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ANTWERP, BELGIUM - OCTOBER 06: (L-R) Silver medalist Rebeca Andrade of Team Brazil, gold medalist Simone Biles of Team United States and bronze medalist Shilese Jones of Team United States pose for a photo during the medal ceremony for the medal ceremony for the Women's All Around Final on Day Seven of the 2023 Artistic Gymnastics World Championships at Antwerp Sportpaleis on October 06, 2023 in Antwerp, Belgium. (Photo by Naomi Baker/Getty Images) (Getty Images Europe/Getty Images)
Diretora Executiva do Instituto Avon
Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 08h15.
Quando Rebeca Andrade, Jade Barbosa e Flavia Saraiva representarem o Brasil na disputa de medalhas na Ginástica Artística, em Paris, este ano, elas serão representantes não só de uma geração que está fazendo história na modalidade, mas de uma geração que simboliza uma conquista impensável quando os jogos olímpicos foram fundados: o equilíbrio 50:50 entre homens e mulheres no maior evento esportivo do planeta.
Quando fundada em 1896, a primeira edição dos jogos olímpicos modernos contou com 241 homens, de 14 países e nenhuma mulher, refletindo e reforçando o desequilíbrio de gênero nas arenas públicas de então. Mas, nos 128 anos transcorridos até os jogos de Paris este ano, os valores olímpicos – excelência, respeito e amizade – desabrocharam e afirmaram o seu poder transformador de histórias, modalidades e representações sociais.
Como poucas arenas da atividade humana, o esporte se destaca como o espaço em que tais valores, traduzidos em atitudes como a valorização do esforço, a preservação da dignidade humana e a promoção da harmonia entre os povos, mostram-se não só uma força capaz de exemplificar, nada mais nada menos, do que o melhor de nós mesmos, mas também de evidenciar que equidade e mérito não são opostos, mas complementares.
Raramente nos lembramos dos motivos para comemorar quando pensamos em justiça social, mas se existe algum, ele pode ser traduzido na capacidade de atração e inovação dos jogos olímpicos. Dos 241 homens, zero mulheres e 14 países representados em sua primeira edição, a XXXIII edição em Paris estabelece um novo recorde: cinco continentes representados em 329 eventos olímpicos, 549 paralímpicos, 206 comitês nacionais, 38 modalidades olímpicas e 22 paralímpicas, 10.500 atletas olímpicos e 4.400 paralímpicos. Soma-se a estes recordes, um divisor de águas: a primeira vez em que os jogos alcançam o equilíbrio entre participantes femininos e masculinos.
No ano passado, uma imagem do podium do Campeonato Mundial de Ginástica na Antuérpia, registra um outro marco histórico icônico: Simone Biles (medalha de ouro) consolida seu status de GOAT (a melhor de todos os tempos) ao lado de duas outras mulheres negras: a nossa Rebeca Andrade (prata) e Shilese Jones (bronze). Este podium formado 100% por mulheres negras simboliza uma mudança de paradigma em um esporte que historicamente foi dominado pelas atletas da Europa Oriental.
A gradual transformação da modalidade se deu, especialmente no Brasil, não só pelo talento individual, que nunca faltou, mas pela necessária convergência de condições sociais e estímulos econômicos para que o mérito possa então prevalecer.
As histórias triunfantes da pioneira Daiane dos Santos, primeira ginasta brasileira entre homens e mulheres a conquistar uma medalha de ouro em uma edição do Campeonato Mundial, e da atual campeã olímpica no salto e campeã mundial por equipe, Rebeca Andrade, confirmam o papel dos projetos sociais calcados no esporte como indutores de transformações que transcendem barreiras socioeconômicas, de gênero ou étnicas, lembrando-nos da nossa humanidade comum, partilhada tanto em nossos desafios, quanto no triunfo coletivo dos jogos olímpicos modernos.
O movimento olímpico nos lembra que as mudanças são possíveis, e acontecem, nem sempre na velocidade e escala que gostaríamos, mas às vezes (quanta alegria) na direção exata dos nossos sonhos.