ONU: Brasil foi "um dos países mais exitosos em reduzir a desigualdade nos últimos oito anos" mas continua entre os piores (Carlos Magno/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
San José - O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) advertiu nesta quinta-feira que a desigualdade é uma séria ameaça para o desenvolvimento da América Latina, apesar de citar avanços alcançados pelo Brasil nos últimos oito anos, em um relatório divulgado em San José.
"A América Latina e Caribe é a região mais desigual do mundo", afirma o relatório. "A alta e persistente desigualdade constitui um obstáculo para o avanço social da região. Ela freia o desenvolvimento humano".
Na região, "existem mecanismos tanto em nível doméstico quanto no sistema político que reforçam a reprodução da desigualdade" de uma geração a outra, diz o estudo.
O PNUD afirma que "é possível reduzir a desigualdade na região mediante ações concretas, integrais e eficazes, com políticas públicas que tenham alcance, amplitude e envolvimento dos cidadãos".
"Os planos contra a pobreza não são suficientes, são necessárias políticas contra a desigualdade", disse o coordenador do relatório regional, Luis Felipe López Calva, ao apresentar o estudo em uma coletiva de imprensa em San José.
O relatório destaca que 10 dos 15 países mais desiguais do mundo estão na América Latina e Caribe, e que, na região, os mais desiguais são Bolívia, Haiti e Brasil. No entanto, López esclarece que o Brasil foi "um dos países mais exitosos em reduzir a desigualdade nos últimos oito anos".
Por outro lado, os países com mais igualdade na região são Argentina, Costa Rica, Uruguai e Venezuela, de acordo com o PNUD.
A educação, o emprego formal e salários mínimos adequados, assim como acesso a serviços públicos, permitiriam reduzir a desigualdade, segundo o primeiro Relatório Regional sobre Desenvolvimento Humano para a América Latina e o Caribe 2010, que adverte que "a desigualdade reproduz desigualdade".
"A desigualdade é uma herança na América Latina", afirma López, economista-chefe do PNUD no tema da Pobreza na América Latina.
A desigualdade favorece "o clientelismo político, a corrupção e o frágil compromisso com a ação pública", disse, por sua vez, Isidro Soloaga, outro coordenador do relatório regional do PNUD.
Soloaga destacou que na região, os impostos incidem principalmente sobre o consumo, o que afeta os mais pobres, e não sobre a renda, como ocorre nos países desenvolvidos.
O relatório diz que alguns "programas como Comunidades Solidárias Urbanas de El Salvador ou Chile Solidário incorporaram alguns elementos dessa visão política" para combater a desigualdade.
O relatório adverte que o peso da desigualdade é tão alto na América Latina que se o Índice de Desenvolvimento Humano mundial, que o PNUD avalia anualmente há duas décadas, fosse corrigido levando em conta esse aspecto, a região cairia "mais de 15%" em seu nível de desenvolvimento humano.