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Redação Exame
Publicado em 30 de junho de 2024 às 10h00.
A mineração de bitcoin está emergindo como um setor estratégico na América do Sul, atraindo investimentos massivos e prometendo transformar o cenário econômico e energético da região. Nações como o Paraguai mantêm uma forte política de incentivo para que mineradores de bitcoin instalem suas fazendas na região. A nação inclusive afirmou que, pelo acordo de Itaipu, prefere vender energia para mineradores de bitcoin do que para o Brasil.
Assim, a cada quinze dias, um novo player anuncia a alocação de dezenas de megawatts em infraestruturas na América Latina, firmando contratos com concessionárias locais ou empresas privadas de geração de energia. Este movimento, que se intensificou nos últimos 45 dias, inclui a Bitfarms expandindo seu parque em 100 MW no Paraguai, a Penguin investindo em novas subestações no mesmo país, e a Enegix estabelecendo escritórios no Brasil.
No Paraguai, o congresso se articula para lidar com o crescimento explosivo do setor de mineração de criptomoedas. A demanda crescente por energia, se bem-organizada, pode ser mais vantajosa financeiramente para o país do que a venda de energia ao Brasil. Segundo Javier Giménez, ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, os mineradores de bitcoin chegam a pagar até 3 vezes mais do que o valor pago pelo Brasil com o acordo de Itaipu.
As receitas geradas pela venda de energia aos mineradores são significativamente maiores e proporcionam benefícios econômicos de longo prazo, incluindo a criação de empregos, importações e qualificação de mão de obra.
Diante desses benefícios, os mineradores paraguaios de bitcoin nutrem um sentimento de otimismo quanto à regulamentação do setor, que vem sendo debatida no Senado do país. No entanto, forças opostas tentam moldar a legislação conforme seus interesses, resultando em uma debandada de mineradores e um excesso de máquinas usadas à venda.
No Brasil, os novos mineradores de criptomoedas encontram um cenário distinto. A energia disponível nas redes de distribuição não é economicamente viável para a mineração, devido ao seu alto custo por megawatt. A solução, muitas vezes, envolve parcerias com geradores privados e operações off-grid.
Apesar dos desafios, há inúmeras oportunidades de negociação com geradores privados, que enfrentam dificuldades no mercado livre de energia devido a uma regulamentação no setor energético do país — que consegue prejudicar todo mundo: geradores de energia, distribuidores e consumidores.
Neste cenário, o potencial de geração de energia a partir de biogás e biometano é enorme no Brasil, tendo em vista as dezenas de plataformas de gestão de resíduos no país. A mineração de bitcoin pode viabilizar diversos projetos off-grid, trazendo soluções ecológicas para a gaseificação de resíduos, além de gerar emprego e renda para a população e uma nova indústria para as cidades que abrigam essas operações.
Na Argentina, a segurança jurídica melhorou e o governo parece ter encontrado um caminho após décadas de instabilidade econômica. Novas operações de mineração de bitcoin estão surgindo, especialmente em áreas como a reserva de Vaca Muerta, onde se busca a mitigação do metano nas operações de óleo e gás.
As mineradoras na Argentina estão se posicionando como prestadoras de serviços, consumindo o metano excedente das plantas de extração e processamento de petróleo. Este gás, que muitas vezes não é viável comercialmente devido à ausência de gasodutos, é queimado diretamente nos poços, um processo conhecido como flare.
A mineração de bitcoin oferece uma alternativa ecológica, eliminando a necessidade de queima, beneficiando o meio ambiente, gerando empregos e movimentando a economia local.
A mineração de bitcoin na América do Sul encontra uma matriz energética muito mais limpa e assume um papel de serviço, com a mitigação de metano e a viabilização econômica de operações de aterros sanitários, biodigestão e instalações renováveis off-grid.
No entanto, o cenário para empreender é mais desafiador em comparação aos Estados Unidos. Regras mais complexas para importação e um sistema tributário intrincado são comuns na região, isso sem falar em casos de corrupção que afetam principalmente mineradores menores.
Além disso, o setor privado de energia, conservador por natureza, muitas vezes não vê a mineração de criptomoedas como um modelo seguro, o que dificulta a celebração de contratos de longo prazo.
A desconfiança gerada por esquemas fraudulentos desmascarados no passado também contribui para a relutância dos geradores privados em considerar contratos com mineradoras de bitcoin.
Portanto, assim como na negociação de criptoativos, no setor de mineração é necessário um esforço de educação para que esses players entendam os benefícios e a segurança que estas operações podem gerar ao país, como vem ocorrendo no Paraguai, onde os governantes estão entendendo como a mineração de bitcoin pode ajudar a resolver de forma eficiente o problema relacionado ao excedente de energia.
Portanto, apesar dos desafios, a mineração de bitcoin na América do Sul apresenta um potencial enorme. Aos novos entrantes, sejam bem-vindos. Aos que expandem, boa sorte.
*Eduardo Meyer é COO da FMI, empresa do ramo de mineração de bitcoin.
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