Economia

Elétricas trocam equipamento na rede de transmissão por risco de explosões

As trocas deverão movimentar a indústria fornecedora nos próximos anos; cada equipamento custa entre R$ 50 mil e R$ 100 mil

Transmissão de energia: Risco de explosão leva empresas de distribuição de energia a trocar equipamento (Divulgação/Exame)

Transmissão de energia: Risco de explosão leva empresas de distribuição de energia a trocar equipamento (Divulgação/Exame)

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Reuters

Publicado em 1 de julho de 2019 às 17h41.

Última atualização em 1 de julho de 2019 às 17h49.

São Paulo — Empresas de transmissão de energia no Brasil estão iniciando processos para substituir centenas de unidades de um equipamento da norte-americana GE em suas redes, após um órgão técnico do setor elétrico ter recomendado as trocas por identificar um número atípico de explosões do produto.

O pedido do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no início do ano, veio depois de registrados 53 casos de explosões de transformadores de corrente do modelo CTH-550 com determinados padrões de fabricação (R6 e R7), uma "concentração de ocorrências" que levou a um estudo detalhado sobre os incidentes.

As trocas deverão movimentar a indústria fornecedora nos próximos anos, com algumas grandes empresas já abrindo licitação para as compras, ao mesmo tempo em que elétricas e a fabricante seguem em negociações sobre como tratar prejuízos decorrentes das falhas.

O diagnóstico do ONS apontou que pode haver até mais de 660 transformadores desse modelo na rede brasileira. Cada equipamento custa entre 50 mil e 100 mil reais, de acordo com uma fonte da indústria. "Em última análise, identificou-se que é de fato um problema do fabricante. As concessionárias adquiriram um produto que aparentemente, segundo os relatórios, possui alta taxa de falhas", disse à Reuters o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa.

A transmissora Taesa , controlada pela estatal mineira Cemig e pela colombiana ISA , iniciou processo para trocar todos os TCs do modelo em sua rede, disse à Reuters o presidente da companhia, Raul Lycurgo Leite, que prevê a conclusão do trabalho até o final de 2020. "Não é um equipamento de prateleira", explicou o executivo, destacando que as manobras para troca também exigem combinação prévia com o ONS para evitar transtornos na operação do sistema elétrico.

Antes mesmo disso, acrescentou ele, a Taesa isolou em suas subestações a área em que ficam os equipamentos, com uma sinalização laranja para que funcionários mantenham-se afastados devido ao risco de explosão. "Não chega a ser um equipamento tão caro dado o tamanho das empresas de energia. O risco que ele pode gerar sem ser trocado é infinitamente maior", afirmou.

Ainda assim, a Taesa e outras elétricas têm mantido conversas com a fabricante GE e com a Aneel para avaliar eventuais meios de reduzir os prejuízos com essas substituições.

A elétrica Furnas, da estatal Eletrobras , já abriu uma licitação para a compra de novos TCs, com previsão de concluir as trocas também até o final do próximo ano, disse a empresa em nota à Reuters. Em paralelo, a estatal disse que "solicitou à GE a substituição das unidades do referido modelo e está em tratativas com a empresa". "Para garantir a manutenção e confiabilidade de suas instalações, e atendendo à recomendação do ONS, Furnas decidiu substituir todos os TCs do modelo CTH 550 R6 e R7 que existem em suas instalações", afirmou.

A chinesa State Grid [STGRD.UL], que tem grande presença no setor de transmissão do Brasil, também confirmou à Reuters que foi afetada e está tomando providências "junto a outras empresas do setor". "A State Grid é signatária de uma carta que está com a Aneel, na qual se comprometeu com a substituição dos transformadores", afirmou a empresa em nota.

A estatal paranaense Copel , por sua vez, irá substituir os TCs "de forma escalonada, entre 2020 e 2022", com a escolha dos novos equipamentos por meio de licitação pública. "Houve alguns contatos com a GE, de viés técnico, a respeito dos casos de explosões", acrescentou a companhia, sem detalhar.

Procurada, a GE disse que ainda está trabalhando para entender a "causa raiz" do problema nos TCs e em conversas para definir os próximos passos em relação a seus clientes. "A GE Grid Solutions realizou inúmeras investigações internas de seus equipamentos junto aos seus clientes e, até o momento, não há evidências de que os incidentes tenham sido causados ​​pelo design, componentes ou processos de fabricação do produto em questão", afirmou, em nota.

"Qualidade do produto e segurança das pessoas são prioridades para a GE, e levamos muito a sério qualquer relato de incidentes com equipamentos. Continuamos a trabalhar minuciosamente com nossos clientes e com os principais órgãos governamentais brasileiros para determinar a causa raiz do problema, incluindo condições operacionais de rede", acrescentou.

Prejuízos

Em meio ao processo já iniciado para as substituições dos equipamentos e às conversas com a GE, as elétricas também têm tentado convencer a Aneel a isentá-las de perdas financeiras devido à saída de operação de suas instalações após as explosões ou durante as substituições.

A disponibilidade das instalações é um fator crucial para a rentabilidade das empresas de transmissão, e a saída de uma subestação ou linha de operação mesmo que por momentos breves pode corroer significativamente os ganhos das empresas, disse o presidente da Taesa.

Furnas disse que pediu à Aneel uma isenção da aplicação desses descontos, conhecidos como Parcela Variável por Indisponibilidade (PVI) "em razão do eventos relacionados a incidentes com os referidos TCs e aguarda a decisão".

De acordo com Sandoval Feitosa, diretor da agência, deverá haver um tratamento especial para a troca dos transformadores de corrente, mas não para os casos em que já foram registradas os incidentes.

"Nós damos um incentivo para que as transmissoras façam essas trocas, mas em uma eventual falha desses equipamentos, como o ato de explosão por exemplo, a transmissora vai ter que arcar com a PVI, porque ela que decidiu comprar o equipamento", afirmou.

"Nós não temos nenhuma gerência sobre a aquisição dos equipamentos, é uma decisão empresarial de cada empresa", acrescentou. Durante as trocas, explicou ele, as transmissoras não sofrerão prejuízos devido à indisponibilidade das instalações.

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