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Advogada
Publicado em 3 de agosto de 2024 às 10h00.
Se dados são o novo petróleo, a inteligência artificial (IA) talvez seja a nova refinaria. Afinal, hoje, apesar de empresas serem capazes de captar uma grande quantidade de dados, ainda são poucas aquelas capazes de criar estruturas tecnológicas para a efetiva extração de valor de tais informações.
Neste sentido, a inteligência artificial seria capaz de processar e extrair desses dados, insumos e informações que realmente serão aplicáveis para criação de novos modelos de negócios e desenvolvimento econômico a partir da eficiência gerada.
Contudo, além de todas as questões éticas que permeiam o tema, quando somamos a tecnologia blockchain e as redes públicas à mistura, preocupações e possibilidades afloram sobre os benefícios dessa utilização ou a potencial exploração por agentes mal-intencionados.
O termo inteligência artificial, cunhado no final dos anos 50 por John McCarthy, ainda não mostra sinais de obsolescência na adoção popular, apesar de ser muito debatido se tal expressão de fato traduz o que conceitualmente entende-se como seu objeto.
Fato é que desde a criação do termo, a evolução tecnológica foi gigantesca e se traduziu em uma enorme quantidade bruta de dados que são capturados em todos os aspectos da nossa vida cotidiana. Não à toa, os marcos legais sobre proteção de dados no Brasil e no mundo também ganharam destaque. Agora um novo tema também tem sido intensamente debatido: o uso da IA nesse mundo de dados.
Contudo, navegar nesse mar de dados não é tarefa fácil e nem barata. Cientistas de dados e desenvolvedores de modelos de análise tornaram-se os refinadores artesanais desse tipo de informação, sendo responsáveis pela tradução para aplicabilidade prática. E cada vez mais esse conhecimento tem lapidado algoritmos e sistemas de informação para automatizar diferentes tipos de uso.
O próprio Projeto de Lei 2.338 de 2023 em trâmite de aprovação legislativa, define como inteligência artificial, o sistema baseado em máquina que, com graus diferentes de autonomia e para objetivos explícitos ou implícitos, infere, a partir de um conjunto de dados ou informações que recebe, como gerar resultados, em especial, previsão, conteúdo, recomendação ou decisão que possa influenciar o ambiente virtual, físico ou real.
Ou seja, a partir do refino da IA, os dados tornam-se o combustível necessário para gerar resultados, ou seja, influenciar o mundo virtual, físico ou real. Mas a questão que fica é: influenciar como? Fazendo uso da analogia proposta, vamos pensar metaforicamente em mover algo de um ponto A para o ponto B. Mas o que seria esse algo? E aqui reside uma grande questão.
Afinal um motor a combustão poderia mover uma ambulância, ou, um tanque de guerra. Ou seja, a tecnologia é neutra, mas a aplicabilidade prática dificilmente irá se despir totalmente de um viés. E nesse sentido uma outra questão intimamente relacionada à inteligência artificial, a ética será de suma importância.
Nas palavras do professor Newton de Lucca, vivemos em um cenário em que a competitividade e a busca incessante por resultados positivos podem, muitas vezes, sobrepor-se à moral e à ética.
Considerando sobretudo o cenário em que temos blockchains públicos muito relevantes, tais informações serão um poço de petróleo inesgotável a céu aberto para qualquer um refinar. Afinal uma característica inerente a muitos criptoativos em redes abertas é a publicidade das transações disseminadas por protocolos descentralizados.
E muitos dos fatores positivamente revolucionários da tecnologia residem nessa premissa, ainda que redes permissionadas também representem casos de uso muito importantes da tecnologia.
Mas, considerando os aspectos de descentralização e transparência, já é uma realidade atual que haja o cruzamento de informações on-chain e off-chain para mapeamento e identificação de wallets como forma de previsão da movimentação do mercado com os mais diversos (e alguns menos nobres) objetivos.
A IA poderia analisar padrões de transação, correlacionar dados de transações com fontes de dados externas (por exemplo, mídias sociais), e potencialmente vincular endereços de blockchain a identidades do mundo real. Recentemente o governo norte americano migrou parte de sua posição em bitcoin para a Coinbase, diluindo a possibilidade de acompanhamento direto da wallet que era até então atribuível a ele por uma inteligência de mercado que cruzou informações públicas disponíveis.
Dessa forma, a sistematização de IA somada à transparência do mercado de criptoativos (potencializada pela descentralização), poderá ser utilizada para explorar falhas com o objetivo de manipular estes mercados. Seja por negociação de alta frequência (HFT), mapeamento de wallets e padrões de movimentação, antecipação por análise de transações em fila de validação, poderão ser desenvolvidos métodos mais eficazes para cyber hacking.
Gary Gensler, chefe da Securities and Exchange Comission nos Estados Unidos, trouxe que a utilização indiscriminada de IA com um número restrito de algoritmos poderá deflagrar a próxima grande crise do sistema financeiro.
Em contrapartida, a IA também atuará na contramão dessas iniciativas utilizando os mesmos preceitos para coibir lavagem de dinheiro, identificação de wallets vinculadas à atividade criminosa, atuação em locais sancionados e identificar práticas reiteradas de manipulação de mercado.
Diversas utilizações benéficas da IA que hoje são guardadas a sete chaves ou obtidas mediante pagamento proporcional ao esforço de navegar esse mar de informações anonimizadas e a ampla adoção de tais algoritmos poderia ser muito benéfica para a higidez do mercado como um todo.
Não se trata, portanto, de uma questão se deveríamos misturá-los. Eles irão se misturar. E como milênios de história humana nos ensinaram, a superveniência de uma nova tecnologia, seja ela blockchain ou IA, sempre terá bons atores e maus atores. Ou seja, a refinaria é agnóstica, mas a predominância de quais motores ela irá alimentar serão determinantes para os próximos anos.
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