Maduro, presidente da Venezuela: o PIB do país retrocedeu 3,9%, em 2014, e 5,7%, em 2015 (AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2016 às 16h00.
São Paulo - A Venezuela espera frear a desaceleração de sua economia em 2017, enquanto se dedica a amenizar a escassez de produtos essenciais para "manter a estabilidade social" - disse o vice-presidente da Economia, Miguel Pérez Abad, em entrevista à AFP nesta sexta-feira.
Para 2016, "não temos expectativas muito altas em torno do crescimento", admitiu o funcionário, acrescentando porém que o governo fixou como meta fundamental "manter os níveis de produção e conseguir a estabilidade social" acima de resultados em "indicadores econômicos".
O PIB do país retrocedeu 3,9%, em 2014, e 5,7%, em 2015, em um contexto de escassez de mais de dois terços dos produtos básicos - tradicionalmente importados. Esse quadro se agravou com a queda dos preços do petróleo, gerador de 96% das divisas venezuelanas.
Com esse desabastecimento, mais a inflação de 180,9%, em 2015, e 68,5%, em 2014, a situação econômica se torna o principal problema da população.
"Não temos uma meta de inflação estabelecida (para 2016), mas no que acreditamos, sim, é que vamos desacelerar", afirmou o vice-presidente.
Ele reconheceu que ainda se vive um "período de ajuste" inflacionário, já que houve, em fevereiro, uma desvalorização no âmbito do estrito controle cambial estabelecido em 2003 pelo governo socialista, o qual monopoliza as divisas.
A queda na cotação elevou de 6,3 para 10 bolívares por dólar o tipo de câmbio para a importação de alguns alimentos e remédios, enquanto o restante da economia passou de uma taxa de pelo menos 14 bolívares por dólar para outra flutuante, situada em 410 bolívares por dólar.
Para ele, essa desvalorização "se ajusta à realidade econômica do país", onde o dólar paralelo é cotado a 1.100 bolívares e é a referência para fixar os preços de muitos produtos.
Segundo o ministro, no atual esquema cambial, são oferecidos cerca de sete milhões de dólares diários, dos quais 30% ao setor privado. Já o tipo cambial flutuante é aproximadamente 8% do total de divisas determinado pelo governo no esquema de controle.
"Agora, a economia vai-se ajustar ao novo tipo de câmbio. Será um ano em que vamos ter uma inflação, que será um fator, mas o importante é que comecemos a subir a ladeira. Que cheguemos ao topo, que possamos ver o platô do tema inflacionário. Este é um ano muito complicado", afirmou.
O alto custo de vida e a escassez levaram a uma enorme insatisfação da população: em abril, 84,1% dos venezuelanos consideravam negativa a situação do país, e 68% apoiavam a saída do presidente Nicolás Maduro do poder, segundo a empresa Venebarómetro.
Pérez Abad destacou que serão reconhecidas as estruturas de custos para os empresários para atualizar os preços dos produtos regulados - dentro de outro controle vigente desde 2003 -, após reuniões com empresários e trabalhadores nos últimos dois meses.
Esta semana, Abad anunciou um sistema de abastecimento sem intermediários para atender às necessidades básicas dos 30 milhões de venezuelanos.
"Tem o componente de preços e estímulo à produção, que tem a ver com o reconhecimento dos custos, com a sustentabilidade da produção e com o aumento das capacidades produtivas", explicou.
A regulação de preços determinou, por exemplo, que uma caixa de analgésicos com 20 comprimidos custe cerca de 20 centavos de dólar, algo que o próprio ministro reconheceu como "impossível para sustentar sua produção".
Largamente reivindicada pelo setor privado, a atualização de preços atenderá ao estabelecido na "Lei de Preços Justos", que fixa uma margem máxima de 30% de lucro para todos os bens e serviços. No caso de alimentos e remédios, o ministro disse que se "comprimiram" esses percentuais entre 14% e 20%.
O governo espera que os novos preços, mais a capacidade das empresas de refletir na contabilidade o tipo de câmbio flutuante, ajude o fluxo de matérias-primas para reanimar a atividade industrial. Segundo o principal sindicato desse setor, 55% de sua capacidade produtiva está ociosa pela falta de divisas, pela incerteza política e pelos cortes de energia.