O retorno da Oracle: como a empresa se tornou uma vencedora improvável na corrida da IA
Veterana dos softwares chegou atrasada na corrida da nuvem, mas agora voltou ao hype como um dos principais destinos para infraestrutura de IA
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 18:55.
Última atualização em 11 de setembro de 2024 às 10:20.
Depois de perder o bonde da computação em nuvem na última década, a Oracle correu atrás do prejuízo e vem se destacando como uma das grandes vencedoras na corrida pela inteligência artificial.
Menos sexy à primeira vista do que nomes como Nvidia, Meta ou Microsoft, a empresa de 47 anos, que se consagrou com seus sistemas de gestão de base de dados, vem ganhando um novo apelo com o crescente interesse de desenvolvedores de AI pelas suas soluções de infraestrutura em nuvem.
As ações vêm batendo as máximas e sobem mais de 40% no acumulado do ano, contra 11% da Nasdaq – levando a companhia a figurar entre as 20 maiores dos Estados Unidos, com US$ 433 bilhões de valor de mercado.
Só nesta terça-feira (10), os papéis subiram mais de 12% após a divulgação do balanço do primeiro trimestre. A receita com infraestrutura de nuvem para IA teve um salto de 45% na comparação anual, para US$ 2,2 bilhões, superando a expectativa dos analistas.
A expectativa é de crescimento exponencial: atualmente, as receitas com IA representam 15% do faturamento com nuvem. Nas contas do Morgan Stanley, essa fatia deve passar para 50% já em 2027.
“Esperamos uma rotação [de investimentos] de empresas de semicondutores para infraestrutura de nuvem e os resultados da Oracle podem ser um gatilho”, escreveu a equipe do Itaú BBA em relatório.
A revitalização da Oracle, que já foi vista como dinossauro que ficou atrás na corrida tecnológica, tem duas teses centrais.
Primeiro, uma espécie de vantagem de retardatário. A Oracle de fato chegou tarde à corrida da nuvem, mas fez do limão uma limonada. Sua infraestrutura de 162 data centers, construída nos últimos anos, é projetada para lidar com as necessidades específicas de treinamento de modelos de IA – e já foi amortizada ao longo dos últimos anos.
Com isso, a empresa se posicionou como uma opção competitiva e de portfólio vasto em um momento de demanda explosiva por infraestrutura de computação de alta performance.
Outra vantagem é que a Oracle é vista como um player ‘neutro’. A companhia não está desenvolvendo seus modelos próprios de IA, o que dá mais conforto para empresas como OpenAI, xAI, Mistral AI e Anthropic, que veem a empresa mais como uma parceira do que uma concorrente.
Isso lhe abriu portas para acordos estratégicos também com concorrentes na nuvem, como Microsoft, Google e Amazon, que permitem que os bancos de dados da Oracle rodem em suas clouds. Na contramão, a Microsoft usa os servidores da Oracle para rodar seu chatbot Bing com IA.
Outro fator crucial para o crescimento da Oracle é seu foco em oferecer uma solução clara e funcional para clientes que buscam infraestrutura para IA. Ao contrário de outros grandes players, como Amazon Web Services (AWS), que frequentemente tentam vender serviços adicionais ou chips proprietários, a Oracle se posiciona como uma empresa que oferece exatamente o que o cliente precisa, sem experimentalismos.
Reviravolta
A reviravolta da Oracle é em grande parte uma vitória de Larry Ellison, o cofundador de 80 anos, que ainda segue esbanjando energia como o diretor de tecnologia, chairman e a principal mente por trás da companhia.
Uma das principais personalidades do Vale do Silício, ele conseguiu fechar grandes acordos com líderes de peso em IA. Elon Musk e sua investida xAI e Jensen Huang, CEO da Nvidia, são parceiros-chave.
A Oracle hospeda a oferta de nuvem da Nvidia, com suas unidades de processamento gráfico (GPUs) de última geração. Essas GPUs são essenciais para o treinamento de modelos de IA e, dada sua escassez no mercado, deram a Oracle em uma posição privilegiada.
A grande questão é se o crescimento é sustentável. A construção de data centers para treinamento de IA é um negócio caro e, uma vez que os modelos estão treinados, eles podem ser executados em outras nuvens.
A xAI, por exemplo, está construindo seu próprio centro de dados em Memphis, nos EUA, o que sugere que a demanda pelos serviços da Oracle pode diminuir à medida que grandes empresas desenvolvem suas próprias infraestruturas.
Para não apostar em apenas um tipo de cliente, a Oracle tem flertado com as startups, que forma a base de clientes de software de banco de dados e que continuarão a gerar novos negócios.
O desafio, contudo, será competir com os recursos praticamente ilimitados de gigantes como Microsoft e Amazon.
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André Lopes
RepórterCom quase uma década dedicada à editoria de Tecnologia, também cobriu Ciências na VEJA. Na EXAME desde 2021, colaborou na coluna Visão Global, nas edições especiais Melhores e Maiores e CEO. Atualmente, coordena a iniciativa de IA da EXAME.
Guilherme Guilherme
RepórterFormado pela Universidade Metodista de São Paulo. Cobre mercado financeiro na Exame desde 2019. Também trabalhou na revista Investidor Institucional e participou do 9º Focas de Jornalismo Econômico do Estadão.