Economia

Tesouro deve fazer primeira emissão no mercado europeu desde 2014

Depois de ficar fora do mercado externo em 2015, o Tesouro fez no ano passado duas emissões externas que acabaram servindo de teste de confiança

Euro: a estratégia para a administração da dívida em 2017 continuará sendo conservadora (vetkit/Thinkstock)

Euro: a estratégia para a administração da dívida em 2017 continuará sendo conservadora (vetkit/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 08h34.

Brasília - O Tesouro Nacional vai buscar neste ano uma "janela de oportunidade" para retornar ao mercado internacional com a venda de bônus da dívida externa atrelado ao euro.

A última captação no mercado europeu ocorreu em marco de 2014, e o Tesouro pretende diversificar a base de investidores ao longo deste ano.

Em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o subsecretário de dívida pública do Tesouro, José Franco Morais, antecipou que o governo pretende continuar captando com a venda de bônus atrelados ao dólar, mas a intenção é também conseguir espaço para uma emissão em euros.

Esse retorno, disse ele, é importante para ampliar os investidores que compram os papéis da dívida brasileira, ajudando também como referência de preço para as empresas brasileiras que queiram acessar o mercado europeu.

Depois de ficar fora do mercado externo em 2015, o Tesouro fez no ano passado duas emissões externas com prazo de vencimento em 10 anos (Global 2026) e 30 anos (Global 2047), que acabaram servindo de teste de confiança dos investidores na nova política econômica do presidente Michel Temer. As duas emissões foram bem recebidas pelo mercado internacional.

Para 2017, a estratégia será acessar o mercado com esses mesmos prazos. "A nossa estratégia é de prazos de 10 e 30 anos e eventualmente acessar o mercado de euros, se as condições de mercado permitirem", afirmou Franco.

Com o cenário externo e doméstico marcado ainda por grandes incertezas, a estratégia para a administração da dívida em 2017 continuará sendo conservadora.

No cenário internacional, a política de aperto monetário dos Estados Unidos e a posse do presidente eleito Donald Trump são fatores que trazem dúvidas para os investidores.

No front doméstico, a perspectiva de crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB) e o cenário político ainda conturbado são os fatores de maior incerteza para a economia.

Por outro lado, a possibilidade de avanço nas reformas, principalmente a da Previdência, pode ajudar a reduzir a percepção de risco dos investidores, na avaliação do Tesouro.

Colchão

Em fevereiro, o Tesouro divulgará o Plano Anual de Financiamento (PAF), documento com as diretrizes de financiamento da dívida para 2017. A estratégia do plano é gerenciar a venda de títulos em meio ao risco de maior volatilidade do mercado.

"Estamos nos preparando para qualquer tipo de incerteza", disse o subsecretário. Segundo Franco, a reserva de liquidez do Tesouro, o chamado "colchão" de recursos em caixa que permite ao governo não fazer os seus leilões semanais de venda de títulos em momentos de grande turbulência no mercado, está no seu nível máximo histórico.

O volume é suficiente para pagar seis meses de vencimentos de títulos. Por ano, o Tesouro emite cerca de R$ 600 bilhões em papéis.

O reforço do colchão é uma garantia ainda mais importante na fase atual em que as contas do governo registram déficits robustos, que precisam ser financiados com a venda de títulos.

A previsão para 2017 é de um déficit de R$ 139 bilhões nas contas do governo federal. "Além da rolagem da dívida, temos de financiar o déficit fiscal, que é estrutural. Para reduzi-lo, precisamos fazer reformas estruturais", ressaltou.

Para este ano, as metas de longo prazo da dívida continuam: aumento de papéis prefixados (com taxa definida na hora da venda) e atrelados ao IPCA, além da redução dos títulos vinculados à taxa Selic (LFTs). Mas, no momento atual, o Tesouro é menos agressivo nessa estratégia, atuando de forma mais defensiva, como aconteceu em 2016.

"No PAF de 2016, fomos extremamente conservadores, mas o ano acabou sendo melhor do que a expectativa", disse. Num eventual quadro de maior turbulência, o Tesouro está preparado para emitir um maior volume de LFTs.

Mas mesmo no cenário mais pessimista, a estratégia é mirar para uma rolagem de 100% da dívida total de títulos que vencerão ao longo do ano. O que pode mudar em cada cenário, menos ou mais pessimista, é a composição dos papéis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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