Carrefour: "Mercado questionou parcelamento no Atacadão, mas vendas e lucro deram a resposta"
Varejista reportou lucro líquido de R$ 419 milhões no 3º tri, 94% mais do que um ano antes e bastante acima do consenso de mercado, que girava em torno de R$ 160 milhões
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 20:27.
Última atualização em 31 de outubro de 2024 às 21:52.
A decisão do Carrefour Brasil de parcelar as compras no cartão de crédito na operação do Atacadão deixou muita gente com uma pulga atrás da orelha. Agora, com os números do terceiro trimestre, o comando da varejista alimentar quer mostrar que acertou a cartada com a estratégia.
No terceiro trimestre, a companhia reportou um lucro líquido de R$ 419 milhões, 94% mais do que um ano antes e bastante acima do consenso de mercado, que girava em torno de R$ 160 milhões.
“Fomos questionados, mas estamos entregando mais que o dobro de lucro que esperavam, estamos descolando do mercado em vendas e das expectativas de lucro. Os números comprovaram nossa tese”, diz o CFO, Eric Alencar.
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As vendas totais cresceram 5%, para R$ 29,5 bilhões, conforme previamente divulgado pela companhia — números que animaram os investidores no pregão seguinte à divulgação. A receita cresceu 5,1%, para R$ 28,36 bilhões, incluindo a operação do banco.
As vendas parceladas no Atacadão, a bandeira de atacarejo do grupo e 72% das vendas totais, faz parte de um posicionamento mais agressivo do Carrefour, que também já tinha adotado preços de atacarejo nas redes de varejo.
No Atacadão, as vendas comparáveis cresceram 5,6%, o que deve superar os indicadores dos principais concorrentes, como as operações dos grupos Assaí e Mateus. A margem Ebitda o negócio, porém, veio um pouco mais baixa, devido às conversões, em que as lojas incluem mais serviços, como padaria, açougue e frios, o que pressiona a linha de despesas no primeiro momento.
O ambiente inflacionário também conteve vendas em julho e agosto, empurrando grande parte do consumo, em especial do cliente B2B para setembro.
Esse episódio somado ao parcelamento das compras pelos clientes, diz Alencar, ajuda a explicar um impacto maior no capital de giro e no contas a receber, que levaram a companhia a uma dívida líquida de R$ 17 bilhões no período.
“Desde o princípio prevíamos R$ 1 bilhão em recebíveis por essa prática [parcelamento] e, rapidamente, chegaríamos a estabilidade desse valor", afirma Alencar. Houve aumento pontual em setembro porque as vendas foram "muito fortes", fazendo com que o valor a receber fosse jogado para outubro. "Tudo vai ser recebido no quarto trimestre e, então, se normaliza.”
No varejo, em que a bandeira Carrefour concentra maior parte da operação, as vendas cresceram 7,1%, demonstrando um momento positivo após a implementação dos ajustes no portfólio e a revisão da estratégia de preços, destaca Stéphane Maquaire, CEO do Carrefour.
A política de preços de atacarejo para vendas em maiores quantidades fez a concorrência se movimentar, segundo o executivo, mas num movimento mais promocional. "Tivemos uma aceleração de promoções da concorrência, mais do que dos preços".
De acordo com os dois executivos, mesmo com a redução de preços, a operação de varejo conseguiu ser mais eficiente, permitindo aumentar a margem Ebitda em 1 ponto percentual para 2,7%.
Outro destaque do trimestre foi o Sam's Club, com o período sendo o de maior abertura de lojas. A fase de inaugurações faz com que as margens sejam pressionadas, com a maior participação de produtos de marca própria e importados. O npumero de clientes ativos cresceu 22%.
O crescimento de membros do Sam's Club também ajudou no faturamento do Banco Carrefour. No negócio financeiro, a política mais conservadora manteve a inadimplência em níveis mais baixos. No entanto, a nova regulação que limita o teto de juros levou a operação do banco a reduzir a margem bruta do consolidado do grupo. O lucro líquido da divisão foi de R$ 116 milhões, 8,7% menor do que um ano antes.
Ativo imobiliário pode ser 'game changer'
Neste mês a companhia anunciou a venda de 15 lojas da rede Atacadão por R$ 725 milhões, no modelo sale and leaseback (em que a companhia vira locatária em contratos de longo prazo).
Com umcap rate de 8%, o negócio foi muito bem recebido pelo mercado e se mostrou uma ferramenta potente para a redução da alavancagem da companhia, hoje em 2,6x.
"Operação mostra a força do portfólio de ativos. Mesmo sendo enorme, ela só vale 5% dos nossos ativos. Se quisermos, podemos, fazer mais 20 operações do tipo", diz Alencar. Mas, mesmo que sempre em avaliação pelo comando, outra operação do tipo só deve acontecer em 2025. O foco agora, diz o CFO, é concluir a venda, que depende de aprovação do Cade.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado