Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, é o grande arquiteto e defensor do teto (.)
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de outubro de 2016 às 16h07.
Última atualização em 13 de dezembro de 2016 às 15h49.
São Paulo – A PEC do Teto de Gastos define que a partir de 2017, as despesas de Executivo, Legislativo e Judiciário federais não podem ter aumento real, estando limitadas à correção pelo índice de inflação (IPCA) nos 12 meses até junho do ano anterior.
É uma medida que muda radicalmente a trajetória fiscal brasileira e a discussão sobre seus méritos e problemas vai muito além do Congresso.
Entenda o que está em jogo através de 5 frases de outubro:
A simplicidade é um dos méritos da PEC 241. Com menos de três páginas, o texto define claramente as poucas exceções para o teto e as consequências em caso de descumprimento.
Entre elas estão o bloqueio de realização de concursos, de aumento salarial para servidores e de novos benefícios tributários que impliquem perda de receita.
A medida é dura porque a situação também é. A dívida pública subiu 15 pontos percentuais só entre o final de 2013 e de 2015, atingindo 66% do PIB e podendo chegar a 73% já no final de 2016, muito acima da média dos países emergentes.
O próprio Banco Central cita, em sua última ata, o avanço das reformas fiscais como elemento importante para o processo de desinflação que permitirá uma queda mais rápida dos juros e a retomada do crescimento econômico.
Até alguns economistas que apoiam a medida consideram o prazo de 20 anos muito longo – nenhum país na história tentou um aperto tão rígido, tão abrangente e por tanto tempo.
Para Meirelles, o efeito seria “inócuo” se o prazo fosse menor pois “no momento em que a dívida começa a se estabilizar para cair, já estaria terminado o prazo de vigência da PEC”.
Mas como Temer sugeriu, a iniciativa pode não sobreviver a uma nova conjuntura política. Aprovar (ou revogar) uma emenda constitucional não é fácil, mas tampouco é fácil imaginar que um Congresso gastador como o nosso continuaria se amarrando mesmo diante de sobras de receita.
A PEC define que quando o Congresso quiser aumentar recursos de uma área, vai precisar tirar de outras - mas sua liberdade para isso é limitada.
Mais de 40% dos gastos federais vão para pagamento de aposentadorias e outros benefícios do INSS, obrigatórios por lei e que não podem ser cortados. E na medida que a população envelhece, a tendência é que esse peso só aumente.
No melhor cenário, a aprovação do teto cria pressão para que uma Reforma da Previdência passe no início do ano que vem. No pior cenário, os gastos com aposentadorias continuam crescendo e exigem um arrocho crescente dos investimentos e de outras áreas sujeitas a cortes.
Segundo Velloso, Agricultura, reforma agrária, justiça e relações exteriores são possíveis alvos.
Educação e Saúde terão um piso corrigido pela inflação e não mais vinculado a receita; a dúvida é se o Congresso vai se dar por satisfeito com esse patamar ou vai escolher privilegiar essas áreas e cortar de outras.
A PEC determina que o índice de correção dos gastos só poderá ser revisto no décimo ano, mesmo se a economia e a receita do governo se recuperarem rapidamente antes disso.
Caso isso aconteça, os gastos cairiam em ritmo acelerado como proporção do PIB e o superávit primário atingiria níveis bem maiores do que os necessários para estabilizar a dívida.
“Se o país voltar a crescer, nada mais justo e desejável que a sociedade se beneficie disso, sobretudo com mais e melhores políticas públicas. Não se deve almejar fazer primário por fazer primário”, defende um artigo publicado pelos economistas Monica de Bolle e Felipe Salto.
Uma estimativa do Itaú Unibanco aponta que mesmo se o PIB crescer menos de 3% por ano, a despesa primária poderia cair de cerca de 20% do PIB em 2016 para 15% do PIB até 2030.