Sol é uma das criptomoedas para ficar de olho em março (Reprodução/Reprodução)
Especialista em criptoativos
Publicado em 20 de julho de 2024 às 10h00.
Os ciclos das criptomoedas são impulsionados por narrativas: ideias, histórias ou explicações que surgem para justificar ou interpretar o comportamento dos preços e tendências no mercado.
São construídas a partir de eventos, dados, percepções e sentimentos dos investidores, e podem ter impacto significativo nas decisões de investimento.
Muitas delas nascem e morrem sem muitas implicações. Algumas acabam se destacando, atraem a atenção da mídia e, quando vemos, todo o mercado está mobilizado em torno daquelas ideias.
Vamos pegar como exemplo o bitcoin. Lá no início de sua trajetória, o ativo se popularizou da pior forma possível.
Entre 2011 e 2013, o bitcoin foi usado como meio de pagamento em um mercado clandestino que ficou conhecido como Silk Road (Rota da Seda). Era uma plataforma online que operava na dark web para venda de drogas e armas.
O FBI conseguiu encerrar o site que já registrava uma movimentação bilionária, apreendendo cerca de 144 mil bitcoin. Até hoje o governo americano tem parte dessas moedas. Inclusive, os EUA foram os primeiros detentores de bitcoin em escala por conta do episódio.
Em 2016, outra tentativa de manchar a reputação do bitcoin foi baseada na alusão à falta de lastro, ou seja, não teria algo físico, palpável, que garantisse a moeda. A contrapartida veio no questionamento, agora, do lastro do dólar, que, neste sentido, também não possui.
Ambos existem com base na confiança dos usuários. No caso do dólar, essa confiança estaria relacionada à solidez do sistema norte-americano, como referência econômica e regulatória. Já no caso do bitcoin, estaria associada à tecnologia: uma rede com desempenho praticamente impecável em toda a sua história.
O Bitcoin Uptime Tracker (abaixo) mostra que a rede do bitcoin tem sido funcional 99,98914859% do tempo desde o início de sua operação, em 3 janeiro de 2009.
A má fama com que sofria o bitcoin foi sendo desconstruída à medida que se adquiriu um entendimento maior do ativo e do mercado.
Em 2020, um grande acontecimento marcou essa mudança de paradigma. A MicroStrategy adotou o bitcoin como ativo de reserva de valor, sendo a primeira empresa de capital aberto a seguir a estratégia. Hoje, detém 1% de todos os bitcoins. Companhias como a Tesla seguiram o movimento.
As narrativas podem contemplar um cenário mais macro, com questões relacionadas à economia americana, por exemplo, e também micro, que neste caso estaria limitado à criptoesfera em si, como NFTs, DeFi, aidrops e por aí vai. Macro e micro impactam o mercado de formas diferentes, mas se complementam em análise ampla.
Acredito que estamos vivendo a segunda fase do ciclo de alta. Na primeira fase, uma das maiores narrativas foi o halving. Quando esse evento acontece, o preço do bitcoin tende a disparar, gerando expectativas nos investidores, que começam a comprar antecipadamente ao evento.
Impulsionado pela narrativa, o bitcoin saiu dos US$ 16 mil no início de 2023 e valorizou quase 5 vezes. Nesta segunda fase do ciclo, o que há de narrativa macro ao meu ver?
Existe, porém, um aspecto para ficarmos de olho nesse cenário. É normal, quando há uma queda de juros, o mercado sentir bastante e, em um curto espaço de tempo, podemos ver um pequeno crash na bolsa de valores americana. É natural que o baque impacte também negativamente os ativos digitais, mas não deve passar de algo momentâneo.
No meu ponto de vista, será mais positivo do que negativo para as criptomoedas, porque, nesse quadro conturbado, o mercado cripto acaba se estabelecendo como um porto seguro para os investidores.
Ao analisar as narrativas macro, micro e as informações on-chain, colhidas da própria blockchain, percebo que, em geral, os dados e as perspectivas são positivas, apontando para um cenário de alta.
Não acreditem em quem propaga que o mercado de baixa começou, porque não é verdade. Vamos ter mais pernadas de alta e o bitcoin deve buscar patamares maiores.
No campo hoje da narrativa, não tem como deixarmos de fora o ETF à vista de ether. Vimos recentemente o poder do impacto de um ETF à vista com o bitcoin, que funcionou como um grande catalisador para a valorização do preço do ativo.
Com o ether, o processo está se dando de forma diferente. O ETF de bitcoin foi aprovado e imediatamente listado, enquanto o de ether, ainda que aprovado, não foi lançado. Existem alguns rumores no mercado que apontam para um possível lançamento no dia 23 deste mês, vamos aguardar.
O que aconteceu com o preço do ether?
Vínhamos de um período por volta de 11 de março deste ano no qual o ativo atingiu US$ 4.000 e, na sequência, caiu praticamente 30% (como destacado em vermelho no gráfico abaixo), chegando a tocar o patamar de US$ 2.800 em 15 de maio. Foi quando nos deparamos com os rumores de que o ETF seria aprovado: o ether sai de cerca de US$ 3.050 e volta a subir 30% com a possibilidade de aprovação.
A aprovação acontece, mas a listagem não, então o mercado se frustra e o ether cai dos US$ 4.000, bate nos US$ 2.800, mas volta a se recuperar para cerca de US$ 3.400.
Na minha percepção, podemos ver o ether superando novamente os US$ 4.000 com a listagem. As pessoas compraram a expectativa de aprovação para não ficar de fora e o preço subiu. Com o produto efetivamente rodando no mercado, vai acontecer algo diferente, pois teremos a entrada real de capital novo no mercado, o que vai impulsionar a criptomoeda.
No caso do bitcoin, testemunhamos uma entrada massiva, de bilhões. Atualmente, existem cerca de US$ 60 bilhões em ETF de bitcoin, para uma capitalização de mercado (market cap) atual da moeda de US$ 1,3 trilhão.
Se olharmos o ether, o ativo tem cerca de US$ 400 bilhões de market cap. Suponhamos que haja uma entrada entre US$10 bilhões e US$20 bilhões ou até US$ 40 bilhões no ETF de ether com o seu lançamento. Será um impacto significativo. Portanto, acredito que a cripto deva superar os US$ 4.000 após a listagem e veremos o patamar de preço do ether se estabelecendo de forma diferente.
Outra narrativa que vem se fortalecendo no universo dos ETFs cripto envolve a Solana, candidata a ganhar o seu próprio fundo negociado em bolsa. Desta forma, as perspectivas de termos ETFs de outras moedas e produtos diversos se ampliam. Uma importante porta que se abre para o crescimento da adoção das criptomoedas.
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