Economia

Piketty defende debate de moeda única para América Latina

Região deveria esperar para ver o que se passa com a Europa "e em seguida fazer da sua maneira", diz economista francês


	Thomas Piketty: o economista francês diz que América Latina deveria pensar sobre moeda única
 (Universitat Pompeu Fabra/Creative Commons)

Thomas Piketty: o economista francês diz que América Latina deveria pensar sobre moeda única (Universitat Pompeu Fabra/Creative Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de fevereiro de 2016 às 13h08.

São Paulo - Para o economista Thomas Piketty, professor da Paris School of Economics que se tornou uma sensação mundial com a obra "O Capital no Século XXI", chegou a hora de debater a criação de uma moeda única na América Latina.

O tema foi debatido em entrevista com a BBC Mundo durante o Festival Hay de Cartagena, na Colômbia, do qual ele foi participante.

Primeiro, Piketty disse que os países precisam tomar cuidado quando recebem investimento estrangeiro demais, já que isso coloca em risco a soberania e a habilidade de formar consensos sobre a distribuição dos custos.

E nesse caso, uma maior união política e monetária dos latino-americanos poderia ser útil, já que "é mais fácil controlar os fluxos de capital numa grande escala do que no nível relativamente pequeno de um estado-nação".

Questionado pelo jornalista se isso não seria muito mais difícil por aqui do que na Europa, o economista nota que o tema não é algo "para o ano que vem", e sim para ser debatido com tempo.

De qualquer forma, caberia agora à Europa mostrar para o mundo que uma moeda comum é possível - e para isso precisa caminhar na unificação de coisas como dívidas, impostos e tudo que ficou inacabado.

"A América Latina deveria esperar e ver o que se passa com este experimento e em seguida fazer da sua maneira. Mas isto deveria se suceder no longo prazo", diz Piketty.

Apesar do euro não ter tido nenhuma debandada de membros em seus 14 anos de existência (nem mesmo da cambaleante Grécia), o debate sobre até que ponto ele foi bem-sucedido permanece em aberto.

Veja o que Piketty disse sobre alguns outros assuntos:

Impostos e desigualdade

"Em um país como o Brasil - mas é algo que se vê em vários países latino-americanos, incluindo a Colômbia - há uma estrutura fiscal que depende muito de impostos indiretos, taxas sobre o consumo e impostos muito altos sobre eletricidade. E quando se herda uma fortuna, se paga 0% ou 2% em impostos. Isso tem que ser mais equilibrado. Não dá para pagar 20% ou 30% de impostos na conta de luz e e 0% ao receber uma grande fortuna de família".

Commodities e ganhos sociais

"Está claro que os preços das commodities tiveram um papel grande nos altos e baixos de muitos países da América Latina nos últimos 15 anos. O que é realmente importante é usar os períodos de preço alto para investir em outros setores, e isso é algo que não se fez tanto quanto deveria.

Mas em alguns países os preços das commodities não são a única razão para o desempenho em nível social. Penso em algumas reformas educativas, como a introdução do Bolsa Família e o salário mínimo no Brasil".

Venezuela

"A Venezuela é um caso muito triste. Há um acordo de que o dinheiro proveniente do petróleo provavelmente foi usado de forma mais equitativa para financiar investimento social no governo Chavez do que nos anteriores. E de certo modo isso é positivo.

Mas ao mesmo tempo, olhando pro futuro, não investiram apropriadamente em setores alternativos ao petróleo. E mais importante, tiveram muita pouca democracia, muito pouca transparência e ataques à neutralidade do instituto de estatísticas e aos meios de consumicação".

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCâmbioEconomistasEuroMoedas

Mais de Economia

Coluna: Potenciais impactos da estiagem neste ano no Brasil

Foz do Amazonas: Alcolumbre se reúne com presidente da Petrobras e diz que Ibama 'boicota país'

BC da Argentina faz 7º corte de juros no governo Milei; taxa vai a 35% ao ano

Pré-sal tem recorde de produção em setembro