No dia D, ação da Americanas derrete e gestão fala em "foco no operacional"
A partir de hoje, credores que entararam na base acionária podem vender parte de suas participações; companhia divulgou prejuízo de R$ 1,4 bilhão nos primeiros seis meses de 2024, 56% a menos do que em 2023
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 15 de agosto de 2024 às 12:32.
Última atualização em 16 de agosto de 2024 às 07:34.
No seu dia D, a ação da Americanas abriu em leilão e (como esperado) derreteu.
A ação chegou ao menor patamar histórico, em R$ 0,09. Se recuperou um pouco e fechou negociada a R$ 0,14, numa queda de 58%. A partir de hoje, os credores que entararam na base acionária após o processo de capitalização de R$ 24 bilhões da companhia podem vender parte de suas participações.
Fica disponível para negociação 73% do free-float (já desconsiderando a participação dos acionistas de referência, que ficaram com cerca de 50% da companhia e estão amarrados por três anos). O restante das ações vai ser liberado gradualmente, chegando a totalidade dos papéis até 2026.
Agora com liquidez, tem início uma busca de preços no escuro, de uma empresa que agora praticamente não tem dívidas – mas tampouco clareza sobre modelo de negóciose com uma credibilidade manchada por anos de fraude a fio. No último mês, diversos investidores tinham montado posições short, apostando na queda dos papéis, levando a taxa de aluguel a mais de 300% ao ano, à espera do dia de D para poder embolsar ganhos com a desvalorização do papel.
A queda vem após a companhia divulgar seus números completos referentes a 2023, que ainda não tinham sido apresentados. A varejista teve prejuízo de R$ 2,272 bilhões em 2023, valor 82,8% menor do que no ano anterior. No primeiro semestre, a última linha do balanço foi uma perda 55,9% menor, de R$ 1,41 bilhão.
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"Enquanto nossos competidores podiam pensar só no negócio, tinhamos que pensar no negócio, na recuperação e na investigação", disse o CEO, Leonardo Coelho, em teleconferência com analistas e investidores.
Segundo executivo, a partir de julho deste ano a direção da empresa pode "focar mais no operacional". Numa relação mais próxima do que no passado com os fornecedores, segundo o executivo, a gestão da companhia acredita haver espaço para aumento de receita e Ebitda.
"Em particular pelo mix de produtos e também pela revisão interna, com ganhos de sinergias. Processo de recuperação da Americanas é longo. Vamos continuar nessa toada até o fim de 2025", afirmou Coelho, apontando que no canal físico a Americanas tem conseguido ganahr market share. No online, cujo portfólio foi bastante reduzido pela nova estratégia desenhada, o "ganho de market está longe de ser prioridade", nas palavras do CEO.
A companhia fechou 125 lojas no período, reportando 1.622 unidades ao fim da primeira metade de 2024. Segundo Coelho, os fechamentos ficaram em linha com os das concorrentes, num sinal de que não refletem apenas a crise da companhia, mas um cenário complexo vivido pelo segmento de varejo.
"Vamos fechar lojas sim, não muitas, mas as que não estiverem rentáveis. Vamos abrir onde vemos necessidade. Net deve ser negativo nos próximos 12 a 15 meses, mas bastante mais restrito."
A empresa também decidiu descontinuar a divulgação dos guidances. Em novembro, antes da aprovação do plano de recuperação judicial com os credores, a companhia previa que chegaria em 2025 com Ebitda de mais de R$ 2,2 bilhões (ou de R$ 1,5 bilhão depois do pagamento de aluguéis). "Precisamos de tempo para reavaliar as nossas projeções em face do resultado que estamos divulgando agora", Camille Faria, CFO da companhia.
Agora, em meio à reestruturação e tentativa de retomada dos negócios, a empresa tem previsões distintas para os outros negócios. No Hortifruti Natural da Terra, a gestão não tem planos ainda de retomar venda. Com novo CEO chegado em junho, Paulo Drago, o foco total é no operacional, segundo Faria. Com experiência no Cencosud e no GPA, Drago chega depois de comandar a rede paulista Lopes Supermercados.
Na Uni.co, dona da Puket e da Imaginarium, a empresa está monitorando mais atentamente o mercado para avaliar a venda do ativo, diz a CFO. O braço digital, Ame, está em fase inicial de nova estratégia do negócio. "Nesse novo desenho, o time da Ame vai para dentro da Americanas. É uma nova Ame para uma nova Americanas e seguimos avaliando alienação de licenças", diz Faria.
A empresa também recebeu indicações não solicitadas para aquisições de marcas como Submarino e Shoptime e a venda está sendo avaliada.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado