Haja fibra: às vésperas de vender rede Oi triplica base de clientes no ano
Companhia receberá propostas pela rede de fibra em 22 de janeiro
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 14:09.
Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 14:13.
Um dos pilares de todo plano de recuperação e de futuro da Oi, a rede de fibra da tele acaba de alcançar a marca de 2 milhões de assinantes. A companhia quase triplicou sua base de usuários dessa tecnologia ao longo de 2020, uma vez que terminou o ano passado com 700 mil clientes. A receita média por cliente desse produto está atualmente em 88,5 reais mensais.
Ainda em recuperação judicial, a empresa é, sem dúvida, uma das vedetes da B3 deste ano. A ação, que terminou o ano passado em 0,86 real, está agora em 2,34 reais (em alta de 3,54% há pouco). Mas, no auge do estresse da pandemia, chegou a passar mais de um pregão abaixo de 0,45 real. Quem aproveitou a deixa viu o investimento se multiplicar por cinco até agora.
Mais do que falar ao mercado, a Oi está conversando com seus potenciais investidores com o anúncio desta terça-feira, dia 8. No dia 22 de janeiro, a companhia vai receber as propostas firmes, vinculantes, dos interessados em comprar o controle da InfraCo, a rede da companhia. Na corrida, que atraiu diversos possíveis compradores, estão fundos de infraestrutura geridos pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e que terão Amos Genish, fundador da GVT, na empreitada, e a Highline, do bilionário Digital Colony, que prometeu entrar com tudo na América Latina. A expectativa é que vários dos possíveis investidores tenham se aglutinado ao longo do processo. A lista tinha outros nomes de destaque como Enel e o fundo de pensão do Canadá CPPI.
A tele colocou à venda 51% das ações ordinárias (a fatia do capital total pode variar) da operação de fibra, mas manterá uma participação minoritária no negócio. O investimento mínimo no controle é de 6,5 bilhões de reais (mais o pagamento de uma dívida de 2,4 bilhões de reais). Além de sócia, a Oi será também a principal cliente da infraestrutura — após implementação de todo o plano de recuperação vai ficar, basicamente, com esse investimento minoritário e concentrada na estratégia comercial para venda dos produtos aos clientes de varejo e corporativos. Quanto mais cliente a Oi tiver, portanto, maior receita a InfraCo terá na largada pelo contrato de uso da tele.
A operação de atacado, de venda da capacidade da infraestrutura de fibra a outras teles ou grandes conglomerados, ficará sob os cuidados da gestão da InfraCo. A rede tem 400 mil quilômetros de extensão e já alcança 2,2 mil cidades do país (cujo total de municípios é de aproximadamente 5,6 mil).
A Oi está investindo pesado em acelerar sua infraestrutura de fibra ótica. Além de impressionar o investidor com números polpudos, a companhia sabe também que sua imagem — portanto, a força de sua marca — perante o cliente depende dessa entrega. Ainda mais durante a pandemia, que levou a um aumento do uso da capacidade de internet no país de 40% a 50%, conforme estimativas da Anatel, a agência do governo que regula o setor de telecomunicações.
Em 2018, a tele tinha apenas 100 mil clientes nessa tecnologia. Junto com o aumento dos assinantes veio a expansão da rede, que estava em 29 cidades há dois anos, subiu para 86 ao fim de 2019 e agora já está 134. Essas são as cidades em que a companhia já tem a rede passada em frente às casas, ao menos nas localidades com maior densidade populacional. O total de municípios alcançados (a chegada à cidade) são os 2,2 mil já citados.
O total de lares em que a tecnologia já passa em frente (ainda é preciso fazer a conexão, que só ocorre na contratação do serviço) deve quase dobrar até o fim do ano: sai de 4,7 milhões para 9,2 milhões, do fim de 2019 até o fim deste ano.
Para abrir o apetite dos interessados, a tele também anunciou que 80% dos clientes da banda larga de fibra são novos dentro da base da empresa, apenas 20% vem da conversão do serviço de cobre. Com o avanço neste ano, se tornou dona da maior participação do mercado de fibra em 13 capitais do país. Os percentuais dessa liderança variam bastante, podem ir dos 44% detidos em Belo Horizonte (MG) ou dos 51% no Rio de Janeiro (RJ) até os 94% em Boa Vista.
Ao longo deste ano, a empresa lançou as velocidades de 400 e 500 megabites por segundo. Para o começo de 2021 já está previsto o lançamento de 1 gigabite de velocidade — essa capacidade já está em teste por meio de um projeto piloto. A tele tem hoje um market-share de 14% em todo o território nacional, mas representa quase 25% das adições líquidas de clientes à essa tecnologia.
Com essa agilidade de expansão, a Oi terá feito sob sua gestão, antes de transferir o controle da InfraCo, ao menos um terço do tamanho que o novo controlador terá que levar a rede. O plano de venda inclui um compromisso de fazer com que a empresa tenha 32 milhões de residências com fibra passada — um ritmo de expansão de 5,5 milhões de novas coberturas por ano, maior que o atual.
A estimativa é que o novo dono da rede terá que fazer investimentos da ordem de 20 bilhões de reais na rede. No fim de 2025, se alcançado o total pretendido, vai significar que 40% dos domicílios brasileiros terão acesso à fibra. “A fibra vai viver um fenômeno semelhante ao do celular no Brasil. O telefone móvel universalizou o indivíduo e a fibra, universaliza a residência”, afirmou Rodrigo Abreu, em entrevista concedida ao EXAME IN em agosto.
A Oi diz no plano que aceita uma capitalização de até 5 bilhões de reais no negócio. Excluída a obrigação com a dívida, ficam faltando apenas 17 bilhões para ser resolvidos entre fluxo de caixa e dívida, em quatro anos. Está longe de ser pouca coisa.
O comprador terá quatro anos para executar esse projeto e poderá, com isso, tirar o atraso de décadas de subinvestimento da companhia. Pelos cálculos da tele, quando ela alcançar os 10 milhões de casas conectadas (clientes), o Ebitda anual da InfraCo será superior a 3 bilhões de reais. Para chegar lá, será uma corrida e um gasto e tanto. A estimativa de analistas é que a conversão do cobre para fibra custe cerca de 1.000 reais por domicílio, com base nos dados atuais do balanço da tele.
O plano desenvolvido para a rede de fibra da InfraCo prevê duas fontes principais de receita: a venda da capacidade para a própria Oi e ainda para os provedores regionais. Estimativas de especialistas de mercado é que esses pequenos operadores locais respondam por algo entre 50% e 60% das adições líquidas de clientes de banda larga.
Agora sem controlador definido e com um projeto totalmente repaginado, a Oi quer reconquistar esse espaço, que ficou estagnado por décadas devido a uma falha que nasceu na privatização do Sistema Telebrás, em 1998.
A antiga Telemar, origem de todo o grupo, acabou virando o patinho feio do leilão. O grupo que foi formado apenas para criar uma falsa concorrência para gerar ágio no preço, um balaio de gatos que reunia fundos de pensão, BNDES, Opportunity e tinha como pilar a construtora Andrade Gutierrez e a família Jereissati, do grupo La Fonte, se tornou dona do negócio sem nuncar ter desejado de fato ser. Resultado foi que esse coletivo passou anos tentando se rentabilizar, sem nunca ter almejado se transformar, em grupo ou individualmente, em um grande operador do setor. O país perdeu anos e bilhões em investimentos ficaram para trás pela falha na estratégia da privatização — ainda que os avanços trazidos pelo processo sejam inegáveis e necessários.
Agora, a tele quer também tentar reconquistar a confiança do mercado quanto a sua governça. Sem um sócio majoritário, contratou a consultoria Egon Zehnder para auxiliar na estruturação do conselho de administração que será levado para votação na assembleia geral ordinária de 2021.
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