Amy Webb é uma das mais famosas futuristas do mundo (Febraban Tech/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 27 de junho de 2024 às 15h05.
Última atualização em 28 de junho de 2024 às 10h42.
A futurista Amy Webb participou nesta quinta-feira, 27, do último dia do evento Febraban Tech 2024, em que compartilhou seu diagnóstico sobre o atual momento socioeconômico do Brasil considerando os inúmeros avanços tecnológicos que têm atraído a atenção do mercado e da população, com destaque para a inteligência artificial.
Na visão de Webb, "a indústria bancária está no epicentro da transformação digital no Brasil". "Dizem que [os bancos] estão se movendo devagar, que as big techs estão indo mais rápido, e os bancos estão indo devagar, mas não é bem assim", aponta a especialista em novas tecnologias.
Em sua fala, Webb destacou que o Brasil é chamado de "país do futuro" desde 1941, e essa frase voltou a ganhar força em 2024, com uma performance econômica melhor que o esperado e na comparação com outros países. Entretanto, ela avalia que "o Brasil ainda está vivendo no passado em alguns sentidos".
"As maiores empresas do Brasil, que mais contribuem com a economia, ainda são do século 20, de commodities, mineração, agricultura. Elas ajudaram a desenvolver o ecossistema brasileiro, estão indo melhor que o esperado, mas são indústrias que estão no processo de uma disrupção. A mudança está vindo", alertou.
Webb afirmou que é preciso que as indústrias brasileiras "liderem o país, a região e o mundo", mas isso exige uma mudança de postura das lideranças empresariais em relação às novas tecnologias: "Os líderes estão agindo de forma estranha, priorizando a iteração ao invés da inovação. O foco está em manter o status quo, então estão parados".
"Quando pensamos em inteligência artificial, era difícil conseguir a atenção dos líderes. Agora, todos estão interessados, mas guiados ou por medo ou pelo FOMO ['medo de ficar de fora', na tradução literal]. As indústrias não estão se preparando para a transformação gerada pela IA, não estão se movendo rapidamente e preferem uma abordagem rígida, de cima para baixo", comentou.
A futurista explicou que, por um lado, as grandes empresas estão paralisadas, com dificuldade para lidar com novas tecnologias e a inovação necessária. Já as empresas jovens, como startups, "acham que estão perdendo a onda e precisam se mover rápido, quase sem pensar".
É necessário, portanto, que as empresas tenham o que a futurista chama de "previsão estratégica", entendendo onde e como atuar. "Toda a indústria do planeta está em uma transição. É normal se sentir sobrecarregado. Uma sensação de que não está se movendo rápido o suficiente, com uma competição intensa. O Brasil pode ser o país do futuro, mas precisa se desprender do medo e do FOMO", disse Webb.
E essa mudança é ainda mais urgente devido ao cenário de um "superciclo de tecnologia", algo que Webb afirma ser inédito na história mundial. Em geral, tecnologias disruptivas surgiam de forma individual, como a eletricidade, a energia a vapor e a internet. Dessa vez, porém, Webb vê uma combinação de três novas tecnologias: a inteligência artificial, os sensores e a biotecnologia, apoiada na "Internet das Coisas".
"Pode ser um grande ciclo de produtividade. Cada uma é uma tecnologia com propósito geral. Elas podem radicalmente remodelar uma economia e a sociedade. Quando essas tecnologias se expandem, há um superciclo de alta demanda que eleva os preços de commodities e outros serviços. É algo que pode se estender por anos, décadas, e vai gerar mudanças estruturais na economia", projeta.