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“Nunca gostei de tomar risco”: As lições de Eike Batista em jantar com empresários

Empresário já teve fortuna de US$ 30 bilhões antes de derrocada e agora aposta em novas tecnologias como uma cana-de-açúcar superprodutiva e carros elétricos

Eike Batista: “Graças a Deus aconteceu o caso da Americanas para mostrar o que 20 executivos podem fazer a uma empresa” (Mercado&Opinião/Divulgação)
Eike Batista: “Graças a Deus aconteceu o caso da Americanas para mostrar o que 20 executivos podem fazer a uma empresa” (Mercado&Opinião/Divulgação)
Lucas Amorim

Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 23 de outubro de 2024 às 16:14.

Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 17:22.

"Você chamou o cara errado”, disse Eike Batista ao ser convidado para um evento que tinha como tema principal o gerenciamento de riscos nos negócios: “Nunca gostei de tomar risco”.

A anedota abriu o painel do ex-multi bilionário num evento do grupo Mercado & Opinião, na noite de terça-feira (23) numa churrascaria em São Paulo. “Provar isso para vocês é que não vai ser fácil”, completou, para diversão da plateia de empresários.

Antes de Eike, Janguiê Diniz, fundador do grupo Ser Educacional, e o publicitário Roberto Justus deram sua visão sobre o essencial no gerenciamento de riscos. Daniel Vorcaro, fundador e CEO  do Banco Master, também era esperado, mas foi no show.

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Janguiê se saiu com máximas como “a coragem é o triunfo sobre o medo”, antes de explicar que pessoalmente não arrisca mais de 20% do patrimônio pessoal ou da empresa numa tacada. “Não coloque a sua vida ou o seu negócio em risco”, disse.

Justus defendeu que há diferentes definições de sucesso, e que é preciso “correr riscos de fazer aquilo que você ama fazer”. Contou que ano passado, aos 68 anos, tomou o risco de voltar a ser CEO de uma empresa, o grupo SteelCorp, especializado em obras modulares com meta de faturar R$ 1 bilhão em 2025. “Precisamos arriscar, mas minimizar os riscos”, disse. “Não existe ‘all in’ na vida empresarial”.

Eike, que entrou para a história justamente por colocar todas as fichas na mesa quando acreditou ter boas cartas na mão, ofereceu sua visão particular de o que é tomar risco.

“Conhecimento e cultura permitem a você mitigar riscos a nível extraordinário. Sou fanático por mecânica, química e engenharia. Isso me permite enxergar mega tendências”, afirmou. “Vou mostrar para vocês porque depois dos cálculos e da engenharia os riscos em meus projetos eram mínimos”.

Os bilhões de Eike

Contou que em sua primeira mina de ouro, por exemplo, investiu US$ 2 milhões para descobrir que tinha em mãos uma jazida de US$ 200 milhões com margem potencial de 90%. “Será que corri risco?”, perguntou.

No projeto que deu origem à mineradora MMX, depois vendida à Anglo American, contou ter investido US$ 50 milhões em estudos de uma jazida depois vendida por US$ 7 bilhões. “Eu fiquei com 70% desse valor. Onde corri risco?”.

“Na OGX dizem que tomei um risco maluco, será?”, continuou. Em sua versão da história, Eike contratou os melhores executivos da Petrobras para criar sua própria petroleira. “Não era proibido”. “Em 2006 a OGX furou o campo de Lula e encontrou um aborto da natureza”.

Para as pesquisas exploratórias, conta ter investido US$ 300 milhões e captado outros US$ 1,2 bilhão. Hoje, segundo seus cálculos, a companhia estaria faturando US$ 30 bilhões. “Eu tinha informação que pode se dizer privilegiada”, disse, sem corar. “O problema é que o governo Dilma tirou o campo do leilão do pré-sal, e ele tinha esse direito. Nunca reclamei disso”.

O segundo revés, na visão de Eike, foi que ele criou um programa de compensação “desastroso”. Sob sua ótica, a área de exploração, responsável por analisar o potencial de novos campos de produção, não repassava as informações corretas aos acionistas para seguir inflando o valor de mercado e ganhar bônus atrelados a eles.

“Os engenheiros mentiram para mim para receber US$ 200 milhões dentro de 5 anos em vez de me falar a verdade”, afirmou. “Ganância é fogo. Graças a Deus aconteceu a o caso da Americanas para mostrar o que 20 executivos podem fazer a uma empresa, quando tem caixa preta”.

“Deus não quis que gerasse tanto dinheiro no mundo sujo, e sim no mundo limpo”, filosofou.

A cana e o carro chinês

Para o futuro, Eike voltou a destacar, como em depoimentos recentes, o potencial de suas pesquisas para melhoramento genético da cana-de-açúcar. "Estou há 9 anos pesquisando e cruzando 300 mil empresas de todos os germoplasmas do planeta. Rodei o mundo buscando o que tinha de espécies de cana", disse. Esta nova variedade que está desenvolvendo, garante, produzirá três vezes mais etanol e 12 vezes mais biomassa por hectare.

O potencial de faturamento da produção doméstica, segundo suas contas, pode passar de US$ 19 bilhões para US$ 150 bilhões. O principal uso potencial é num novo combustível de aviação (SAF), cuja demanda poderia chegar a 450 bilhões de litros em 2040.

De empresário do petróleo, Eike se converteu em um dos maiores entusiastas dos carros elétricos. "Não gaste num carro a combustão se você tiver onde carregar seu carro. Não me venha com carro híbrido, é uma mistura de dinossauro com Elon Musk", disse.

E nesse mercado Eike afirma que "não adianta competir com os chineses", já que seus veículos elétricos permitem um uso "estupidamente mais barato e mais eficiente": "Andei em todos os carros mais sexies do planeta, esqueça. Com um carro elétrico chinês você flutua".

Eike terminou sua exposição fazendo questão que a plateia respondesse se ele de fato assumiu riscos ao longo dos 40 anos de trajetória. A plateia, apesar de amistosa, não pareceu exatamente convencida.

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Lucas Amorim

Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, começou a carreira no Diário Catarinense. Está na Exame desde 2008, onde começou como repórter de negócios. Já foi editor de negócios e coordenador do aplicativo da Exame.

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