Henrique Meirelles (à dir.), Michel Temer e Eliseu Padilha, na primeira reunião ministerial do governo Temer (Agência Brasil/José Cruz)
Da Redação
Publicado em 13 de maio de 2016 às 13h38.
Brasília - O recém-empossado ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta sexta-feira, 13, que a "reversão da confiança se dá por medidas concretas, mesmo que não tenham efeito imediato".
"Precisamos de medidas concretas com grande chance de serem aprovadas pelo Congresso ou medidas tomadas e, a partir daí, o nível de confiança começa a crescer", disse.
Em sua primeira entrevista coletiva à imprensa, o ministro reconheceu a difícil situação econômica do País nesse início de sua gestão, mas lembrou que o Brasil vive um momento relevante não só pelas circunstâncias de ordem institucional, mas também política.
Meirelles afirmou que, nesse momento de recessão, o País está aguardando ação e mudança no itinerário da economia.
"No momento que estamos vivendo essa recessão, isso leva ao aumento do desemprego e queda da renda, isso afeta o bem estar das pessoas", afirmou antes de reconhecer que "é legítima a demanda da sociedade para uma reversão da trajetória da economia, do emprego e da renda".
O ministro afirmou que o ponto mais importante para essa retomada é a recuperação do investimento, que estava em queda e que levou à queda do emprego, e a uma diminuição da capacidade de oferta da economia que, mesmo com a demanda caindo, permitiu uma resistência da inflação além de outros fatores.
"Todo um ciclo de deterioração da atividade econômica e tudo isso leva a situação que estamos vivendo, o fator principal da queda da confiança", disse.
O novo dirigente da Fazenda reconheceu a incerteza política e lembrou de fatores objetivos como a insegurança em relação à sustentabilidade futura da dívida pública, "na medida em que a trajetória de elevação da dívida pública é insustentável no longo prazo".
"A trajetória é insustentável no longo prazo", frisou.
Em 2015, o déficit do governo central foi de R$ 115 bilhões. Caso o Congresso aprove a proposta de mudança da meta fiscal para este ano, a equipe econômica poderá apresentar um déficit de R$ 96,6 bilhões.
Segundo Meirelles, as medidas econômicas serão anunciadas somente depois de "maturadas" para serem aprovadas pelo Congresso Nacional.
Segundo ele, é muito importante que medidas tomadas sejam consistentes para não serem revisadas. "Uma questão das mais relevantes é a preocupação de que as metas que são anunciadas sejam realistas", disse.
Ele avaliou como negativo o anúncio de metas que não se confirmam, com o déficit primário maior do que é anunciado ou estimado. "Ou medidas que não são viáveis e não se revelam suficientes", afirmou.
O ministro disse que tem pressa, mas ponderou que é importante que as medidas sejam definitivas. Ele disse que a sua principal mensagem é de que as metas sejam realistas.
Ele reconheceu que há ansiedade em torno do anúncio de medidas, mas ponderou que o governo começa de fato hoje. "É hoje que estamos tendo acesso aos dados formais e precisos ao setor público brasileiro. É importante que as medidas não sejam anunciadas para satisfazer uma ansiedade", disse.
O recém-empossado ministro evitou fazer uma comparação entre 2003, quando assumiu a presidência do Banco Central, e 2016.
Segundo ele, cada momento é diferente do anterior, nenhum momento é igual a outro. "Foi um governo desafiador, mas a questão hoje é outra, é difícil estabelecermos comparações imediatas", ressaltou.
De forma otimista, Meirelles lembrou que o Brasil já enfrentou situações muito difíceis e já as superou. "E vai superar dessa vez também", destacou.
O novo ministro da Fazenda afirmou que irá fazer uma análise sobre as decisões tomadas pela gestão do seu antecessor, Nelson Barbosa, antes de anunciar a posição formal do governo.
"Em relação às medidas tomadas nos últimos dias, é necessário analisar o impacto para que não possamos repetir o processo de reagir rapidamente a determinados fatos. Vamos anunciar a posição do governo em relação às medidas do governo anterior", frisou.
Questionado se vai apoiar a recriação da CPMF, Meirelles preferiu não responder por considerar que "não devem acontecer opiniões genéricas e gerais". "Vamos colocar a posição formal do governo a respeito", afirmou.
O ministro disse ainda não restar dúvidas de que um dos fatores importantes e que pode dar segurança para a população é colocar teto de gasto do governo federal e do setor público com um topo.
"Isso precisa ser definido pelos diplomas legais. Existe, além disso, as questões fundamentais, uma série de outras medidas que serão estudadas e aprofundadas", disse.
Meirelles afirmou nesta sexta-feira que anunciará o nome do escolhido para comandar o Banco Central na próxima segunda-feira, à tarde.
"Não vou dizer quem é e quem não é e se não é o presidente Tombini", disse Meirelles com a insistência dos jornalistas em saber quem deve comandar o BC e até quando fica o atual presidente, Alexandre Tombini.
Ele se recusou também a fazer uma avaliação da condução da política monetária por já ter ocupado o cargo de presidente do BC no governo Lula.
Na segunda, Meirelles também vai anunciar o nome dos secretários do Ministério da Fazenda e das presidências dos bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES).
O ministro disse que já tem alguns nomes em mente, mas que vai defini-los no fim de semana. Nesta sexta, ele só anunciou o nome de Tarcísio Godoy como secretário-executivo da Pasta.
Para a direção dos bancos públicos, Meirelles reforçou que serão avaliados "critérios técnicos" e que todas as escolhas passarão por ele. "Será adotada uma política de uso do banco público para a atividade base que é emprestar e transformar poupança em investimento", afirmou.
Segundo ele, esse critério vai ser levado em conta independentemente da questão de que algum funcionário possa ser filiado a partido político.
A entrevista coletiva do novo ministro é acompanhada por veículos de diversos países. Além de veículos em peso da imprensa argentina, há a presença da imprensa europeia, norte-americana, mexicana e chinesa.