Economia

Meirelles deixa evidente ambição política ao assumir Fazenda

Essencialmente conservador quando o assunto é economia, Meirelles assumirá o ministério do presidente interino Michel Temer, do PMDB


	Henrique Meirelles: essencialmente conservador quando o assunto é economia, Meirelles assumirá o ministério do presidente interino Michel Temer
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Henrique Meirelles: essencialmente conservador quando o assunto é economia, Meirelles assumirá o ministério do presidente interino Michel Temer (Paulo Whitaker/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2016 às 11h43.

São Paulo - Henrique Meirelles está voltando a Brasília, agora como ministro da Fazenda, novamente com a tarefa de ajudar a colocar a atividade nos eixos e recuperar a confiança de agentes econômicos, mas deixando ainda mais evidente seu perfil político em busca de espaços.

Essencialmente conservador quando o assunto é economia, Meirelles assumirá o ministério do presidente interino Michel Temer, do PMDB. Esse foi o segundo partido ao qual se filiou.

O primeiro foi o PSDB, legenda pela qual elegeu-se deputado federal por Goiás em 2002.

Mas foi seduzido pelo desafio de assumir o Banco Central em 2003, num momento em que os mercados financeiros reagiam muito mal ao fato de o petista Luiz Inácio Lula da Silva ter vencido a eleição presidencial.

Meirelles abriu mão de assumir sua cadeira na Câmara e, claro, deixou de ser tucano.

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob seu comando, em janeiro de 2003, elevou a taxa básica de juro Selic em 0,5 ponto percentual, para 25,50% e, nas seguintes, a levou a 26,50% --teto da taxa básica de juros em seu mandato que durou oito anos e o tornou o presidente do BC mais longevo da história brasileira.

A ortodoxia na condução da política monetária sempre rendeu duras críticas de muitos petistas.

Não era raro ir a audiências públicas no Congresso e ser bombardeado por parlamentares da base governista e elogiado pela oposição.

Nos primeiros anos à frente do BC, contou com a blindagem política do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Após a saída de Palocci no início de 2006, e tendo como pano de fundo a inflação mais controlada e a economia em expansão, Meirelles conseguiu se aproximar mais de Lula.

Mas recebeu de presente a oposição de Guido Mantega, escolhido para substituir Palocci na Fazenda, e com quem trocou críticas pelos anos seguintes.

Política no Sangue

Neto e sobrinho de políticos goianos, Meirelles nasceu em Anápolis (GO) em 31 de agosto de 1945, formou-se em engenharia.

Passou muitos anos no mundo corporativo, entrando na década de 1970 no BankBoston, onde construiu uma carreira bem-sucedida nos EUA, chegando a presidente mundial do banco.

Mas só no início dos anos 2000 decidiu entrar de fato na vida política brasileira, filiando-se ao PSDB. Meirelles é muito admirado pelos mercados financeiros por sua ortodoxia.

À frente do BC, ele entregou por três anos a inflação abaixo do centro da meta oficial e adotou uma política que elevou as reservas internacionais em 250 bilhões de dólares.

Para não dizer que sua imagem nunca foi arranhada diante de investidores, no fim do segundo mandato do presidente Lula, Meirelles filiou-se ao PMDB, não antes de namorar bastante com o PP.

Diziam, nos bastidores, que sua meta pessoal era mudar seu endereço de trabalho para o Palácio do Planalto, como vice-presidente da então candidata Dilma Rousseff.

Nesse período, travou uma disputa surda no partido com Temer, que acabou escolhido para compor a chapa nas duas eleições de Dilma.

Muitos no mercado consideraram estranho ter um presidente do BC, que não tem independência formal no Brasil, filiado a um partido político. Hoje, Meirelles está no PSD.

Com o acirramento da crise econômica nos últimos dois anos, sobretudo no campo fiscal, Meirelles negociou também com Lula para voltar ao governo do PT.

No fim do ano passado, chegou a fechar com o ex-presidente e até com Dilma sua ida para o Ministério da Fazenda no lugar de Joaquim Levy.

Mas os planos não saíram do papel. De um lado, Dilma nunca gostou de Meirelles, e de outro, o ex-presidente do BC perdeu o ânimo de participar de um governo cada vez mais atingido pelas investigações da operação Lava Jato.

Nelson Barbosa acabou assumindo a Fazenda e Meirelles passou a negociar também com Temer.

Meirelles ajudou o Brasil na década passada a dar saltos importantes, como chegar ao grau de investimento concedido por agências de classificação de risco e passar pela crise financeira de 2008/09 sem grandes arranhões, onde pela primeira vez adotou uma política anticíclica via juros para estimular a economia.

Vaidoso, o novo ministro é também bastante duro e exigente quando o assunto é trabalho, com posições fortes.

Meirelles vinha presidindo o Conselho de Administração da J&F Investimentos, holding que controla a empresa de alimentos JBS, e participava do Conselho da Azul Linhas Aéreas.

Matéria alterada no dia 13/05/2016 para corrigir informação de que Henrique Meirelles teria estudado administração em Harvard.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralExecutivos brasileirosHenrique MeirellesLuiz Inácio Lula da SilvaMDB – Movimento Democrático BrasileiroMercado financeiroMichel TemerPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

FGTS destina R$ 142 bi para habitação, saneamento e infraestrutura em 2025

Consumo nos supermercados cresce 2,52% no acumulado do ano

Desemprego no Brasil cai para 6,4% em setembro, segunda menor taxa da história

Conselho do FGTS deve aprovar hoje orçamento de R$ 152 bi para 2025