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Equipe que cobrirá as Olimpíadas na Globo contará com mais representatividade de gênero e raça (Rede Globo/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 21 de junho de 2024 às 11h03.
Do Rio de Janeiro*
Pela primeira vez, 43% das transmissões olímpicas na Globo terão a participação de mulheres em alguma função, como comentarista e narradora – em 2019, elas eram 15% do time. O dado é um reflexo do trabalho intencional de incluir maior diversidade de gênero e étnico-racial nas produções do esporte, assim como de toda a emissora.
“A Globo tem um projeto focado na diversidade e representatividade nas telas e por trás das câmeras, buscando refletir a diversidade da sociedade brasileira nas equipes e no conteúdo. Há um cuidado em distribuir essa diversidade estrategicamente entre os diferentes canais e plataformas, e não é diferente em um momento como as Olimpíadas”, diz Joana Thimóteo, diretora de transmissões esportivas e gestão do elenco de esporte da Globo, em entrevista à Exame.
Para ela, há uma intencionalidade que considera, especialmente, as especializações de cada participante. “Quando a gente busca a diversidade, encontramos. Temos mais de 100 pessoas entre comentaristas, especialistas e medalhistas olímpicos, entre eles, Daiane dos Santos, Letícia Bufoni, Fernanda Garay, etc. Mas, é importante dizer que elas estão na programação pelas especialistas que são”.
A atleta do vôlei Fernanda Garay, por exemplo, será apresentadora do programa Central Olímpica, ao lado de Tadeu Schmidt. A atração será exibida em horário nobre, após a novela Renascer. “O esporte é um lugar de transformação. Eu vim de uma família simples e consegui ter uma carreira de sucesso. Agora, tenho esse outro momento de carreira junto à Globo, e não lembro de alguma atleta que tenha feito esse movimento de vir apresentar um programa, é uma oportunidade gigante e em sintonia com a diversidade”, disse à Exame.
Estão previstas 200 horas de transmissão dos Jogos Olímpicos – isto é de 10 a 12 horas por dia nas grades da Globo. Ao todo, são mais de 400 pessoas das diferentes marcas divididas entre Brasil, Paris e Taiti. “Temos a obrigação de sermos diversos ao considerar que estamos falando para públicos também distintos. Há aqueles que nos assistem e amam Paris e os que não fazem ideia de que a cidade existe”, diz Joana.
Em 2019, apenas 3% das transmissões de futebol tinham mulheres na equipe. Nos jogos Olímpicos eram 15%. Já em 2021, Renata Silveira foi a primeira mulher a narrar uma partida da seleção brasileira masculina no canal. Naquele ano, elas foram 36% no futebol e 20% nos Jogos Olímpicos. Atualmente, são 35% e 43%, respectivamente.
“Nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, 140 milhões de pessoas acompanharam os jogos na Globo, sendo 24 milhões espectadores fiéis, que todos os dias assistiram a transmissão. Essas pessoas se sentem representadas pelo que fazemos”, diz Leonora Bardini, diretora de programação de marketing da Globo.
As marcas que se relacionam com a cobertura dos jogos também percebem valor no tema. Até o momento, 17 marcas confirmadas estão no projeto olímpico de Paris, em 18 cotas. Entre elas há Banco do Brasil, Claro, Corona e Nivea.
As Olimpíadas de Paris, que tem abertura prevista para 16 de julho, já é histórica ao considerar que, pela primeira vez em 128 anos de jogos, há a equidade de gênero. Dos 10.500 atletas participantes dos Jogos, serão 5.250 homens e 5.250 mulheres.
Até então, a última edição dos Jogos havia sido a mais equilibrada em termos de gênero, com 48,7% de atletas mulheres - em Tóquio 1964, esse número era de apenas 13%. Indo ainda mais para trás, em 1900, as atletas femininas participaram pela primeira vez dos Jogos Olímpicos, quatro anos após os primeiros Jogos da era Moderna, realizados no ano de 1896 em Atenas.
Já no Comitê Olímpico Internacional (COI), 50% das posições dos membros das comissões são ocupadas por mulheres desde 2022, algo acima dos 20,3% antes da Agenda Olímpica de 2020.
Os Jogos Olímpicos, ao longo dos anos, têm um papel fundamental na discussão de temas latentes na sociedade, como lembrou o narrador esportivo Luís Roberto. “Em 1972 fiz uma entrada na televisão para falar do atentado do Setembro Negro, que resultou em 17 mortes na Alemanha. É impossível separar as Olimpíadas da história e não será diferente agora”, afirma.
Assim, não é possível deixar de lado temas como a participação de atletas trans, ou mesmo o racismo sofrido por atletas não apenas durante as Olimpíadas. Para Joana, é papel da Globo contextualizar esses acontecimentos para os espectadores. “A Globo tem um papel cívico de contar essas histórias e se posicionar sobre os temas, trazendo as discussões com seriedade nos programas, matérias e séries especiais”.
Esta será a primeira vez em que um atleta trans comentará os jogos. Luca Kumahara, atleta do tênis de mesa que disputou três edições olímpicas – antes da transição de gênero – será agora comentarista das transmissões do esporte."Desde que saiu o anúncio de que eu seria um dos comentaristas, eu recebi bastante mensagens, principalmente da comunidade trans, e senti da parte deles uma felicidade muito grande no sentido da representatividade, de ter essa identificação comigo", explica Kumahara em entrevista à EXAME. "É muito importante ter alguém lá representando a comunidade. As Olimpíadas vão ser um espaço que a gente vai ter para falar e trazer este tema que é tão importante para nós."
“A participação do Luca, assim como de todos, é tratada com naturalidade, focando nas habilidades e especialização da pessoa contratada, sem dar espaço para discussões polarizadas, pois nosso objetivo é ter um ambiente acolhedor para as diferenças”, diz Joana.
Ainda assim, em termos gerais, as paridades de raça, diversidade sexual e de pessoas com deficiência seguem mais distantes do que as de gênero. “Estamos avançando de forma consistente em uma sociedade complexa, e não será diferente com os outros recortes de inclusão, pois sei que os passos que estamos dando não serão regredidos”.
*A jornalista viajou a convite da Globo