Fernando Haddad: m evento sobre o Bolsa Família, o presidente Lula disse que a economia não cresceu "nada'' no último trimestre (Ministério da Fazenda/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 2 de março de 2023 às 16h18.
Última atualização em 2 de março de 2023 às 16h18.
Após resultado do PIB no quarto trimestre do ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que o governo não está considerando um eventual cenário de recessão na economia brasileira. Ele, porém, reafirmou sua preocupação com a taxa de juros em patamar elevado e o efeito de desaceleração na atividade econômica. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também criticou a taxa de juros, hoje em 13,75%.
"Estamos em uma curva descendente agora e todo desafio do Ministério da Fazenda é reverter este quadro e promover uma curva ascendente no crescimento do PIB. Não estamos trabalhando com perspectiva de recessão, mas evidentemente a manutenção desse patamar nas taxas de juros desencadeia uma desaceleração da economia", disse Haddad.
No quatro trimestre de 2022, o PIB registrou queda de 0,2%. No ano, o país cresceu 2,9%, com impulso da reabertura econômica após o período mais restritivo da pandemia.
Em evento sobre o Bolsa Família, o presidente Lula disse que a economia não cresceu "nada'' no último trimestre.
"Hoje foram publicados os dados do último trimestre do ano passado. A economia não cresceu nada. Nosso desafio é fazer a economia voltar a crescer. Não vamos permitir obras paralisadas. Estradas, pontes, ferrovias. Essas obras têm que continuar".
Mais cedo, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo espera o que chamou de "sinal positivo" do Banco Central na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa básica de juros. O encontro do BC para discutir a Selic está marcado para os dias 21 e 22 deste mês.
"É um somatório para mostrar que estamos fazendo dever de casa com o PIB, apesar de ser do ano passado, se mostrou positivo a ponto de podermos estar num diálogo com o Banco Central e com o Copom, mostrando que a inflação não é por demanda. Tivemos crescimento acima das expectativas e estamos fazendo o dever de casa. Consequentemente é possível um gesto, não queremos nenhuma generosidade, mas um gesto positivo a favor do Brasil na próxima reunião do Copom", disse a ministra.
Na quarta-feira, Tebet afirmou que o governo está fazendo um “esforço concentrado” para mostrar ao BC que é possível reduzir os juros no país.
Haddad disse ainda que tem tomado medidas que vão ao encontro do "desejo do BC" de reduzir os juros.
"Nós temos uma grande oportunidade esse ano de reverter este quadro de desaceleração sem prejudicar a população de baixa renda, que está sendo atingida por programas importantes, como o Bolsa Família lançando hoje, sobretudo as crianças que vão passar a receber R$ 150 por mês", declarou o ministro.
O Ministério da Fazenda avaliou que o cenário externo e a taxa de juros em patamar elevado foram os principais fatores para a desaceleração da atividade econômica no Brasil, sobretudo partir do segundo semestre do ano passado. Em nota, a pasta também aponta que a "rigidez” da política monetária será um dos fatores negativos para o PIB de 2023.
“A desaceleração acentuada do ritmo de crescimento em 2022, com retração já observada no último trimestre, repercute, sobretudo, a reduzida liquidez no ambiente externo e o ciclo contracionista da política monetária. O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração”, diz a nota.
Para controlar a inflação, a taxa básica de juros no Brasil saiu de 9,25% no início de 2022 e terminou o ano em 13,75% — atual patamar. No cenário global, o ciclo de aperto monetário (subida dos juros) continua em países como EUA e potências da União Europeia.
No dia em que anunciou a reoneração parcial na gasolina e etanol, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a taxa de juros elevada é um dos principais problemas econômicos no país e citou o efeito da desaceleração da atividade econômica.
O ministério reconhece que o cenário de desaceleração no ano passado foi parcialmente “contrabalanceado” pelo setor de serviços — estimulado pela transferência de renda (sobretudo o Auxilio Brasil), a liberação do FGTS e o crescimento da massa salarial ao longo do ano.
Por outro lado, nos últimos meses do ano, a pasta ressalta a “forte desaceleração” do setor de serviços e a queda no PIB do setor industrial, conforme os dados do IBGE. Em relação à demanda, o destaque foi para a desaceleração no consumo das famílias e governo, além de queda nas exportações, por exemplo.
Em 2023 a Fazenda espera impacto positivo na atividade econômica com medidas do Governo Lula, como o reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo e a elevação da faixa de isenção do imposto de renda para pessoas físicas. Negativamente, a pasta também aponta para a restrição monetária, além de outros fatores.
“Podem pesar negativamente para a atividade o aumento da rigidez da política monetária a nível mundial, reduzindo o ritmo de crescimento da economia global e, consequentemente, a contribuição do setor externo para a atividade doméstica e a piora das condições de crédito bancário e não-bancário decorrente das altas taxas de juros domésticas, dificultando a rolagem de dívidas e o acesso a capital de giro pelas empresas”, diz a nota.