Economia

Parente cede à pressão: greve segue, ações despencam

Desde que assumiu a posição na companhia, Parente defende independência na definição dos preços de acordo com variação internacional

Twitter: enquanto isso a oposição aproveita, pela rede social, para pedir a renúncia de Parente, que tem contrato até março de 2019 (José Cruz/Agência Brasil)

Twitter: enquanto isso a oposição aproveita, pela rede social, para pedir a renúncia de Parente, que tem contrato até março de 2019 (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2018 às 06h35.

Última atualização em 24 de maio de 2018 às 09h43.

A decisão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, de reduzir em 10% o preço do óleo diesel por 15 dias, anunciada ontem à noite como medida emergencial para encerrar a greve de caminhoneiros, abre duas questões a serem respondidas nesta quinta-feira. A primeira é o efeito que a redução terá no mercado financeiro. Desde que assumiu o cargo, há dois anos, Parente prega independência total da companhia na definição dos preços de acordo com a variação do petróleo no mercado internacional. Ontem, fez questão de frisar que a política será mantida, mas que toma uma medida de “boa vontade”.

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A decisão não pegou bem no mercado. Na bolsa de Nova York, as ações da empresa chegaram a cair 11% depois do fechamento de mercado. A pressão do governo já havia leva a uma queda de 5,8% nos papeis preferenciais da petroleira ontem na bolsa brasileira. As perdas estimadas por contrariar a livre variação de preços de acordo com preço do barril de petróleo passam de 350 milhões de reais. “Sociedade de economia mista não funciona. Na hora do aperto vão logo apelar para seu papel público”, comentou no Twitter a economista Elena Landau, ex-presidente do conselho de administração da Eletrobras, outra estatal que viveu ontem um dia de caos na bolsa depois de o anúncio de que sua privatização foi abortada. Suas ações caíram 11%.

Enquanto isso, a oposição aproveita, também pelo Twitter, para pedir a renúncia de Parente, que tem contrato até março de 2019 e assumiu em abril a presidência do conselho de outra empresa, a fabricante de alimentos BRF.

A segunda pergunta envolvendo o anúncio é qual será sei efeito prático sobre a greve. Por enquanto, a empresa abriu mão de 350 milhões para nada. As previsões iniciais são de que a greve continua por ao menos um dia. “Não adianta baixar agora e aumentar de novo mais para frente. Eles criaram um caos desnecessário no país”, disse Ariovaldo Almeida Junior, um dos líderes grevistas ao jornal Folha de S. Paulo. “Só com esse anúncio, a paralisação continuará em tempo indeterminado”.

Em outra tentativa de conter os grevistas, a Câmara aprovou na noite desta quarta-feira o projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia. A proposta aprovada também prevê zerar, até o final deste ano, o PIS-Cofins que incide sobre o diesel. A medida, que deve reduzir em cinco centavos por litro o preço do diesel, tampouco demoveu os grevistas. Uma nova reunião com o governo está marcada para a tarde desta quinta-feira.

A ausência dos caminhoneiros nas estradas reflete em serviços comprometidos. Em São Paulo, o Aeroporto de Congonhas só tem combustível até amanhã. Palmas (Tocantins), Recife (Pernambuco), Maceió (Alagoas) e Aracaju (Sergipe) também estão em situação crítica, o que é o suficiente para alterar o funcionamento dos voos em todo o país. Centrais de abastecimento do Sul do país e postos de combustível anunciaram dificuldades. Ônibus municipais circularão com restrições a partir de hoje em diversas capitais, como São Paulo. O abastecimento de supermercados também começa a ficar comprometido.

A dúvida é se a tensão será maior nas filas dos postos de combustível ou entre os investidores da Petrobras.

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