia ainda está longe de retomar a confiança do mercado. Em janeiro do ano passado, quando o então recém-empossado presidente da empresa, Sérgio Rial, anunciou as manipulações contábeis, os papéis caíram 81%. No entanto, as perdas não cessaram.
Próximas do menor patamar da história, as ações da Americanas são cotadas atualmente a R$ 0,40, em queda de 56% neste ano e de 96% em relação ao início do ano passado. Em valor de mercado, a redução foi de R$ 8,7 bilhões para R$ 360 milhões, o que coloca a empresa entre as 90 menores da bolsa dentro de um universo de 337 companhias.
Em contrapartida, a Americanas tem a maior dívida entre as empresas em recuperação judicial. Segundo levantamento da Quantum Finance, o passivo é estimado em R$ 50,8 bilhões, o que equivale a cerca de 165 vezes seu valor de mercado.
Por estar em recuperação judicial, a Americanas foi excluída de todos os principais índices de ações, como o Ibovespa. Só isso já reduz o fluxo de investimento para a companhia, uma vez que os ETFs que seguem os índices deixam de comprar as ações. Outra consequência é a menor cobertura por parte de analistas.
Desde que entrou em recuperação judicial, caiu drasticamente a quantidade de relatórios de grandes bancos sobre a empresa. Duas das maiores casas de investimentos, por exemplo, não publicam análises sobre a Americanas há mais de um ano. Entre gestores, a grande maioria sequer cogita comprar a ação, independentemente dos níveis de preço. A percepção do mercado é de que, diante do nível de incertezas, o risco é imensurável.
Com a necessidade de desmontar as manobras contábeis do balanço, a Americanas está com suas divulgações de resultados defasadas. Enquanto o restante do mercado se prepara para a publicação do balanço do segundo trimestre, a varejista ainda não apresentou o balanço do quarto trimestre. No resultado referente ao terceiro trimestre, a receita líquida vinha de um tombo de 45% no acumulado do ano, em R$ 10,3 bilhões, com prejuízo calculado de R$ 4,6 bilhões.
Diante desse cenário, a empresa passou por um esvaziamento em seu corpo de acionistas. A base de investidores institucionais, representada por fundos de investimentos, caiu para menos de um quinto do que era antes da crise. De acordo com dados da própria Americanas, entre seus acionistas, 563 eram investidores institucionais. Hoje, são 111. A empresa também perdeu o apoio de grandes fundos internacionais, como Nuveen, BlackRock e Capital International Investors, que deixaram de ter posições relevantes em ações da Americanas.
Essa menor presença de grandes investidores se reflete no volume de negociação das ações na bolsa, que tem girado próximo de R$ 6 milhões por dia, bem abaixo dos cerca de R$ 212 milhões que a empresa girava em meados de 2022, o que afasta fundos maiores devido à falta de liquidez.
O que aumentou desde o início da crise foi a base de pessoas físicas que investem na empresa. O número de investidores em relação ao início do ano passado cresceu de 146.366 para 213.966. O fenômeno repete o padrão de comportamento dessa classe de investidores, que, na busca de uma apreciação acelerada, costuma ser atraída por ações de empresas que recentemente passaram por uma forte desvalorização. Até agora, no entanto, a estratégia não tem funcionado.